Bernardo decidiu começar a me explicar a matéria do começo, mesmo que eu tenha insistido que não precisava. Mas ele insistiu, passando por cada etapa de cálculo 1, indo para o 2. Meu cérebro sempre deu um nó quando números eram misturados com letras. Pra mim não fazia sentido algum, mesmo que no final a conta fechasse.
Ele ficou horas me explicando, dando exemplos e tentando deixar tudo o mais fácil pra mim. Não podia reclamar de nada, ele explicava tudo com calma, além de ser atencioso comigo sempre que eu ficava com alguma dúvida. Ele podia virar professor de química, porque eu tinha 100% de certeza que todos os alunos iriam ama-lo.
Duas horas e meia depois, minha cabeça já estava com dificuldades de focar no que ele dizia. Eu ficava indo e vindo com meus pensamentos. Me distraindo por segundos e então forçando a minha mente a prestar atenção. Toda vez que isso acontecia, eu ficava frustrada, porque queria focar no presente e não conseguia.
Acho que Bernardo notou que eu já não estava rendendo tanto e estava dispersa, porque afastou o livro de mim e o fechou, enquanto eu soltava um suspiro pesado, me sentindo cansada e irritada comigo mesma. Lá estava aquela sensação de novo, esmagando meu peito quando senti que estava sendo um incomodo pra ele.
—Desculpa, eu estou cansada. Estou me esforçando pra prestar atenção, só que é... —Balancei a cabeça negativamente, constrangida. Bernardo empilhou seus livros e sorriu pra mim, como se isso não fosse nada. Como se estivesse tudo bem.
—Eu estou exausto também. Quase dormi em cima do livro algumas vezes, enquanto você fazia as contas. —Afirmou, me fazendo abrir um sorriso e encarar minhas mãos quando percebi o que ele estava tentando fazer. —Podemos continuar outro dia. Você é inteligente. Não exija demais de si mesma.
—Vou tentar. —Prometi, observando ele ficar de pé e enfiar os livros na mochila. —Que dia você pode de novo?
—Eu não posso nas sextas e nem nas terças, de resto eu estou livre. —Afirmou, enquanto eu forçava meu cérebro a gravar aquela informação. —Então quando quiser estudar nesses dias, só me avisar. Vou pensar em algumas coisas que possam facilitar pra você.
—Por que está sendo tão legal comigo? —Indaguei, observando os olhos de Bernardo encontrarem os meus e ele parecer confuso por alguns segundos.
—Por que eu não seria? —Ele riu, balançando a cabeça. —Não sei o que pensa sobre mim, Manuela, mas eu não sou um babaca.
—Não acho que você é um babaca. —Rebati, sentindo aquele quarto se tornar muito menor quando Bernardo me encarou com as sobrancelhas erguidas, como se estivesse me desafiando. —Qual é, você sabe porque eu não vou com a sua cara. Não finja que não. Acho que você é melhor do que isso.
—Eu não faço a menor ideia do que você está falando. —Ele cruzou os braços na frente do corpo, me olhando com tanta confiança que aquilo fez meu sangue esquentar. Fiquei de pé, sentindo minha cabeça fervendo quando o encarei com a mesma confiança que ele exibia.
—Você e aquele seu grupo de amigos ficaram fazendo piadas idiotas sobre as minhas roupas no primeiro dia de aula. —Afirmei, abrindo um sorriso de deboche quando a confiança dele se desfez e seus olhos se cerraram quando ele percebeu que eu sabia. —Pois é, eu ouvi. Vou vomitar arco-íris se essa garota passar mais um segundo ao meu lado.
—Manuela... —Eu ri quando percebi que ele estava prestes a se explicar.
—Não importa, na verdade. Eu realmente não estou preocupada se meu estilo não agrada o gosto sofisticado de vocês. —Falei, passando a mão nos cabelos quando me senti na merda por ter falado sobre isso com ele, quando seria muito mais fácil ignorar isso. —A gente aprende na universidade que existe muitos adultos com mentalidade de 5 anos. Vocês são só a prova disso.
—Devo concordar com você sobre os adultos com mentalidade de 5 anos. —Murmurou, me fazendo soltar uma risada descrente com a cara de pau dele. Mas ele estava me olhando daquele mesmo jeito que me olhou no campo, como se nunca tivesse me visto. Como se não existisse mais nada. —Manuela, tenho certeza que você sabe bem o que ouviu. Não vou dizer que é mentira e que você entendeu errado. —Eu soltei uma risada amarga, antes de desviar os olhos dele quando ele se aproximou até parar na minha frente. —Mas você viu, especificamente eu, falando sobre suas roupas?
—Não, mas... —Mordi o interior da bochecha quando ele voltou a sorrir, me fazendo perder as palavras. Eu realmente não o vi falar. Mas ele estava lá, no meio deles, olhando fixamente pra mim enquanto seus amigos riam as minhas custas.
—Acho que peguei você. —Sussurrou, inclinando o rosto pra perto do meu com uma expressão presunçosa quando fiquei muda.
—Só porque eu não vi você falando, não significa que você não estava no meio deles, enquanto eles agiam como uma bando de crianças idiotas rindo de mim. —Afirmei, inclinando meu rosto para perto do dele também, sentindo meu sangue quente enquanto encarava os olhos dele sem nem piscar. —Ficar em silencio enquanto eles falavam aquelas coisas, também não diz boas coisas de você, sabia? —Fiquei muito feliz por ver o sorriso dele sumir, mesmo que nenhum de nós dois se afastasse ou desviasse os olhos, o que estava fazendo meu coração martelar no meu peito. —Acho que peguei você.
Parecia que havia uma escola de samba dentro do meu peito naquele momento, ao mesmo tempo que minha boca ficou seca quando vi o brilho nos olhos de Bernardo quando me ouviu roubar sua frase. Fiquei mais irritada quando percebi que nada parecia abalar ele. Aquele quarto era pequeno demais pra nos dois e estava ficando menor e mais quente a cada segundo, enquanto uma eletricidade faiscava entre nós dois.
—Você está certa. —Falou, me desarmando completamente e me fazendo dar um passo para trás, enquanto não tirava os olhos de mim. —Eu não sabia que você tinha ouvido e que isso havia te incomodado, o que é super compreensível. Mesmo que eu não tenha feito piadas junto com eles, eu também não falei nada pra eles pararem quando os vi fazendo. Você tem razão em estar chateada e eu sinto muito. —Eu o vi engolir muito lentamente, vendo toda sinceridade exposta no seu rosto sério. —Me desculpa, Manu. Não há absolutamente nada de errado com as suas roupas e eu sinto muito que você tenha pensado o contrario. Me desculpa.
Continua...
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Todos os "eu te amo" não ditos / Vol. 1
RomansaManuela tem certeza de uma coisa na sua vida, ela não quer ser um peso pra absolutamente ninguém. Ser independe é seu maior sonho e ela sabe que pra isso precisa se concentrar 100% no curso de química que sempre foi o seu maior sonho desde pequena...