Não existe nada pior do que um dia que o mercado está cheio. O movimento excessivo de pessoas nos corredores sempre causa algum problema, como produtos derrubados ou outros para serem colocados na prateleira antes que eles acabem.
Não consegui falar com Júlia quando estávamos lá, porque ela não saiu do caixa um único segundo sequer, ficando com uma cara nada boa o tempo todo. Diogo concordou que ela estava estranha, mesmo que não fizesse ideia do porque, assim como eu. No final do dia ela voltou pra casa antes de mim, me fazendo ficar um pouco frustrada por não ter tido tempo de conversar com ela.
Bernardo havia ido me buscar quando eu disse que iria voltar pra casa sozinha. Não disse não, porque era muito bom sair de lá e o encontrar lá fora me esperando, como se não tivesse nada melhor pra fazer além de me ver. Voltamos conversando pra casa sobre as provas finais e depois de uma longa despedida no corredor em frente as portas de nossos apartamentos, cada um foi para um lado.
—Júlia? —Chamei, fechando a porta do apartamento enquanto encontrava tudo no mais absoluto silêncio, o que era completamente estranho, já que Júlia estava sempre escutando música alta no quarto quando chegava em casa. —Júlia?
Bati na porta do quarto dela, testando a maçaneta e a encontrando trancada. Quando escutei um barulho de algo caindo do outro lado, esperei porque sabia que ela iria abrir a porta. Não demorou nada para que ela aparecesse, ainda com o uniforme do mercado, mas com os cabelos bagunçados e o rosto completamente vermelho de tanto chorar.
—Ei, o que foi? —Me aproximei dela, sentindo meu coração se apertar ao ver os lábios dela tremerem antes de uma onda de lágrimas transbordarem por seus olhos. —Júlia, o que está acontecendo?
Ela balançou a cabeça negativamente, como se não conseguisse falar. Soltei um suspiro pesado e abri os braços, apertando ela contra mim quando Júlia me abraçou na mesma hora, tremendo em uma onda de soluços enquanto eu tentava entender o que diabos havia acontecido pra ela ficar assim.
[...]
—O que aconteceu, exatamente? —Érika questionou pela milésima vez, enquanto eu empurrava o carrinho de compras e enfiava praticamente todos os doces que encontrava pelo caminho.
—Eu já disse, Érika, não posso contar. É pessoal, está bem? —Toquei o ombro de Érika quando ela soltou um muxoxo. —Mas Júlia precisa da gente, então vamos fazer uma festa do pijama e tentar anima-la com esse mundo de porcarias.
—Eu gosto dessa parte. —Ela começou a pegar uns pacotes de salgadinhos e jogar no carrinho também. —Apesar de estar morrendo de curiosidade por dentro.
—Fofoqueira. —Soltei, fazendo ela soltar uma risada. Mas ela não negou em nenhum momento. —Me conte uma fofoca boa então, que eu te conto outra.
—Minha mãe pegou meu pai traindo ela na nossa casa. —Falou, soando tão tranquila com aquilo, enquanto eu me virava pra ela de queixo caído. —Pois é, foi bem escroto da parte dele. Por isso que eles estão se separando. Você já se perguntou porque os homens e as mulheres entram em um relacionamento se pretendem fazer isso?
—Já, mas não cheguei a uma reposta lógica pra isso. —Afirmei, balançando a cabeça negativamente antes de voltar minha atenção para as compras.
—Sabe o que eu acho? —Érika parecia super pensativa. —Que as pessoas entram em um relacionamento apenas pelo status da coisa. Pra poderem dizer quem possuem aquilo, mesmo que não valorizem. Mas isso diz mais sobre o caráter, não é? —Eu a olhei, percebendo que Érika parecia estar batendo a cabeça para achar um sentido pra tudo aquilo. —Tudo bem, sua vez. Me conta uma fofoca.
—Você sabia que seu irmão ficou com a Melissa? —Indaguei, sorrindo quando percebi que eu também havia feito o queixo dela cair. —Aquele dia na praia. Mas foi só uma vez.
—Meu irmão não namora. —Érika afirmou, balançando a cabeça negativamente. —Acho que ele não acredita no amor, porque sempre que alguém ousa ter sentimentos por ele, ele se afasta da pessoa.
—Alguém já partiu o pobre coração do Eduardo? —Indaguei, vendo ela dar de ombros, sem saber a resposta para aquilo.
—Ninguém partiu meu coração. —Levei um susto quando Eduardo chegou até nós duas, colocando algumas garrafas de cerveja no carrinho. —Eu só não gosto de namorar mesmo.
—Eu aposto que isso é mentira. —Érika retrucou, fazendo ele revirar os olhos antes de pegar o carrinho das minhas mãos e começar a empurrar para longe de nós duas. —Alguém já deve ter partido seu coração e você não quer contar. Ou você é mesmo gay e não quer sair do armário.
—Me arrependo todo dia de ter te trazido pra morar comigo, sabia? —Afirmou, ignorando as coisas que ela estava dizendo quando começamos a segui-lo.
—Se arrepende nada, seu bocó. Sou sua irmã favorita. —Érika cutucou as costas dele, com um sorriso muito, muito grande no rosto.
—Você é minha única irmã! —Ele lançou um olhar incrédulo pra Érika, que fez ela soltar uma gargalhada enquanto eu não conseguia parar de rir dos dois. Bernardo apareceu no final do corredor, olhando confuso para discussão dos dois antes de sorrir pra mim.
—Pegaram tudo que queriam? —Ele se aproximou de mim, passando o braço ao redor da minha cintura. Assenti com a cabeça, me inclinando para dar um beijo na ponta do nariz dele, como ele normalmente fazia comigo. —Vamos poder participar dessa festa do pijama ou ela é só de vocês?
—Ela é só nossa. —Ele fez um biquinho triste com os lábios ao me ouvir. —Mas eu tenho certeza que vocês vão fazer sua própria festa do pijama.
—Claro, vamos passar o restante da noite jogando Super Mário, enquanto discutimos sobre o que vocês vão estar fazendo no apartamento do lado. —Afirmou, me arrancando uma risada genuína, antes de eu balançar a cabeça negativamente. —Ou talvez eu use um grampo pra abrir a porta e a gente invada a festinha particular de vocês.
—Eu não iria ficar nem um pouco surpresa. —Falei, vendo o sorriso de cumplicidade que se abriu nos lábios dele, revelando aquelas covinhas perfeitas.
Continua...
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Todos os "eu te amo" não ditos / Vol. 1
RomansaManuela tem certeza de uma coisa na sua vida, ela não quer ser um peso pra absolutamente ninguém. Ser independe é seu maior sonho e ela sabe que pra isso precisa se concentrar 100% no curso de química que sempre foi o seu maior sonho desde pequena...