Bernardo soltou meu braço, dando um passo para trás ao umedecer os lábios com a língua. Sua expressão determinada ainda estava ali, assim como o brilho nos olhos dele quando sorriu pra mim, mostrando aquelas covinhas que certamente já deixaram muitas garotas apaixonadas.
—Eu ando cheio de coisas pra fazer e com preguiça de estudar. Ajudar você vai ser bom pra mim também. —Ele soava confiante e pronto para ignorar o assunto de porque não vou com a cara dele, como se tivesse percebido o quanto aquilo me incomodava. —Podemos ver um horário bom pra nos dois, alguns dias da semana. Isso seria bom pra você?
—Sim, claro, umas duas vezes por semana está ótimo. —Afirmei, desviando os olhos para o grupo de pessoas que estava vindo na nossa direção. Eram outros amigos dele, que eu queria mais do que tudo evitar. —Mas eu só posso a noite, então...
—Não é um problema pra mim. —Retrucou na mesma hora, olhando para trás quando percebeu que minha atenção não estava 100% nele. —Eu normalmente estou ocupado a tarde também, então a noite é perfeito.
—Que bom. Posso te mandar mensagem mais tarde pra resolvermos isso? —Indaguei, dando passos para atrás, querendo ir embora dali antes que o grupo nos alcançasse. Bernardo notou que eu estava me afastando, fazendo uma careta. —Eu tenho que ir trabalhar.
—Me da seu celular. —Pediu, e eu entreguei sem pensar, observando ele colocar o número dele ali, antes de me devolver. —Manda mensagem assim que puder. Tenho tempo livre essa noite, se quiser começar hoje. Você pode me passar os assuntos que mais tem dificuldade, pra eu já ter uma ideia do que vamos estudar.
—Tudo bem. —Olhei para o meu celular, vendo que havia uma mensagens de Júlia perguntando se eu havia esquecido de ir almoçar e que estava saindo pro trabalho. —Ah, merda, eu estou super atrasada. Eu te mando mensagem, ok?
Eu já estava me afastando depressa quando escutei a risada de Bernardo atrás de mim, antes de ouvir uma garota perguntar a ele o que eu queria. Não ouvi a resposta dele e preferi não olhar para trás pra saber se estavam olhando pra mim, porque eu sabia que estavam e aquilo seria constrangedor. Não me importo com os amigos dele, me importo em melhorar minhas notas. Isso é importante pra mim, não eles.
Cheguei praticamente em cima da hora no mercado, correndo para colocar meu uniforme e os patins. Júlia já estava sentada em um dos caixas quando passei, fazendo uma pergunta silenciosa se estava tudo bem, o que eu respondi com um aceno positivo de cabeça. Mais tarde eu contaria a ela o motivo do meu atraso. Eu só esperava não me arrepender disso.
[...]
No meio da tarde, parece que um buraco negro se abriu no meu estômago, já que eu havia perdido o horário do almoço. Minha cabeça está a mil por hora enquanto deslizo pelo meio dos corredores do mercado, arrumando produtos e tentando não deixar nada pela metade, enquanto me esforço a manter a cabeça no presente. Alguns dias são mais complicados do que outros.
—Manu? —Júlia apareceu no corredor, lançando uma barra de cereal pra mim. —Come, você não parou um segundo desde que chegou.
—Hoje tá mais movimentado. Você não precisa cuidar de mim como se fosse minha mãe, sabia? —Júlia me lançou um olhar penetrante, me fazendo suspirar e devorando a barrinha em segundos, enquanto ela tirava as coisas do meu carrinho e colocava nas prateleiras. —Falei com ele.
—E aí? Foi ruim ou muito ruim? —Indagou, me fazendo soltar uma risada. Eu não sabia o que esperar, mas não foi tão ruim assim.
—Foi de boa. —Dei de ombros quando ela me lançou um olhar questionador. —Ele aceitou me ajudar. Só espero não me arrepender disso.
—Não vai, Manu. Ele vai te ajudar, isso é ótimo. —Ela piscou pra mim, se aproximando para enfiar outra barrinha de cereal no meu bolso, o que me fez sorrir. —Vou voltar lá pra frente, antes que venham puxar minha orelha por estar aqui.
—Obrigada. —Falei, sabendo que Júlia entenderia que eu estava falando da barrinha de cereal. Ela acenou pra mim e desapareceu, enquanto eu voltava a arrumar as coisas até esvaziar o carrinho e levar para os fundos. Diogo estava esperando para encher meu carrinho quando apareci, me lançando um sorriso enorme.
—Alguém derrubou várias latas de extrato de tomate no corredor. —Outra funcionaria do mercado entrou no deposito, apontando pra mim. —É com você, Manuela. Vou tacar uma das latas na cabeça da pessoa se ela estiver lá.
Revirei meus olhos, escutando o ruido das rodinhas do patins no chão quando sai de lá e fui até onde o caos estava montado. Não havia nada pior do que pessoas desastradas no mercado, derrubando coisas das prateleiras. Já havíamos perdido muitas coisas pela desatenção dos outros.
Quando cheguei no corredor, não havia ninguém ali, o que significava que quem quer que fosse saiu rapidinho com medo de dar problema. Normalmente dava, quando a pessoa estragava algo, o que não era o caso, mesmo que tivessem latas por todo lado no chão. Me abaixei e comecei a colocar tudo nas prateleiras, um pouco entediada de ficar naquele mercado.
—Não sei o que é mais estranho. —Olhei pra cima, vendo Bernardo na ponta do corredor, me encarando com as sobrancelhas erguidas e a sombra de um sorriso nos lábios. —Você de patins no meio do mercado ou a cama montada bem ao lado da padaria. —Não estava esperando rir, mas aquilo me arrancou uma risada sincera. —Quer ajuda?
—Foi você? —Indaguei, vendo ele já se abaixando pra me ajudar.
—Costumo prestar atenção nas coisas que faço. —Afirmou, juntando as latas mais rápido do que eu faria sozinha. —Então, qual é a dos patins?
—Eles acharam que seria legal. —Dei de ombros, ficando de pé ao mesmo tempo com ele.
—E a cama? É para as pessoas comprarem o pãozinho do café da tarde e aproveitar pra levar uma cama nova? —Indagou, e eu tive que morder a bochecha para não rir daquilo.
—Sim, e depois dar uma olhada em pneus novos pro seu carro. —Completei, o fazendo rir, porque havia uma fileira de pneus logo após a cama. Isso que dá vender de tudo e ter um espaço pequeno. —Veio fazer compras?
—Você não me mandou mensagem. —Afirmou, ignorando minha pergunta. Olhei pra ele na mesma hora, me dando conta de que realmente não havia mandando nada pra ele.
—Desculpa, eu cheguei quase atrasada aqui e nem consegui almoçar. Esqueci completamente de te mandar mensagem. —Passei a mão na testa, balançando a cabeça negativamente. —Eu ia acabar me lembrando só quando chegasse em casa. Ou quando me deparasse com o livro de cálculo.
—Você é esquecida? —Era uma pergunta retorica, mas balancei a cabeça que sim. Não que eu quisesse ser, apenas acontecia. —Que horas você sai daqui?
—As 19:30. —Eu o olhei, vendo que ele estava parado no corredor me observando, da mesma forma que fez mais cedo. Será que ele não ia fazer compras? Aparentemente não, porque ele olhou para o relógio no seu pulso e balançou a cabeça.
—Daqui 10 minutos. —Constatou, me fazendo olhá-lo quando ele começou a se afastar. —Te espero lá fora.
—O que? —Soltei, completamente perdida quando ele sumiu e me deixou sozinha ali, completamente confusa.
Continua...
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Todos os "eu te amo" não ditos / Vol. 1
RomanceManuela tem certeza de uma coisa na sua vida, ela não quer ser um peso pra absolutamente ninguém. Ser independe é seu maior sonho e ela sabe que pra isso precisa se concentrar 100% no curso de química que sempre foi o seu maior sonho desde pequena...