Capítulo quatorze

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— Nunca mais piso naquele hospital, é desumano fazer uma pessoa trabalhar tanto assim. — Oliver reclamava enquanto pegava o casaco que estava no chão do quarto.

— 3 crianças fizeram xixi em mim hoje, eu já tomei cinco banhos e ainda tô com cheiro de xixi! — Romero disse saindo do banheiro.

— Meu não tô sentindo meu corpo, alguém liga pra ambulância. — Richarlison murmurou, já deitado na cama, pronto para dormir depois de um bom banho.

— Pra voltar pro hospital? Infelizmente você vai ter que ir conhecer Jesus. — Oliver balançou a cabeça em negação, entrando no banheiro.

— Eu prometo levar flores pro seu túmulo no dia do seu aniversário, vai com Deus amigo. — Cristian acenou para o amigo, como se estivesse se despedindo.

Um travesseiro voou diretamente para o rosto do argentino, sem dar a menor chance de reação ou esquiva, o golpe foi lançado com tanta precisão que o brasileiro se perguntou por um momento de deveria virar um atleta de arremesso.

Richarlison, apenas se virou de costas para o amigo, mostrando sua indiferença à enxurrada interminável de insultos e xingamentos proferidos por Romero, que não economizou vocabulário ou criatividade na sua revolta. Sentiu uma pontada de cansaço percorrer todo o corpo enquanto encontrava uma posição confortável. Seus olhos se fecharam suavemente, como quem se entrega ao sono iminente, e ele mergulhou em um torpor reconfortante.

O som abafado dos passos de Oliver, o cansaço do dia expresso nos seus impacientes tropeços, ecoou pelo corredor até os ouvidos adormecidos de Richarlison. O amigo, recém-saído do banheiro, prosseguia com suas lamúrias, reclamando do fatídico dia enfrentado. As palavras, misturadas com sua própria exaustão, tornaram-se apenas um murmúrio distante, ao fundo, como se pertencessem a um mundo paralelo.

E assim, imerso em um sono profundo e revigorante, Richarlison deixou para trás as preocupações e os confrontos. Em sua tranquilidade recém-descoberta, ignorou qualquer conflito que se desenrolava ao seu redor, mergulhando em um mar de calma e repouso. O único som que permanecia, de forma quase imperceptível, era a melodia suave e ritmada de sua própria respiração.


Um som agudo e implacável soou pelo ambiente, trespassando o silêncio, um som que a indignação no coração de Richarlison reconhecia tão bem. O ranger insistente do maldito despertador.

Os olhos piscaram com uma mistura de cansaço impaciente e raiva reprimida. Já tinha testemunhado a destruição de diversos despertadores, sacrificados em ataques motivados por aquele tormento sonoro, o despertador era quase um item fixo em toda compra do mês.

— Levanta. — Alguma coisa foi jogada no brasileiro. — Se você não se arrumar logo eu te deixo, tenho uma cirurgia às dez da manhã hoje.

— Mais dez minutos, por favor. — Murmurou rouco.

— Esses dez minutos vão ser descontados no seu café da manhã então.

Mesmo que cada músculo e osso do seu corpo implorasse para continuar aconchegado da cama, Richarlison reuniu coragem e força que não existiam em si naquele momento, para se obrigar a levantar. Os movimentos, porém, eram penosos, ele se arrastou até o banheiro, como se estivesse carregando o peso de todo o universo nas costas.

Com muito custo, abriu a torneira do chuveiro e deixou a água morna fluir sobre seu corpo. Cada gota que escorria por sua pele era como um pequeno alívio. Esfregou-se com a determinação de quem enfrenta uma batalha, arrancando o sono de cada poro.

Se vestiu encarando o espelho com cansaço e desânimo. Cada peça de roupa parecia um fardo a mais que ele precisava carregar naquele dia de apatia. Enquanto lutava contra sua própria exaustão, a voz de Romero ressoava irritantemente em seus ouvidos, como um incansável lembrete para apressar o passo.

Na Batida do Seu Coração | 2SonOnde histórias criam vida. Descubra agora