Capítulo 37: Podemos fazer isso?

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Me enfiei dentro do quarto depois que voltei pra casa. Minha vontade de chorar era imensa, mas engoli todas as lágrimas. Não fiz nada além de tomar banho e então me enfiar na cama com os fones de ouvido. Júlia, Melissa e Bernardo haviam me ligado, mas não atendi nenhum dos três.

Fiquei encarando a maldita parede rosa, lembrando do que eles haviam falado, assim como da expressão preocupada de Bernardo quando notou que eu estava chorando. Odiava o fato de não conseguir esconder direito minhas emoções. Se ele não tivesse notado, então tudo estaria bem e ele poderia ter voltado para o jogo. Mas ele foi expulso depois de brigar por minha causa.

Não sei quanto tempo fiquei deitada ali, com meu cérebro funcionando mais rápido do que o normal. Pensando em várias coisas ao mesmo tempo. Parecia que eu nunca saia do lugar. Eu nunca avançava. Estava sempre presa na minha própria confusão.

—Manu? —Júlia bateu na porta, me fazendo perceber que o jogo já deveria ter acabado e eles já teriam voltado. Tirei os fones e enfiei eles embaixo do travesseiro junto com meu celular, sem respondê-la. —Manuela? Abre logo essa porta. Eu soube do que aconteceu. Vamos conversar.

—Vá embora! —Gritei, revirando os olhos, sem paciência para conversar com ela e ouvir seus conselhos. Só queria esquecer toda aquela merda.

Ela ficou em silêncio do outro lado e eu suspirei aliviada. Mas não demorou um segundo antes de eu ouvir um barulho na porta. Me virei e olhei, vendo a chave cair no chão quando alguém destrancou a porta do lado de fora. A porta se abriu, mas não era Júlia quem estava ali, era Bernardo.

—Oi. —Ele não sorriu. Na verdade, parecia muito hesitante, como se não soubesse se eu queria ou não ele ali.

—Como abriu a porta? —Indaguei, vendo ele se abaixar para pegar a chave no chão, colocando-a sobre a escrivaninha ao lado da porta, antes de me mostrar o grampo que havia usado para destranca-la. —Ah...

—Eu era uma criança complicada. —Afirmou, colocando o grampo ao lado da chave, como se quisesse explicar o fato de saber abrir uma porta com um grampo. —Você está bem?

—Sim. —Eu me sentei na cama, vendo ele continuar na porta, olhando pra distância entre nós. —E você?

—Acho que sim. —Ele ergueu a mão, passando nos cabelos úmidos. Provavelmente havia acabado de chegar e tomar banho. —A gente empatou.

—Ah! —Meu sorriso foi sincero pra ele. —Que bom. Melhor que perder, né?

Ele não respondeu. Ficamos nos encarando por alguns segundos. Bernardo parecia querer dizer várias coisas, sem saber por onde começar. Meu coração se apertou, disparando no meu peito. Gostaria de saber o que estava se passando na cabeça dele.

—Estamos bem, Manu? —Sussurrou, umedecendo os lábios com a língua depois de fazer a pergunta, parecendo super nervoso. Quase ri ao perceber aquilo. Nervosismo e Bernardo não eram algo que combinavam. Ele era confiante. Eu gostava muito do Bernardo confiante.

Estendi as mãos na direção dele, fazendo um sinal pra que ele viesse se deitar comigo. Ele nem mesmo hesitou. Bernardo fechou a porta na mesma hora, tirando os tênis antes de apagar a luz. O quarto ficou todo escuro, mas eu ainda podia ver sua sombra se aproximando da cama.

—Você tem mesmo medo do escuro? —Suas mãos tocaram as minhas que estavam estendidas, antes dele subir de joelhos na cama, o rosto se aproximando do meu.

—Normalmente não. —Eu ri, sentindo ele beijar minha pálpebra esquerda. —Esse é meu olho, gênio. Minha boca está mais pra baixo.

—Pensei que estava brava comigo. —Ele abaixou o rosto, dando um selinho nos meus lábios quando acertou o alvo dessa vez.

—Por quê? —Eu o puxei para se deitar comigo, porque ainda estávamos de joelhos na cama.

—Você pediu pra eu não me meter e mesmo assim eu o fiz. Eu briguei na frente de todo mundo porque aqueles merdas estavam fazendo piada com você de novo. —Bernardo me puxou, me aconchegando no seu peito, com nossas pernas virando um emaranhado confuso. Mas seu rosto ficou colocado no meu. —Pensei que tinha estragado tudo quando sai do vestiário com o Edu e você não estava lá.

—Eu fiquei me sentindo culpada por você ter sido expulso do jogo. —Afirmei, sentindo o nariz dele roçando no meu. Mesmo no escuro, sentia seus olhos me encarando, como se ele pudesse me ver mesmo com a escuridão. —Não fiquei brava por ter arrumado briga por mim. Mas realmente preferia que você tivesse me ouvido e ido pro jogo. Não gostei de ser o centro da discussão de vocês, com várias pensando ao redor para presenciar. Foi constrangedor pra mim.

—Me desculpa, Manu. Eu só fiquei super irritado e... —Ele suspirou, me roubando um beijo. —Da última vez eu fiquei quieto quando eles fizeram isso e então você ficou dois anos sem olhar na minha cara. Não queria repetir o mesmo erro.

—Você não precisa me defender, Be. —Minha não encontrou o rosto dele, sentindo sua bochecha macia e quente. —Agora eu sei que você não era igual a eles e que se importa comigo.

—Eu não quero te defender. Quero cuidar de você. Mesmo que você ache que vai ser um peso e não queira, eu quero. —Ele segurou meu queixo, me beijando lentamente, fazendo cada gota do meu sangue esquentar em ansiedade. —Quero que fale comigo, Manu. Quero que me conte as coisas e quero contá-las pra você também. Quero que sejamos sinceros um com o outro.

Balancei a cabeça que sim. Eu era péssima em ser sincera e em confiar nas pessoas. Mas queria fazer isso com ele. Queria confiar tão desesperadamente nele, que conseguia me odiar por não conseguir fazer isso tão facilmente .

—Podemos fazer isso?

—Podemos. —Concordei, antes dele me beijar de novo.

Bernardo me puxou para mais perto, enquanto a escuridão devorava aquele quarto e nós dois simplesmente aproveitávamos aquela coisa que estava surgindo entre nós dois naquele momento. Ele ainda estava me beijando quando eu adormeci, escutando o som da respiração dele.


Continua...

Todos os "eu te amo" não ditos / Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora