Capítulo 49: O que você ouviu sobre mim?

2.1K 342 45
                                    

Havíamos arrastado os colchões pra sala e os juntado, trazendo as cobertas e todas as comidas que havíamos comprado pra cima deles. Júlia estava animada, apesar do rosto ainda conter resquícios do choro de mais cedo. Melissa chegou quando estávamos escolhendo o filme que iriamos assistir.

—Vou me entupir de doces hoje, dormir super tarde, pra estar igual um zumbi na aula amanhã. —Melissa afirmou, enquanto eu me deitava ao lado dela em uma das pontas da cama. —O que acham que os caras estão fazendo agora?

—Jogando Super Mário e falando sobre a gente. —Falei, o que fez as três olharem pra mim na mesma hora. Dei de ombros, soltando uma risada. —Pelo menos foi isso que o Bernardo disse, mas acho que ele só estava brincando.

—O Bernardo, né? —Érika ergueu as sobrancelhas, com um sorriso maroto na cara. —Quando ele vai pedir você em namoro, hein? Achei que ele não ia conseguir esperar muito, apesar de ter certeza que ele já deve ter comprado aliança e tudo.

—Ele provavelmente já tinha essa aliança há muito tempo. Tipo a dois anos... —Quase me afoguei com a cola cola que estava bebendo ao ouvir Júlia falar aquilo, o que a fez soltar uma risada alta. Pelo menos ela estava rindo de novo, mesmo que fosse as minhas custas.

—Você está viajando. —Afirmei, balançando a cabeça negativamente, vendo ela revirar os olhos e trocar um olhar de cumplicidade com Érika, o que fez até mesmo Melissa rir ao meu lado. —Agora vocês duas ficam de segredinhos?

—Não, só estamos pensando a mesma coisa. Você passou dois anos ocupada demais com uma ideia errada do Bernardo, que não deixava você ver além disso. —Júlia murmurou, me encarando com uma expressão risonha. —Você nunca notou nesses dois anos a forma que ele te olhava quando vocês estavam em um mesmo lugar. Não importava quantas pessoas estavam ao redor e o que estava acontecendo, os olhos dele sempre estavam em você. Sempre achei que ele tinha uma quedinha por você, Manu. Mas acho que ele só não chegou em você antes, porque você sempre virava a cara quando ele se aproximava. Mas os sinais estavam lá o tempo todo.

Ela parou de falar, me olhando como se quisesse saber qual seria minha reação. Demorei pra processar tudo que ela havia dito, mas no final Júlia estava certa em dizer que eu não me permitia ver além da ideia ruim que eu tinha sobre Bernardo. Eu sabia disso, porque agora eu o conhecia de verdade e ele era perfeito, por dentro e por fora.

—Foi por isso que sugeriu que eu pedisse a ajuda dele? —Indaguei, vendo ela morder o lábios e dar de ombros, tombando a cabeça de lado, confirmando todas as minhas suspeitas. —Você tinha praticamente certeza que ele ia aceitar me ajudar, Júlia.

—Era uma hipótese, na verdade. Tive a prova de que estava certa quando ele apareceu no mercado no mesmo dia que você falou com ele, pra te buscar. —Ela riu, dando de ombros uma segunda vez. —Não fazia o menor sentido ele aparecer lá só porque você esqueceu de mandar mensagem pra ele. Ele sabia que você morava no apartamento da frente e que era só bater aqui mais tarde. Além do fato dele saber onde você trabalha. Não podia ser só coincidência, né?

—Aposto que ele te stalkeou até não aguentar mais. —Melissa murmurou, escondendo o sorriso atrás do pacote de salgadinhos que estava comendo. —Particularmente, eu acho isso muito fofo. Nunca notei antes, mas agora dá pra notar a forma como ele olha pra você.

Nunca tinha parado pra pensar em como as coincidências eram enormes demais entre eu e Bernardo. Ele sabia sobre meu TDAH, quando eu não saio por aí falando sobre ele pra todo mundo. Ele sabia onde eu trabalhava. Ele aparecer aquela noite lá não era só por acaso, mesmo que ele tivesse agido como se fosse no dia. Todas as coisas que ele havia me dito também, faziam tanto sentido agora.

De repente comecei a perceber no quanto eu estava cega para muitas coisas. Estava tão preocupada pensando no momento que Bernardo fosse se cansar de mim, que ignorei os sinais mais óbvios. Ele sempre esteve lá, mesmo quando eu não olhava pra ele. Sempre esperando qualquer coisa de mim, mesmo a menor delas, enquanto eu agia feito uma idiota por algo que era culpa inteiramente dos meus pais.

Puxei meu celular, podendo ouvir o som do meu coração batendo completamente acelerado, enquanto abria o chat com ele e observava nossas últimas mensagens trocadas, antes de começar a escrever uma. Minha respiração estava mais rápida que o normal, mesmo que eu não estivesse fazendo nada no momento. Mas a ansiedade era o suficiente para me deixar completamente desestabilizada.

Manu — Vocês estão mesmo falando sobre a gente?
Porque nós aqui estamos falando sobre vocês.
Ouvi algumas coisas interessantes sobre você.

Ele visualizou segundos depois, como se estivesse com o celular na mão esperando por uma mensagem minha.

Bernardo — Não conseguimos tirar vocês da cabeça, então sim.
Sempre vamos estar falando de vocês.
Mas prometo que são só as melhores coisas, linda.
O que você ouviu sobre mim?
Nada que machuque meu ego de milhões, eu espero.

Eu abri um sorriso, mordendo o interior da bochecha com o quão natural tudo sempre parecia ser pra ele. Pensei que ele pudesse ficar preocupado com o que eu poderia ter ouvido, mas ele soava incrivelmente tranquilo.

Manu — Sobre você sempre estar olhando pra mim, mesmo nesses dois anos quando ainda nem nos falávamos.

Bernardo — Nunca fiz questão de negar o quanto eu queria você.

Meu coração disparou, enquanto eu sentia aquelas borboletas no meu estômago, me deixando com as mãos tremendo e um frio enorme na barriga, como se Bernardo estivesse na minha frente, falando aquelas coisas diretamente pra mim.

Manu — Por que você nunca falou comigo antes?

Bernardo — Porque eu achava que você me odiava.
Sempre que eu chegava perto, você virava a cara como se eu fosse seu pior pesadelo.
Não estou reclamando, eu realmente entendo porque você fez isso.
Mas mesmo quando você fazia isso, eu também não fazia questão de esconder.

Podia ouvir as meninas conversando, mesmo que não soubesse sobre o que, porque estava ocupada demais digitando sem parar, ansiosa por qualquer palavra que Bernardo pudesse mandar pra mim.

Manu — Quando você falou de mim para os seus pais?

Bernardo — Dois anos atrás, depois do primeiro dia de aula.
Cheguei em casa e disse que tinha encontrado a garota mais linda do mundo.
E quando você falou comigo aquele dia no campo, eu sabia que não podia dispersar a chance que estava tendo.



Continua...

Todos os "eu te amo" não ditos / Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora