Capítulo 16: Você fugiu de mim por dois anos.

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Algo se apertou no meu peito ao ouvir aquilo. Mesmo que eu quisesse muito confiar em alguém a ponto de deixar essa pessoa cuidar de mim, eu tinha medo de no final a pessoa me considerar sim um peso terrível de aguentar. A última vez que confiei em alguém pra cuidar de mim, as coisas saíram muito erradas.

—Você acha que os dois vão ficar? —Indaguei, fugindo do assunto. Tenho certeza que Bernardo notou, porque escutei o suspiro baixo que ele soltou.

—Provavelmente sim. Felipe estava olhando pra ela desde que vocês chegaram. Se Júlia não for difícil, então... —Ele deu de ombros, me fazendo abrir um sorriso. Júlia não era difícil. Ela era do tipo que aproveitava a vida ao máximo, sem medo de se arrepender. —No final das contas, o jogo acabou rápido demais. Estava esperando chegar a vez que a garrafa cairia em nós dois.

—Verdade ou desafio? —Sugeri, vendo ele morder o lábio para conter o sorriso.

—Verdade. —Falou, cheio de determinação, se ajeitando na parede na minha frente como se esperasse uma super pergunta. Aquilo me fez hesitar, sem saber o que eu gostaria de perguntar a ele. Havia tantas coisas que eu queria saber sobre Bernardo, que ficava confusa.

—O que Felipe disse a você aquele dia no campo, quando fui pedir para que me desse aulas? —Indaguei, apertando as mãos ao redor dos meus braços, enquanto mordia o interior da bochecha com meu coração completamente acelerado, vendo o sorriso que Bernardo abriu com o canto dos lábio.

Você não está sonhando, ela está mesmo chamando você, cara. —Os olhos dele queimaram sobre mim, enquanto eu estremecia por dentro. —Verdade ou desafio?

Minha boca ficou seca, enquanto eu me obrigava a respirar fundo, porque eu estava com medo que qualquer um dos dois fosse direcionado aos flertes de mais cedo. Mas eu havia dado sinal verde pra ele quando disse que não havia concorrência pra ele. Não podia ficar com medo agora.

—Verdade. —Soltei, sentindo a adrenalina correndo pelas minhas veias e o calor tomando conta daquele corredor onde estávamos, quanto mais Bernardo olhava pra mim.

—O que aconteceu pra você não gostar de deixar as pessoas cuidarem de você? —Questionou, fazendo meu coração despencar, porque eu estava esperando de tudo, menos aquilo.

—É algo pessoal demais, porque quer saber sobre isso? —Indaguei, vendo ele erguer a mão para esfregar a testa como se estivesse com dor de cabeça.

—Porque quero que confie em mim. —Afirmou, sem nem hesitar. —Porque quero conhecer a verdadeira Manuela.

—Você me conhece.

—Não, não conheço. Você fugiu de mim por dois anos. —Rebateu, com a expressão totalmente séria. —Você não deveria ter falado comigo, sabia?

—Por que não? —Falei, tentando ignorar o tremor na minha voz.

—Acho que você sabe muito bem o porquê. —Ele voltou a sorrir, levando todo o desconforto para longe de mim ao revelar aquelas covinhas.

A porta do banheiro se abriu e Júlia saiu primeiro, com o batom todo borrado e um pouco ofegante. Mordi o lábio para não rir, vendo que o restante do batom dela estava nos lábios Felipe. Pelo menos alguém havia tido alguma sorte aquela noite. Não havia passado 7 minutos, mas nem eu e nem Bernardo falamos nada sobre aquilo.

—Podemos ir pra casa. —Júlia murmurou, segurando minha mão e me puxando para longe dos dois.

[...]

Júlia havia me feito dar tchau pra todos eles para irmos embora, mesmo que morássemos no mesmo prédio e literalmente em apartamentos um na frente do outro. Mas nós duas voltamos pra casa em completo silêncio. Ela parecia tão perdida em pensamentos quanto eu. Quando chegamos em casa, ela foi para o quarto e eu também, pensando em cada coisa que Bernardo havia me dito, até finalmente dormir.

Na manhã seguinte, minha cabeça estava uma zona, com cada pensamento confuso sobre como agir e o que fazer quando formos pra praia mais tarde, todos juntos. Júlia não demorou a acordar, se juntando a mim no sofá com uma xícara de café forte, parecendo mais quieta que o normal.

—Desembucha. —Sibilei, vendo ela fazer uma careta. —Ele beija tão mal assim?

—Ah, não, antes fosse esse o problema. Ele beija bem até demais. —Ela riu, dando um longo gole no café. —Mas ele mal havia parado de me beijar, e estava me chamando pra sair.

—E onde isso pode ser um problema? —Indaguei, vendo ela me olhar como se eu tivesse um parafuso a menos.

—Eu não quero sair em um encontro. Você sabe que todas as vezes que eu tentei, foi uma merda. A maioria dos caras viram uns idiotas depois de alguns encontros. —Ela bufou, negando com a cabeça. —Pra mim aquilo foi só uns amassos e nada demais. Só que ele pareceu ficar ofendido quando eu disse isso.

—Talvez porque ele estava realmente interessado em ficar com você e te levar pra um encontro. —Falei, vendo Júlia fazer uma careta e torcer o lábio, como se estivesse super infeliz. —Nem sempre um encontro vai ser ruim. Você só escolheu os caras errados.

—Por que a gente não fala de você e do Bernardo, hein? —Ela abriu um sorriso maroto pra mim, enquanto eu revirava os olhos. —Ou acha que eu não notei que vocês dois estavam quase se jogando um em cima do outro?

—Tão sutil você. —Sussurrei, arrancando uma risada dela. —Ele flertou comigo. Eu tentei flertar de volta, mas acho que sou péssima nisso. No final, você foi a única com sorte ontem a noite.

—Espera, você tentou flertar de volta? —Ela me olhou de queixo caído. —Então você realmente ficaria com ele? —Mordi o lábio, antes de dar de ombros e balançar a cabeça que sim. —Olha só, nem meus doramas são tão interessantes quanto isso.

—Ah, qual é! —Bufei, cruzando os braços na frente do corpo. —Ele é bonito e super atraente, porque eu não iria querer? Nós já superamos toda a coisa com as piadinhas. Você mesma viu isso ontem a noite.

—Tudo bem. É que você não costuma mostrar interesse por ninguém. Diogo está tentando há um tempão e você não dá uma chance pro coitado. —Eu lancei um olhar afiado pra ela, que a fez suspirar. —Eu sei que você o considera seu amigo. Não a nada de errado nisso, até porque você não está iludindo ele nem nada.

—Júlia! —Escondi o rosto entre as mãos, querendo que ela parasse de falar de Diogo.

—Vamos apenas ignorar minha supresa e focar no que importa. —Afirmou, me fazendo olhar pra ela completamente confusa. —Ontem não deu em nada, mas não significa que hoje não vai dar. Nós vamos pra praia, Manu. Eu e a Érika vamos adorar entrar na missão de cúpidas.

—Você tá bêbada a essas horas da manhã? —Questionei, fazendo ela explodir em uma gargalhada, por mais que eu estivesse fazendo uma pergunta sincera.



Continua...

Todos os "eu te amo" não ditos / Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora