Ordens.

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Billie's POV

Estávamos apenas eu e ele na sala. Eu ainda não tinha dito uma palavra desde que Anne saiu com os dois guarda costas. Mais dois deles estavam ainda posicionados no quarto. Um na porta e um próximo a ele. Eu só conseguia pensar que poderia morrer a qualquer momento.

O pai de Anne caminhou lentamente até o pequeno barzinho do quarto. Pegou dois copos de whisky e serviu. Foi até mim e me entregou um copo.

- Esse é um Royal Salute de 21 anos. Experimente. - ele colocou o copo a minha frente. Minhas mãos estavam trêmulas. - Um whisky escocês. Um dos melhores.

Só queria que ele terminasse aquele papo furado e me dissesse logo o que faria comigo.

- Obrigada. - falei com a voz baixa, quase inaudível.

- Srta. Eilish... você parece ser uma mulher inteligente. - ele se sentou na poltrona do quarto. - Com certeza sabe que tudo se vem com um preço nessa vida. Não seria diferente no meu negócio que eu tão bem preservo há mais de 30 anos.

Eu assenti.

- Pois bem. - ele continuava. - Minha filha parece se importar com você e eu não acho que ela ainda esteja preparada para lidar com a dor de uma perda. Ninguém nunca está... Se eu posso poupar que ela sinta essa dor, por que não pouparia? - ele deu uma longa pausa em seu discurso. - Afinal, ela ainda é minha filha.

Eu apenas assentia, não sabia o que proferir.

- Então, será o seguinte... se você quiser continuar respirando e vivendo sua vida, você irá fazer o que eu mandar. Começando por trabalhar para mim. - nesse momento, eu engoli o seco. - Afinal, não poderia simplesmente liberar você de toda essa bagunça sabendo de tudo que você sabe. Se for pra deixar você viva, você precisa ser útil.

- Senhor... como eu faria isso? - perguntei incrédula.

- Não se preocupe com as acusações. Todos os policiais com acesso a essa ilha fazem parte dos negócios. - não me surpreendeu o fato dos policiais serem corruptos. - Você irá voltar para a cidade com a gente. Terá onde morar e terá tudo o que precisar para sobreviver. Entretanto, precisa sempre estar a minha disposição.

Fiquei em silêncio por alguns segundos. Ele não estava me dando escolhas, eu não tinha alternativas. Mas eu precisava impor uma condição.

- Eu tenho apenas uma condição.

Ele riu sarcasticamente no momento em que eu disse aquilo e se levantou da poltrona se aproximando a mim.

- Srta. Eilish... você não está em posição de impor exigências aqui.

- O meu irmão... ele está vivo?

- Algo próximo a isso. - ele continuava bebendo seu whisky friamente.

- O que você fez com ele?

- Vamos combinar o seguinte... já que esta é a sua condição... faça o que eu mandei e eu não mato você e nem o seu irmão. Por enquanto, ele ficará bem. Você o verá no momento certo.

Não era como se eu pudesse escolher o que aconteceria. Eu já fazia parte de tudo aquilo, de uma forma ou de outra.

- E acredite... - ele continuava. - Dinheiro não será mais um problema para você, Srta. Eilish. Mas como eu disse... tudo tem um preço. Você entende isso?

- Sim, senhor.

Eu disse de repente. Era como se eu falasse antes mesmo do meu cérebro pensar em tudo aquilo. Mais uma vez, eu me via em uma situação onde teria que salvar a minha vida e a do meu irmão.

- Não consigo escutar, Srta. Eilish... - ele dizia com o mesmo tom de frieza na sua voz.

- Sim, eu farei o que o senhor pediu.

- O que eu ordenei. - ele se aproximou de mim mais uma vez. - E nem por um momento pense que você consegue me manipular. Eu sempre estou um passo a frente. Sempre. - ele soava ameaçador. - E mais uma coisa... Se você em algum momento machucar a minha filha de alguma forma, considere-se morta. Você e o seu irmão.

Pensei muito antes de falar o que eu falaria a seguir. Mas disse.

- Já parou para pensar que é você quem está a machucando nesse exato momento? Você costumava ser a pessoa que ela nunca pensaria que machucaria alguém.

Ele se silenciou.

- Nem pense em bancar a moralista, Srta. Eilish. Meça bem as palavras.

- Quanto a Anne, não se preocupe. Eu nunca, nunca machucaria a sua filha. Em nenhuma hipótese.

- É bom saber disso. - Ele encheu seu copo novamente. - Isso faz me lembrar de algo... qualquer envolvimento amoroso de vocês acaba aqui. - aquela frase me paralisou. - Eu não vou submetê-la a esse tipo de perigo. Você se envolverá com coisas que ainda não imagina.

- Sim, senhor. - essa era a única resposta possível, afinal.

- E quando chegarmos a cidade, você nunca me viu e nem sabe o meu nome. Estamos entendidos?

- Estamos, sim.

- Arrume suas malas, pois partiremos amanhã bem cedo.

A partir daquele dia, tudo mudaria para mim, mas o pensamento predominante em minha cabeça era Anne. Eu não estava pronta para tudo aquilo. Eu não queria perdê-la, mas também precisava mantê-la em segurança, assim como a mim.

Eu não sabia o que fazer.

Não dei a ele o gostinho de me ver chorar naquele momento. Engoli o choro, tentei me transparecer resiliente. Era muito difícil com Shawn morto bem ao meu lado.

Naquele momento eu me dei conta de que ele era apenas um garoto, era uma vítima, em busca de uma vida melhor. Mesmo diante de tudo que havia acontecido, consegui sentir empatia pelo Justin. Era o seu irmão ali jogado. Ele nunca mais o veria.

Eu nem consigo imaginar passar por essa dor. Apesar de tudo que o Finneas fez, ela era o meu irmão. Eu o amava.

A partir do dia seguinte, toda a rotina que eu costumava conhecer viraria de cabeça para baixo.

Verão Azul (Billie Eilish)Onde histórias criam vida. Descubra agora