Capítulo 01

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—Não acho que deve apenas ignorá-lo mas sim, denunciar á polícia.—Contesto á minha amiga ao terminar de acariciar minha boca com o gloss de morango em minhas mãos, arrumo o pequeno espelho do carro e saímos do veículo.

—Eu sei...mas é complicado...papai disse que a polícia está pegando pesado com pessoas envolvidas com "Rositas". —Bate a porta do carro um tanto avoaçada.

—E você não acha certo? Essas...drogas todas, estão acabando com a cidade, você não se lembra da Rebecca? —Dou uma pausa em nossa pequena caminhada no claro e tumultuado estacionamento da faculdade.

—Agora você pegou pesado...e outra, Rebecca foi mor...aquilo aconteceu com ela em uma briga com traficantes de rua e não exatamente pelo consumo da droga e...

Entrego-lhe uma cara nada amigável, incrédula, afinal ela está dizendo isso mesmo? —Tá...ok, estou falando baboseiras...eu só queria uma explicação mais plausível para o que aconteceu com ela... 

Suspiro. Rebecca era uma de nossas amigas, fazia uso das "Rositas" assim que chegaram ao país, lembrar de tudo ainda dói, seus momentos um tanto intensos na faculdade ou em qualquer outro lugar... foi algo traumatizante para nós e seus colegas de sala.

E sobre Margot, seu agora, EX namorado a ofereceu Rositas em sua casa ontem á noite, minha amiga surtou quando o viu usar aquilo.

—Sabe o que é melhor? Parar de falarmos disso, Carlos já é bem grandinho para saber o que é bom ou não para ele. —Finalizo a conversa deixando minha amiga, de alguma forma, mais tranquila.

—Falaremos da sua festa este sábado e de como eu estou ansiosa para dançar e beber com minha amiga!

—Ah nem me fale! Estou muito eufórica com a boate que Rafael nos indicou, é perfeita! Ele disse que após a meia noite a bebida é por conta da casa...

—Ah, mas você nem precisa disso, tem um paizinho que paga tudo! —Ressalta em carência

—Margot... você acha mesmo que eu disse para meu pai que iremos a essa boate? Papai me faria ir acompanhada por pelo menos 5 de seus seguranças! Seria um saco...

—A pobre menina rica...

Antes que eu pudesse ofendê-la de alguma forma, Rafael me surpreende com um beijo carinhoso.

—O que vocês tanto conversam? Não sabia que uma caminhada até a entrada da escola levaria tantos minutos!

—Estávamos falando em como vamos comemorar meu aniversário e por falar nisso...

—Sim, meu amor , eu vou conseguir sair do trabalho mais cedo para encontrar vocês lá...

Tomo uma camada grande de ar e a solto em plenitude, alívio, por finalmente estar tudo pronto.

—Agora falta a sua parte do acordo. —Diz ele num tom melancólico.

Rafael me pediu para ir conhecer seus pais o quanto antes. Eu gosto muito do Rafa mas conhecer seus pais com apenas 3 meses de namoro, acho um pouco precoce.

Não é?

—Eu prometo que vou fazer isso mas vamos esperar um pouquinho só?

A feição do louro cai em desânimo e Margot some de vista ao pressentir uma DR.

—Por que é tão difícil para você ver o quanto esse relacionamento é importante para mim? Eu quero conhecer sua família e quero que conheça a minha...

—Você conhece meu pai!

—Por fotos na internet, não vale, Gyulia!

Fico sem mais respostas prontas para lhe entregar.

—Eu vou pra aula, conversamos mais tarde.

E sem mais algum olhar, palavra ou até um abraço, Rafael some entre as árvores na entrada do colégio.

Acho que ele venceu dessa vez, talvez seja a hora afinal.

Não me sinto pronta, nunca assumi relacionamento sério com ninguém, namorar é bom mas as vezes é cansativo ou enjoativo. Não quero conhecer os pais de Rafael para depois partir seu coração se caso eu simplesmente quiser acabar com tudo.

Não é justo.

-—Você está maluco? Não estou fazendo isso por causa do trabalho estúpido de vocês dois! Me deixem em paz! —Uma aluna de aparentemente 1,50 de altura gesticula sua fala histérica á dois homens altos e bem vestidos, encostados gentilmente em uma BMW preta, os dois homens vestem óculos escuros e roupas sociais já a garota se apresenta com macacão jeans e uma blusinha branca.

Será que ela precisa de ajuda?

O maior deles sussurra alguma coisa enquanto me encara ,parada, xeretando sua conversa. De repente todos os 3 estão me encarando.

Antes que ficasse vermelha de vergonha continuo meu curto percurso para a escola e minha sala de pedagogia.

—E aí gata? Terminaram? —Margot se sobressai ao me ver sentar ao seu lado no auditório já quase lotado.

—Não, Margot! Estou pensando em ir mesmo conhecer a família dele...—Jogo meu corpo no banco confortável.

—Essa eu pago pra ver. —Solta uma risada debochada.

Antes que tivesse a chance de contestar sua frase maldosa, professor Henrique adentra a sala com seu silêncio e arrogância perturbadora.

Todos nos aquietamos ao ouvir sua caneta escrevendo teses em seu quadro branco.

Henrique parece ainda mais estressado que nos outros dias e sinceramente, achei que seria impossível disso acontecer.

A grande porta do auditório se abre em um estrondo e uma aluna desastrada invade a sala pedindo desculpas até para as moscas que ali haviam.

Reconheço seu rosto e roupas, ainda bem que está viva, aqueles homens que conversavam com ela não pareciam ser muitos gentis.
O professor Henrique, de forma mal educada segue seus olhos na garota até a mesma encontrar uma fileira com um lugar vazio, ela exerce uma feição bem frustrada quando vê que há um lugar disponível ao meu lado.
De maneira vencida e nitidamente desanimada ela se senta ao meu lado.

Resolvo ignorá-la mas a observo de canto de olho tirar seus materiais da bolsa de forma muito atrapalhada.

Que doida.

Após um silêncio constrangedor do professor ele começar a ditar suas primeiras palavras:

—Não me importo se alguns de vocês darão aulas para adultos, adolescentes ou até...crianças, o que me importa é a maneira como ensinarão a estas pessoas o que vocês tem de conhecimento... Gosto de profissionais que sabem do que estão ensinando e ainda mais que saibam EXPLICAR, dialogar com seus alunos e os ajudarem a chegar em tal compreensão e...

Claro. Professor Henrique é um ótimo exemplo de como ser um bom professor.
Dialogar com seus alunos? Isto está fora da realidade, talvez ele devesse rever suas próprias atitudes.

Margot e eu nos entreolhamos segurando a risada.










































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