Capítulo 36: Por que está chorando?

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Estou furiosa quando sigo em direção a saída. Parece que levei um tapa no rosto, de tão quente que sinto minhas bochechas. Não queria respondê-los. Não queria dar a eles o gosto de saber que ouvi e que aquilo me afetou. Pessoas sem noção existem em todos os lugares e eu sei muito bem disso.

—Ei, gatinha. —Quase levei um susto ao ver que Bernardo estava na saída com Eduardo, provavelmente me esperando. —Que bom que você veio.

Bernardo me abraçou, tirando meus pés no chão. Ele está super suado, mas não me importei com isso quando me senti melhor só de saber que ele se importa comigo. Parece que estou em outra realidade quando estou com ele. Uma realidade perfeita e que certamente não existe.

—Não consegui fazer um gol pra você ainda. Talvez um beijo me ajude a ter sorte. —Ele me soltou e se afastou, com o sorriso diminuindo quando olhou para o meu rosto. Abri um sorriso forçado, porque não queria que ele pensasse que não o queria mais.

—Acho que seu amuleto da sorte não está funcionando bem hoje. —Falei, vendo ele franzir a testa.

—O que aconteceu? Você estava chorando? —Indagou, olhando de relance para onde Eduardo nos esperava, antes de voltar a me encarar.

—Não. —Soltei uma risada fraca, que saiu muito esquisita dos meus lábios, porque eu estava tremendo. Quando passei as mãos nas bochechas, percebi que estava sim chorando. Algumas lágrimas silenciosas e estranhas. —Está tudo bem. Seu jogo já vai recomeçar.

—O que aconteceu? —Ele ignorou os outros jogadores que começaram a sair do vestiário para ir pro campo. —Manu, o que houve?

—Nada! —Insisti, querendo que ele fosse logo. —Vou voltar para as arquibancadas com o Edu. Você tem um jogo pra virar.

—Que se dane o jogo, Manuela! —Ele soltou, parecendo um pouco irritado agora. —Por que você está chorando?

—Bernardo, temos que ir! —Um dos atletas do time o chamou da saída, mas ele não desviou os olhos de mim um segundo sequer, parecendo tão irritado é tão preocupado ao mesmo tempo.

—O que aconteceu, linda? Sabe que pode confiar em mim, não é? —Ele me deu um beijo, como se estivesse com medo que alguma coisa entre nós tivesse mudado. —Por que está chorando?

—Porque você me prometeu um gol e até agora nada. —Tentei soar sarcástica, mas vi que não funcionou quando era soltou um suspiro pesado, sendo chamado pelos outros jogadores de novo. —Bernardo, por favor, vai pro jogo. Depois a gente conversa. Eu estou bem.

—Bernardo, temos que ir! —Os jogadores continuaram a chamá-lo, mas ele estava olhando por cima do meu ombro, para o grupo que vinha da direção dos banheiros. Puta merda, tenho certeza que ele não precisa de mais do que um milésimo de segundo pra entender o porquê de eu estar assim.

—Be, por favor, vamos voltar pro jogo. —Toquei o ombro dele, me inclinando para dar um beijo nele. —Juro pra você que está tudo bem.

—O que eles falaram?

—Nada. Juro pra você, eles não falaram nada. —Prometi, com meu coração tão acelerado que chegava doer no meu peito, martelando na minha garganta sem par sem parar. Bernardo ergueu as sobrancelhas pra mim, os lábios se curvando em algo infeliz.

—Você mente muito mal. —Afirmou, antes de olhar para os amigos atrás de mim. —Qual o problema de vocês?

—Ah, ela já foi chorar? —Uma das garotas soltou uma risada, como se o problema ali fosse eu. —A gente só estava brincando. Não podemos fazer nada se ela se ofende.

—Eu conheço bem o tipo de brincadeira sem noção que vocês gostam de fazer. —Bernardo exclamou, enquanto eu via Eduardo e o restante do time se aproximando, como se sentisse que ia dar merda. Eu me encolhi, constrangida por saber que eles estavam falando de mim.

—Quanto drama, pelo amor de Deus! —Eu olhei para trás, vendo uma garota revirando os olhos. —São só piadas. Nem estávamos falando sério. Você conhece a gente há mais tempo do que ela.

—Bernardo? —Sussurrei o nome dele, praticamente implorando pra que ele olhasse pra mim.

—Já chega dessas piadinhas então. —Felipe tocou o ombro de Bernardo, se aproximando da gente. —Se vocês não tem noção de que algumas piadas são idiotas e ridículas, então é melhor não fazer nenhuma.

—Cara, ela nem olhava na sua cara até uns dias atrás. Ela só falou com você porque precisava! —Um dos garotos disse. Me lembrava da sua voz, falando o que achava de mim. —E nós nem estávamos ofendendo ela. Eu até disse que ela ficava gostosa com esse vestido.

—Agora fodeu de vez. —Escutei Eduardo murmurar, observando Bernardo ficar rígido na minha frente.

Felipe tentou segurar Bernardo, mas ele já tinha passado por mim e ido pra cima do cara. Eduardo me puxou para longe da confusão quando os dois começaram a brigar e o pessoal do time correu para tentar separar, me colocando atrás dele. Tudo aconteceu muito rápido.

Bernardo estava em cima do colega, antes de Felipe o agarrar e puxar para longe, ao mesmo tempo que o juiz do jogo entrava ali apitando e berrando com todo mundo. Desejei que um buraco se abrisse no chão, pra que eu pudesse sumir dali, porque sabia que tudo aquilo era culpa minha. Eu deveria ter simplesmente ido embora e nada disso teria acontecido.

—Chega vocês dois! —O juiz gritou, parecendo furioso. —Vocês estão dentro da universidade e não em um ringue de boxe. Acalmem-se antes que acabem sendo expulsos daqui.

—Ele que começou! —O nariz do cara estava sangrando onde Bernardo o acertou. —Eu não fiz nada!

—Eu não quero saber quem começou o que. Vocês não tem 10 anos e isso aqui não é a casa de vocês pra fazerem o que bem entenderem! —O juiz apontou pra ele, fazendo uma careta ao ver o sangue no seu rosto. —Você, fora daqui. Bernardo pro vestiário. Está fora do jogo. Os outros voltem pro campo, antes que eu perca mais a paciência e de logo a vitória pro time de direito!

Felipe arrastou Bernardo para dentro do vestiário, enquanto os outros forem desaparecendo pouco a pouco. Eu ainda estava encolhida atrás de Eduardo quando ficamos só nós dois no corredor, até Felipe sair do vestiário, negando com a cabeça, antes de correr para o campo.

—Me espera aqui. Vou ver como ele está. —Eduardo pediu, e eu apenas balancei a cabeça positivamente, sem conseguir dizer nada.

Fiquei escorada na parede vendo Eduardo desaparecer dentro do vestiário. A culpa ameaçou me consumir naquele momento, quando percebi que ele tinha sido expulso por arrumar briga por mim. Meus olhos se fecharam com força, antes de eu sair dali e voltar para a casa, querendo que o mundo desaparecesse.



Continua...

Todos os "eu te amo" não ditos / Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora