Capítulo 28: Reação química instantânea.

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Bernardo olhou pra mim quando peguei a garrafa de cerveja, parecendo hesitante por um momento, como se quem fosse beber fosse ele e não eu.

—Tem certeza? —Indagou, me fazendo erguer as sobrancelhas pra ele. —Não quero que fique bêbada pra me provar que confia em mim. Não era exatamente isso que eu quis dizer antes. Eu só quero que você se solte...

Ele parou de falar quando virei a garrafa na boca, sentindo o gosto amargo descendo pela minha garganta. Não era fã de cerveja exatamente porque o gosto amargo não me agradava muito, mas Bernardo tinha razão, mudar as vezes era bom. Eu queria parecer normal pelo menos uma vez na vida. Então bebi mais daquela cerveja, sobre os olhos atentos dele.

—Isso é horrível. —Falei, balançando a garrafa, vendo ele soltar uma risada e então concordar com a cabeça. —Mas acho que posso fazer isso.

—Prometo que vou cuidar de você. —Bernardo afirmou, como se estivesse preocupado. Como se quisesse que eu acreditasse nele desesperadamente. Mas eu acreditava, sem ele precisar prometer ou falar mais de uma vez.

Então eu bebi de novo, pensando no quão fácil era pra Júlia ficar bêbada e fazer o que tinha vontade. Eu podia ser aquela pessoa por uma noite. Talvez na manhã seguinte eu acordasse e percebesse que me arrependia, se sentisse que irritei Bernardo de alguma forma. Mas podia me preocupar com isso amanhã. Queria simplesmente ignorar aquela voz irritante na minha cabeça me dizendo que eu seria um peso desnecessário para Bernardo.

Posso fazer isso. Posso mesmo.

Perdi a conta a partir da terceira cerveja, quando minha mente começou a girar e meu corpo se tornou mais leve. Vou dançar com Érika quando ela me arrastava para o meio de todo mundo, sentindo minha nuca formigar quando Bernardo não tirou os olhos de mim um segundo sequer desde que comecei a beber.

Estou tão feliz por ter a atenção dele em mim, que não me importo com mais nada. Danço com Érika até minhas pernas estarem doendo, bebendo uma vez ou outra até mais uma cerveja acabar. Vi Diogo dançando com uma garota, o que me deixou soltando fogos de artifício por ele enfim estar tentando com alguém que não fosse eu, mesmo que Érika tivesse fechado a cara ao ver aquilo.

Não sei ao certo se respondi certo a Felipe quando ele veio me perguntar se Júlia estava em casa. Acho que soltei murmúrios confusos sobre cinema, Melissa e shopping, antes de vê-lo indo embora cedo demais. Bernardo continuava sentado na mesa, agora junto com Eduardo, olhando na minha direção, dispensando todo mundo que ia chamar. Talvez isso tenha me feito beber mais ainda, porque meu coração parava de bater sempre que ele dispensava uma garota.

—Você vai beber mais? —Érika pareceu surpresa quando pedi outra cerveja no bar, me encarando com os lábios comprimidos. —Acho que está bom pra alguém que nunca tinha bebido antes.

—Falou a garota que pede a noite toda pro irmão liberar uma cerveja. —Falei, soltando uma risada, sentindo uma onda de calor varrer meu corpo quando vi Bernardo ficar de pé e vir na minha direção.

Bernardo

Não sabia o quão rápido uma pessoa que nunca bebeu poderia ficar bêbada, mas Manu deu os primeiros sinais depois de começar a beber a terceira. Não tinha muita certeza se ela estava segura disso, ou apenas querendo provar alguma coisa pra mim e pra ela mesma. Mas iria garantir que nada acontecesse com ela que a fizesse se arrepender. Então quando a vi pedir outra cerveja, sabia que era a hora de intervir.

—Ela não quer mais, obrigado. —Falei para o garçom, que riu ao olhar para a expressão indignada de Manuela quando tirei a cerveja da mão dela. —Hora de ir pra casa. Já passou da hora de criança ir pra cama.

Érika soltou uma risada ao ouvir isso, se afastando para ir até o irmão.

—Eu queria mais! —Ela choramingou, me olhando de cara feia. —Vai se sentar e me deixa beber, chato!

—Não, você já bebeu o suficiente. —Passei o braço ao redor da cintura dela e a puxei para a saída.

—Você não é meu pai e eu quero dançar mais. —Manu tentou parar, me puxando na direção oposta a saída, para a pista onde o pessoal dançava. —Vamos dançar. Você passou a noite toda... a noite toda olhando pra mim em vez de ir lá pegar o que nos dois queremos.

Parei de respirar quando ela abraçou meus ombros, se inclinando para tentar me beijar. Me obriguei a virar o rosto, sentindo os lábios macios pressionando minha bochecha, antes dela se dar conta do que havia acontecido, ao mesmo tempo que uma bomba atômica explodia no meu peito.

—Ei! —Ela se afastou, os olhos enormes vidrados em mim, com as bochechas vermelhas. —Você não quer mais?

—Quero te levar pra casa. —Afirmei, puxando ela de volta para a saída, segurando ela com mais firmeza quando notei que suas pernas pareciam moles.

—Meu Deus. —Ela choramingou, esfregando a bochecha no meu ombro. —Eu acabei de levar um fora.

—Você não levou um fora. —Rebati, saindo do bar com ela, chamando um Uber para que não precisássemos ir andando, mesmo que fosse perto.

—Levei sim. Fui beijar o Bernardo e ele virou a cara como se eu tivesse uma doença contagiosa. —Olhei pra ela, vendo seu rosto fixo em um ponto no chão, enquanto ela balançava o corpo de um lado para o outro. —Será que eu tenho uma doença contagiosa e não sei?

—Claro que não. —Comprimi os lábios para não rir, porque sua expressão era fofa demais ao dizer aquilo. —Vem aqui.

A puxei pra mim, a abraçando, sentindo o cheiro suave que vinha dela. Manuela parecia não usar perfume, mas a simples presença dela era o suficiente para mexer com todas as células do meu corpo. Uma reação química instantânea.

—Então porque o Be não quis me beijar? —Ela fez uma biquinho, enquanto eu abria a porta assim que o Uber chegou.
Coloquei ela sentada e passei o cinto, me inclinando para perto do rosto dela.

—Quero beijar você, Manu. Mas quero que esteja muito sóbria pra se lembrar disso. —Beijei sua bochecha, antes de me afastar e encarar os olhos dela que estavam um pouco pesados enquanto me encarava, parecendo perdida nas minhas palavras.

Mas era eu quem estava perdido, desde o momento que ela cruzou meu caminho com suas roupas coloridas, dois anos atrás.



Continua...

Todos os "eu te amo" não ditos / Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora