Perspectiva.

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- Você não deveria ter vindo aqui.

Justin estava parado a poucos centímetros de mim, segurando uma arma apontada para minha cabeça. Billie estava um pouco mais atrás, presa a uma cadeira e com a boca tapada por um adesivo. Shawn estava de pé ao seu lado. Coloquei as duas mãos para cima lentamente e meu coração parecia que sairia pelo peito a qualquer momento.

- Justin... por favor, abaixa a arma. - falei tentando manter a calma. Billie estava inaudível, mas dava pra ver seus olhos lacrimejando. - Por favor, vamos conversar. Me explica o que está acontecendo...

Apenas naquele momento pude observar a minha volta. O local era amplo, com pouquíssima luz, cheio de caixas e um cheiro abafado.

- Você estragou tudo, você apareceu e estragou tudo. - ele dizia com a arma ainda apontada para mim.

*Flashback On - Um dia Antes da Chegada de Anne a Ilha*

Billie's POV

Meu turno havia sido extremamente cansativo naquele dia, mais uma vez eu tive que cobrir uma das horas do Finneas para que ele não perdesse o emprego. Ou melhor, para que nós não perdêssemos o emprego. Minha mente estava um caos, eu tinha diversas coisas para resolver, coisas pelas quais eu não tinha qualquer controle.

Vi o Justin se aproximando do balcão do bar que eu estava terminando de limpar para sair. Ele estava sério.

- O que é? Eu estou trabalhando. - falei.

- Você sabe do que se trata, Billie. - fiquei em silêncio. - Eu tenho uma solução para o seu problema.

- Do que você está falando?

- Amanhã teremos novos hóspedes no hotel. Uma dessas famílias é simplesmente uma das famílias mais ricas de Nova York. Você sabe o que fazer.

- Não. - falei imediatamente.

- Você não tem escolha. É isso, ou terá problemas maiores.

- Eu mal te reconheço, Justin... Você... Eu sinto falta de quem você costumava ser. - falei nitidamente abatida.

- Eu sempre fui essa pessoa, você só não conhecia meus "demônios". Agora você conhece. As pessoas só mostram o que convém, Billie. Quando você aprender isso, você seguirá em frente.

Justin saiu do meu campo de visão, me deixando atônita com meus pensamentos. Não pude evitar que uma lágrima escapasse. Faziam alguns meses desde que toda minha vida na ilha havia virado de cabeça para baixo, desde que descobri coisas que eu jamais queria ter descoberto.

Há pouco mais de dois anos, Justin e Finneas construíram uma cabana em um local afastado do hotel. Eu só descobri da existência dessa cabana há alguns meses, porque encontrei fotos. Quando descobri, eles meio que tiveram que me contar. Diziam que se tratava de um lugar para descanso, longe de tudo aqui, já que literalmente vivíamos na ilha. No início, eu achei a ideia incrível, obriguei que eles me levassem até lá e com o passar do tempo comecei a levar alguns amigos também para curtimos. Era bom escapar um pouco do hotel. Depois de um tempo, você começa a se sentir enclausurado. Mas Justin ficava puto quando eu levava pessoas e até então eu não entendia o motivo.

Em uma noite de bebedeira, acordei na cabana de madrugada e todos estavam apagados. Acabei machucando meu pé em algo por baixo do tapete e descobri a passagem. A partir daquele momento, tudo virou de cabeça pra baixo. Eu desci a escada e encontrei diversas caixas. Caixas com milhares de pequenos sacos contendo partículas de pedrinhas de cor azul.

Eram drogas, milhares de drogas. Mas não qualquer droga. Uma droga extremamente cara, feita através de Metanfetamina.

Nitidamente não se tratava de algo pequeno. Andei mais um pouco e vi uma porta. Adentrei e me dei de cara com um enorme laboratório clandestino. Eles estavam produzindo drogas na ilha. Naquela mesma noite Finneas me encontrou ali embaixo. Ele parecia assustado e preocupado com o fato de eu ter visto aquilo. Eu estava em choque. Ele estava envolvido naquilo e me fez prometer que guardaria aquele segredo. Eu não pude acreditar que ele foi capaz de se submeter a algo daquela magnitude. Ele repetia que queria dar uma vida melhor para mim e para nossa mãe.

Finneas chorava e implorava para que eu não contasse, pois nem mesmo o Justin tinha controle sobre aquilo. Eram pessoas grandes e muito ricas por trás. The Bozz era como eles chamavam o verdadeiro mentor de todo aquele projeto. Uma pessoa que eles nunca haviam visto ou falado. Apenas através de terceiros. As drogas eram produzidas na ilha e enviadas para as metrópoles através das embarcações de saída dos hóspedes. Tinham muitas pessoas envolvidas, inclusive outros funcionários do hotel e das embarcações.

Ou seja, o hotel na ilha precisaria existir para que o trajeto das embarcações funcionasse.

Pouco tempo depois, Finneas começou a consumir a droga que eles chamavam de Bluestorm. Isso o afetou em níveis que não tínhamos mais o controle. O vício ocorreu rapidamente, a ponto de eu ter que cobrir suas horas no trabalho, ao ponto de ele se perder na ilha e eu ter que ir procurá-lo diversas vezes. Eu fiquei exausta e sequer podia desabafar aquilo com alguém. Tudo fugia do meu controle.

Eu culpava o Justin por ter envolvido o meu irmão naquilo. Eu me negava a culpá-lo até me dar conta de que Finneas se submeteu aquilo por uma escolha própria.

Justin descobriu o vício de Finneas ao notar que centenas de sacos de Bluestorm vinham sendo furtados durante a semana, isso perdurou por meses e causou uma baixa nos lucros dos milionários envolvidos naquele esquema. Justin foi cobrado pelo seu superior por uma dívida que passavam dos 3 milhões de dólares.

E assim... começa o meu pesadelo. Quem pagaria aquela dívida?

Justin cobrou de mim, pois nitidamente Finneas não estava mais em condições de ao menos estar consciente na maior parte do dia. Ele começou a consumir outros tipos de drogas para preencher o vazio da Bluestorm, mas nada adiantava. Justin o chutou do esquema e fez questão de me dizer:

"Você deveria me agradecer, pois eu poderia simplesmente matá-lo."

Aquela frase ficou na minha cabeça desde o momento em que ouvi. Era por esse motivo que Justin queria que eu desse um jeito de furtar algum dos milionários da ilha. Eu precisava pagar a dívida, ou eu e o Finneas morreríamos. Aliás, o Justin também estava muito encrencado, seus superiores já tinham o ameaçado. E assim, ele me ameaçava também e me obrigava a fingir que ainda mantínhamos uma amizade.

Fiquei alguns minutos ainda no balcão do bar, pensando e pensando no que eu deveria fazer. Eu realmente não tinha escolha. Aquilo nos amaldiçoaria pelo resto das nossas vidas.

Enviei uma mensagem para Justin no mesmo momento:

"Considere feito."

Verão Azul (Billie Eilish)Onde histórias criam vida. Descubra agora