Capítulo 58: Eu fico com isso.

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A semana passou em um piscar de olhos. O final do semestre estava cada vez mais próximo, assim como as provas finais. Bernardo e eu continuamos a estudar juntos, até mesmo na sexta feira quando ele, Edu e Felipe deixaram de tocar para conseguir estudar para as provas também.

No final de semana, não me incomodei quando Bernardo me arrastou para a casa dos pais dele de novo. Na verdade, fiquei muito feliz com isso. Nunca iria me cansar de pensar no quanto os pais dele são completamente perfeitos e criaram Bernardo da melhor maneira possível. Assim como eles me acolhiam tão bem que era difícil não gostar dos dois.

Domingo a noite, eu me vi encolhida no sofá entre Bernardo e Érika, jogando Super Mário. Júlia havia voltado pro nosso apartamento para tomar banho, mas voltaria logo, já que Felipe e Eduardo haviam saído pra comprar pizza pra nós. Agora que eu e Bernardo estávamos namorando de fato, eu e Júlia passamos muito tempo no apartamento deles.

—Manu, seu celular tá tocando. —Érika soltou um gritinho quando o Luigi foi atingido por uma tartaruga e morreu, fazendo uma careta ao passar o controle pra mim. Bernardo já estava alcançando meu celular, mostrando que era Júlia quem estava me ligando. —Por que te ligar se ela está literalmente no apartamento do lado e sabe onde você está?

—Sei lá. —Soltei uma risada, porque estava mais ocupada com o jogo na tv. —Pode atender e colocar no viva-voz, Be.

Juju — Manu?

Manu — Pode falar. Eu estou jogando e está no viva-voz.

—É, cuidado com o que vai falar porque tem menor de idade ouvindo e ela não quer ficar traumatizada. —Érika murmurou, soltando uma gargalhada quando eu e Bernardo olhamos pra ela ao mesmo tempo, erguendo as sobrancelhas com a cara de pau dela.

Juju — Er... olha, sua mãe está aqui.

O controle escorregou das minhas mãos, enquanto eu absorvia aquela informação como se estivesse levando um soco no estômago. Olhei para Bernardo para ter certeza que tinha ouvido certo, encontrando seus lábios comprimidos e sua expressão preocupada sobre mim. Fiquei de pé, empurrando o controle pra Érika, caminhando até a porta com movimentos lentos e rígidos.

Quando a abri, encontrei minha mãe do outro lado do corredor, de frente para a porta aberta do meu apartamento onde Júlia estava, ainda com o celular no ouvido e uma expressão resignada. Minha mãe se virou quando ouviu o barulho da porta, parecendo surpresa por me encontrar no apartamento da frente. Nina, que estava abanando o rabo para Júlia, veio na minha direção como se me reconhecesse do outro dia.

—Oi, garota. —Passei a mão na cabeça dela, sentindo os pelos macios, enquanto uma pedra esmagava meu coração aos poucos. Minha mãe se aproximou, observando minha interação com ela. —O que você veio fazer aqui?

—Precisava falar com você e você não estava atendendo as minhas ligações. —Afirmou, com a voz mais calma do que eu esperava. —Vi que esvaziou o quarto e encontrei a chave. Imaginei que isso significava que você não pretendia mais voltar.

—Não faz sentido voltar para um lugar que eu nunca fui bem-vinda de fato. —Soltei, sem me preocupar se minha voz soava mais grosseira do que eu pretendia. —O que você quer comigo?

—Seu pai saiu de casa e deu inicio ao divorcio. —Contou, o que não me surpreendeu nem um pouco depois de eu vê-lo sair de casa com algumas malas. Era óbvio que ele não tinha a intenção de voltar. —Eu resolvi me mudar, porque não tenho qualquer vontade de permanecer naquela casa enorme sozinha. Mas tem a Nina. Seu pai a queria, não eu. Mas ele a deixou pra trás, então eu...

—Eu não acredito. —Soltei uma risada incrédula, erguendo a mão para esfregar minha testa, enquanto sentia a presença de Bernardo atrás de mim, quando ele saiu do sofá e veio até a porta ver o que estava acontecendo. —Você vai jogar a responsabilidade em mim, como sempre.

—Eu nunca quis esse cachorro, Manuela. —Ela suspirou, enquanto o elevador se abria, com Eduardo e Felipe saindo de dentro dele com algumas caixas de pizza e refrigerantes. Mas os dois pararam quando notaram a tensão no ar. —Não posso fazer nada se seu pai resolveu abandona-la comigo. Não posso cuidar dela.

—E o que eu tenho a ver com isso? —Indaguei, quase grunhindo as palavras. Por mais que a pobre cachorra não tivesse culpa de nada, eu odiava minha mãe por estar interferindo na minha vida, quando eu estava fazendo de tudo pra expulsa-la. Sua expressão sem palavras deixou claro que ela esperava que eu simplesmente aceitasse isso sem discutir.

—Com licença, minha senhora. —Eduardo entregou as pizzas para Júlia, antes de chegar atrás da minha mãe, que corou quando se virou e o encontrou ali. Ela saiu da frente da porta, ao mesmo tempo que Eduardo se abaixava e pegava Nina no colo, que soltou um resmungo e tentou lamber o rosto dele. —Eu fico com isso, muito obrigada.

O tom de voz dele era puro sarcasmo, mas ele realmente passou por mim e levou Nina pra dentro. Bernardo se inclinou e pegou a sacola com as coisas dela que minha mãe estava segurando, que eu sequer havia notado, antes de dar um beijo no meu ombro e voltar pra dentro também. Júlia fechou a porta do nosso apartamento e seguiu Felipe, me lançando um sorriso tenso ao passar do meu lado.

—É seu namorado? —Ela indicou Bernardo com a cabeça quando ficamos sozinhas. Cruzei os braços na frente do corpo e não respondi, porque aquilo não era da conta dela. Seu suspiro baixo deixava claro seu desconforto com aquele momento. —Eu não sabia que você odiava tanto ter vivido com a gente.

—Não é como se vocês tivessem sido bons pais ou se preocupado com o que eu sentia. —Retruquei, com ácido queimando na minha língua. O leve contrair do seu rosto deixou claro que aquela frase a desagradou, mas ela logo escondeu.

No final das contas, ela estava sozinha agora, porque meu pai não a queria e eu muito menos. Meu coração ainda era burro o suficiente para sentir pena dela, mas não deixaria que ela soubesse disso. Não queria voltar pra trás, depois de ter conseguido tomar decisões que eu deveria ter tomado há muito tempo atrás.

—Tchau, filha. —Ela falou aquilo tão baixo que quase não ouvi, enquanto virava as costas e ia até o elevador. Meu coração se apertou, mas afastei todo sentimento ruim para longe, querendo focar apenas nas coisas boas.

—Adeus, mãe. —Fechei a porta do apartamento no mesmo segundo que as portas do elevador se fecharam e ela foi embora.



Continua...
......
Prontos pro final?

Todos os "eu te amo" não ditos / Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora