Recíproco.

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Anne's POV

Dia seguinte.

De longe, vi Billie de malas prontas, se despedindo de alguns amigos da ilha. O meu pai havia me contado que ela voltaria conosco, mas não me deu muitas informações. Não conversarmos desde o momento em que a deixei com ele.

Sim, minha mãe sabia quem era meu pai, em partes. Ela me disse que preferia não saber dos detalhes e que depois de um tempo, eu iria desejar não saber também.

Eu mal conseguia olhar para eles dois.

A condição para que Lucy continuasse na ilha seria que ela ajudasse o Steve (o gerente, que por sinal, sabia do tráfico de drogas e ganhava muito dinheiro com isso). Lucy seria muito compensada financeiramente. Eu impus essa condição ao meu pai.

Nós não voltaríamos em uma das embarcações da ilha, mas sim em um jatinho particular que já estava a nossa espera um pouco distante do hotel, em uma ampla área de pouso.

De longe, vi Billie sorrindo para mim. Era um sorriso triste, parecia querer me dizer algo. Nossos celulares haviam sido confiscados por um tempo. Claro que por ordem do meu pai.

Eu precisava dar um jeito de conversar com Billie para que ela me explicasse tudo o que conversaram.

Estávamos todos entrando no jatinho. Eu, minha mãe, meu irmão, meu pai, Billie e os quatro guarda costas.

- O que você fez com o Justin? - perguntei assim que entramos na aeronave.

- Aprenda uma coisa, querida... Fique longe disso. - foi a única coisa que ouvi do meu pai.

O piloto pediu para que sentássemos e afivelassemos os cintos para a decolagem. Billie estava a quatro poltronas distantes de mim. Era um jatinho de luxo, com poltronas de couro, tv, bar e diversas outras coisas.

Assim que a decolagem iniciou, pude ver a ilha ficando pequena lá de cima. Por um segundo, era difícil imaginar que todas aquelas coisas tivessem acontecido em tão pouco tempo naquele pequeno pedaço minúsculo no meio do oceano.

Mas o mais contraditório disso tudo, é que eu não conseguia me arrepender de nada. No fundo eu sabia o porquê.

Em nenhum outro lugar que eu estivesse, eu poderia encontrar Billie. Ela estava ali, apesar de naquele momento parecer tão distante. No meio daquilo tudo, eu só conseguia desejar seu abraço, seu toque, sua voz. Ela fazia com que eu me sentisse segura.

Na minha inocência, essa ilha significaria uma viagem de verão em família. Ironicamente, eu descobri que sequer conheço a minha família.

Mas ali, no meio do oceano, foi onde eu de fato encontrei o meu verão azul.

***

Havíamos pousado há alguns minutos em Nova York. Estávamos a espera do nosso motorista, Erick. Billie estava distante da minha família. Ela tinha um olhar de receio, preocupação. Eu não via a hora de conseguir ficar sozinha com ela.

O tempo estava aberto em NY, contradizendo bastante o meu humor naquele dia.

Nosso motorista nos levou a até a nossa mansão. Depois de tudo o que tinha acontecido, comecei a achar a minha vida ainda mais fútil do que já achava. Olhei para a grande arquitetura da nossa casa e só conseguia pensar no tráfico que ocorria por trás, da lavagem de dinheiro, das mortes. Eu enxergaria tudo de uma forma diferente agora.

Nossos funcionários pegaram nossas malas e adentraram a casa. Fomos recebidos por Maria, nossa funcionária mais antiga, que coordenava a cozinha.

- Anne, querida! Achei que pegaria algum sol... - a doce senhora me recebia com um abraço. - E também achei que voltaria um pouco mais feliz... - ela disse olhando para minha cara sem entender a minha falta de ânimo.

- Senti saudades. - a abracei. Maria tinha cheiro de casa, de conforto. E era tudo que eu precisava nesse momento. Ela cuidou de mim desde pequena. Eu não a via muito desde que entrei para a faculdade.

De longe, vi um dos funcionários levando Billie aos nossos quartos de visita. Então ela ficaria na nossa casa?

- Srta. Eilish. - meu pai chamou sua atenção enquanto subia as escadas com o funcionário. - Você ficará em nossa casa até encontrarmos um lugar para você.

Olhei para ela e sussurrei um "te vejo mais tarde", vendo ela desaparecer no corredor superior.

                                          ***

Eram 2 da madrugada. Não conseguia dormir. Fazia tempo que eu não dormia no meu quarto, ja que eu havia me mudado para a faculdade faziam alguns meses. Tecnicamente minhas férias ainda não haviam acabado já que encurtamos nossa "viagem".

Minha mente estava uma bagunça. Meus sentimentos confusos sobre Billie eram os maiores responsáveis por isso. Me levantei da cama e abri a porta do quarto. Comecei a andar pelo corredor tentando não fazer barulho, em direção ao quarto de visitas.

Antes disso tudo, eu me sentia segura dentro da minha própria casa, mas isso havia mudado. Parei em frente ao quarto de hóspedes e dei três toques baixos.

Billie abriu devagar e rapidamente me puxou para dentro, antes olhando para os dois lados.

- Anne, isso é perigoso... - ela disse.

- O que vocês conversaram ontem? - perguntei me referindo ao meu pai. - Por que de verdade você está aqui?

- Eu não deveria falar com você sobre isso.

- Billie, por favor. - eu estava em pé e ela estava sentada cabisbaixa na beira da cama. - Não podemos nos distanciar agora.

- Anne, eu não tive escolha. Seu pai me obrigou a trabalhar para ele. Era isso ou... você sabe.

- Eu o odeio tanto. - me sentei ao seu lado. - O que você fará?

- Irei apenas fazer o que ele mandar. Eu preciso.

- No momento, sim. Mas nós pensaremos em um jeito...

- Não, Anne... não tem "nós", ele deixou isso bem claro.

- Como assim?

- Ele deixou claro que não posso me envolver com você e eu não estou em condições de contrariar sua palavra. Ele está com meu irmão...

- Ele está com o Finneas? - perguntei perplexa.

- Sim.

- Billie, olha pra mim... - segurei seu rosto. - Nós vamos ter cuidado,  mas eu não vou abandonar você agora. Não depois de tudo que a minha família fez com você. Não posso deixar que você me odeie...

- Anne... - ela me olhou surpresa com a minha fala. - Eu jamais odiaria você. Você também é uma vítima aqui.

O olhar de Billie me trazia conforto.

- Na floresta, quando você me disse aquelas coisas... você foi sincera?

- Mais sincera do que ja fui em toda minha vida. - um pequeno sorriso de canto se formou em seus lábios.

- É reciproco. - nem acreditei quando essa palavra simplesmente saiu da minha boca. Falei com o meu coração.

Ela levou sua mão até as mechas do meu cabelo, exibindo meu rosto tímido.

- Eu só queria que a gente tivesse se conhecido sem toda essa bagunça... - falei.

- As coisas são como são... - ela me tranquilizou. - O importante é que eu conheci você.

Ela passou o braço ao volta do meu ombro e começou um cafuné em meus cabelos. Só naquele momento eu consegui sentir um pouco de paz.

- Me deixe ficar um pouco aqui. - falei.

Ela se afastou um pouco e deitou na cama, me chamando logo em seguida, pedindo para que eu adentrasse o cobertor junto com ela.

- Vem cá.

Me aconcheguei em seus braços, recebendo carinho em meus cabelos.

Verão Azul (Billie Eilish)Onde histórias criam vida. Descubra agora