Capítulo 11

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Dias atuais, Sunshine narrando

Já se passaram quatorze anos desde o dia que eles me prometeram voltar. Todo aniversário eu fico sentada na beira da praia, esperando eles. Prefiro pensar que de onde eles estão, eles estão olhando o pôr do sol comigo.
Lembro do dia do enterro dos meus pais, me disseram que eles morreram afogados. Que minha mãe caiu do navio e meu pai pulou pra ajudar e não conseguiu salva-los.
Eu cresci com a família de Carlos, tive muito amor direcionado a mim. Mas sempre senti falta deles.
Meus amigos vinham me ver, só Seo-joon que não voltou desde o meu aniversário. Eles foram morar na Coreia, em Seoul, logo após o acidente dos meus pais.

Quando fiz dezoito anos eu comecei fazer intercâmbio em alguns países. Estava me preparando para assumir as empresas do meu pai e as minhas, deixadas por minha mãe.
Laura sempre me orientou muito bem, ela ainda cuidava das coisas das empresas e sua irmã Lua também passou a cuidar com o tempo.
Agradeço a Deus, pois sempre tive pessoas amáveis no meu caminho. Mas eu era um pouco dependente emocionalmente das pessoas, achava que não conseguiria ser feliz sozinha.

Com dezenove anos fui para a Itália, fazer intercâmbio. Pra minha sorte encontrei Pablo, é bom ter um rosto conhecido por perto. E aqui estou desde então.
Pablo já mora aqui há muitos anos e eu nem sabia que estava indo pra mesma cidade que ele. Ele tinha vinte e dois anos e eu dezenove, quando cheguei na Itália. Cheguei a ficar algumas vezes com Pablo, mas percebi que ele não queria um compromisso sério comigo. Ele também não fazia muito meu tipo, mas eu acabei que fiquei dependente emocionalmente dele. Deve ser porque não conhecia muitas pessoas por aqui, também não gostava de sair.
Nesses dois anos de Italia eu já sofri muito com Pablo, ele sempre passava com uma outra garota na minha frente, só pra me ferir.
Comecei a querer ficar depressiva, não tinha ânimo pra nada e estava vendo pra voltar logo pro Brasil.

Uma amiga de intercâmbio me indicou um terapeuta. Ela falou que ele era muito bom, que já tinha ido em algumas consultas com ele. Que além de terapeuta ele estava se formando em psiquiatria.
Liguei e agendei a consulta. Marcaram para amanhã logo cedo, teve uma pessoas que tinha desistido.
O dia amanheceu e eu estava bem animada. Tomei um banho e vesti um vestido vermelho midi com poá, com mangas bufantes. Calcei um all star branco e passei uma maquiagem leve.
Hoje vou tentar me livrar disso tudo que tenho guardado dentro de mim.

Desci para a garagem e peguei meu carro, nem acredito que estou indo pra minha consulta. Carrego comigo a almofada que ganhei dos meus pais e o chaveiro que ganhei de Joon. A almofada eu deixo em casa ou no carro e o chaveiro sempre fica na minha bolsa. Quando estou nervosa, ou coisa parecida, eu fico virando os paetês do chaveiro. Daí eu me acalmo.

Estacionei o carro e fui andando até a recepção do grande edifício. Na recepção me disseram que a sala era no nono andar.
Entrei no elevador e desci no nono andar. O lugar era muito bonito, trazia paz.
Eu dei meu nome na recepção e fiquei de pé de frente para uma parede de vidro, estava virando os paetês da almofadinha do chaveiro. Me distrai olhando lá para baixo.

- Senhora Sunshine. - A recepcionista tocou meu ombro. Eu dei um pulo, levei um baita susto.

- Desculpe-me. Estava distraída olhando a paisagem. Tenho andado com a cabeça cheia.

- Entendo como é, o doutor está te esperando.

- Tá ok. - Ela mostrou a sala que eu devia entrar, me deu meu prontuário para entregar para o médico e se retirou. Ao entrar na sala, descobri que eu tinha esquecido de perguntar o nome do médico.

- Pode entrar e ficar a vontade, deixa só eu acabar de escrever aqui. - O médico estava de cabeça baixa, escrevendo no prontuário da última paciente que atendeu antes de mim. Sua voz trazia paz aos meus ouvidos.

- Pode terminar, não tenha pressa.
- Fiquei de pé, olhando a cidade pela parede de vidro.

- Prontinho! Em que posso ajudá-la? - Quando me virei para ele, o seu rosto mudou. Ele parecia ter visto um fantasma. Me olhava de cima a baixo e parou os olhos no chaveiro que estava na minha mão.

- O que foi? - Fui andando em direção a sua mesa. - Tem algo de errado comigo? - Mostrei preocupação e logo fui sentando. Vai que ele viu alguma coisa que eu não consigo enxergar.

- Sunshine... - Ele tirou seus óculos e esfregou os olhos.

- Como você sabe meu nome? - Talvez ele tenha checado o nome dos pacientes antes de chama-los.

- Você ainda tem esse chaveiro? Já fazem quatorze anos.

- Como você... Pera aí... Seo-joon? É você?

- Sim, sou eu. - A cara dele era de uma pessoa que estava pasma.

- Mentira! Vem aqui me dá um abraço. - Eu nem sabia se podia abraçar um médico em seu ambiente de trabalho, mas eu não estava nem aí pra formalidade e ética nesse momento. Eu tinha encontrado meu melhor amigo de infância.

- Claro, claro que eu vou te abraçar. - Ele levantou rapidamente e me puxou para um abraço. Aquele abraço foi bem diferente de tudo que me lembro ter sentido.

- Que saudade eu senti de você. Você não sabe como eu te procurei... - Quando dei por mim, estava em lágrimas.

- Eu também estava morrendo de saudades de você. Como você está?

- Não muito bem, por isso estou aqui, né? - Eu ainda estava abraçada com ele. Ria e chorava ao mesmo tempo.

- Verdade. - Ele riu de volta. - Eu te acompanho tem uns seis anos. Sempre quis entrar em contato, mas minha mãe dizia que era melhor não. Eu ia viajar para o Brasil esse mês e tentar encontrar você, daí olha quem me encontra...

- Verdade. Que coisa louca! Venho me tratar e encontro uma pessoa que sempre me ajudou indiretamente.
- Nos soltamos e começamos a conversar.

- Como assim? Indiretamente? - Ele colocou seus óculos novamente após nos sentarmos.

- Sim. - Levantei o chaveiro que estava em minha mão. - Eu carrego para todos os lugares. Me ajuda muito quando estou nervosa e me sentindo sozinha.

- Sério? Que felicidade poder saber que contribui para algo bom em sua vida. Mas me conte, o que te traz aqui?

SunshineOnde histórias criam vida. Descubra agora