Em suas mãos

17

   Acordei um pouco atrasada para o café da manhã, acabei tendo um sono pesado e assumidamente longo. Isso é muito bom na verdade, finalmente sinto-me confortável na mansão a ponto de conseguir dormir bem. 

Saio do quarto as pressas dando bom dia aos meninos que me seguem ainda mais apressados. Nem tenho tanta certeza assim do porque estou indo em direção a mesa de café em passos constantes e rápidos, mas acho que seja algo relacionado á encontrar Lorenzo para tirar algumas dúvidas sobre o que aconteceu ontem á noite. Ele ia me beijar mas depois...quando aquela ruiva irritada nos constrangeu, ele simplesmente me ignorou. 

Ao chegar no tal cômodo iluminado pela forte luz solar que emana dos gigantes vidros, vejo uma Amanda solitária, aparentemente incomodada com a ressaca. 

—Bom dia, Amanda, está se sentindo bem? —Pergunto-lhe gentil.

—Bom dia, Gyulia , meninos...eu estou só o pó, parece que aqui só há meu corpo pois meu espírito está longe...—Bebe grandes goles de seu café quente. 

Sento-me á sua frente servindo meu prato com alguns dos pães de queijo, bolo, acompanhados de um forte suco de laranja. 

—Tem planos para hoje? —Pergunta-me espontânea mas ao perceber a bobeira que disse ela sorri envergonhada. —Me desculpa Gyulia, eu esqueci que você não pode sair...

Dou risada. —Tudo bem, só tenho um plano para hoje: Hidromassagem, o dia inteirinho.

—É um bom plano, na verdade. 

—Mas o que você vai fazer hoje? 

—Vou a uma festinha na casa de um amigo depois da faculdade...falando na faculdade seu tio Henrique, perguntou se você gostaria de receber algumas de suas atividades para passar o tempo e também não ficar tão atrás assim de todo mundo. 

Sorrio animada. —Eu gostaria muito! Obrigada, Amanda. 

—Disponha. —Se espreguiça lentamente na cadeira elegante. —Mas me diga, gostou da noite de ontem? 

Engulo em seco. —Foi uma bela homenagem. 

—Ah nem me fale, comprada aos outros anos isso não foi nada, Lorenzo quis fazer algo mais simples para não chamar tanta atenção para você...

Isso não parece ter funcionado muito bem, as palavras maliciosas daquele velho parecem ainda me incomodar. 

—Simples? Tinha inúmeras pessoas aqui...

_Apenas amigos e conhecidos de meu pai. —Bufa. 

—Hum...e a Vivian? Trabalhava com seu pai também? —Pergunto impertinente. 

Amanda tira a atenção do fundo de sua xícara e me encara sorridente:

—Por que você perguntou dela? 

—Ah, ela me chamou atenção por ser tão bonita e elegante...

—Ah, Gyulia, não se deixe enganar, Vivian trabalha pro Lorenzo, nos conhecemos desde de crianças, eles namoraram por um tempo, na verdade, nem consideraria aquilo um namoro...—Diz perdida em suas lembranças.

Ah, claro. Agora entendo sua reação de ontem á noite. 

—Por que ela não mora aqui com os outros? 

—Gyulia, você acha que nossa casa é um orfanato? —Diz rindo de boca cheia. —Só mora aqui os homens de que Lorenzo precisa para proteger a casa, existem muitos outros por aí, cuidando de outros assuntos...entende? 

Mais uma vez eu sendo completamente burra em certas questões, sinto-me constrangida quando alguns deles me corrigem. 

—Entendi.

Atualizações:

Vivian trabalha para Lorenzo e ainda era sua "Amante", pela entonação que Amanda usou parece que esta mulher foi a que ele mais levou para seu quartinho especial (Ou seja meu quarto).

Não acho que Lorenzo ainda sinta algo por ela, nem ao menos, atração. O jeito que ele olhou para ela está última noite foi muito diferente do jeito que ele me olha todos os dias.

Seus olhos para as demais pessoas são frios e indiferentes mas quando eles pousam em mim algo acontece ali, não estou ficando doida, tem alguma coisa e sinto vontade de provoca-lo ainda mais, para descobrir de fato.

Lorenzo age como se fosse um homem inalcançável mas nada é inalcançável para mim. Lembrar de seus olhos ontem analisando cada curva de meu corpo, nitidamente cheios de pretensão e ternura fazem-me á vontade de querer mais. 

—Lorenzo está aonde? —Pergunto corajosa. 

—Trabalhando...acho que estará em casa daqui há algumas horas. 

Sorrio convencida e me despeço de Amanda levantando-me da mesa e seguindo a direção de meu quarto. 

_Gyulia, você está entrando em um caminho perigoso. —Beto alerta logo atrás de mim. 

—Do que você está falando agora? —Paro de andar lhe encarando levemente irritada. 

—Você sabe do que...vimos Lorenzo ir atrás de você ontem e...

—Vivian nos contou o que aconteceu e disse para ficarmos de olho em você. —Jim desabafa deixando Beto irritado. 

—O que você disse? Ela é o quê? Minha mãe agora?—Bato o pé. —Afinal o que ela lhes contou? Que Lorenzo iria me beijar? Por que se foi isso ela está 100% certa! —Continuo meu andar até o cômodo desejado. 

—Gyulia, Lorenzo não é um homem pra você. —Beto continua de forma preocupada. 

—Não é bom você se envolver com ele...

Apresso meus passos ignorando seus comentários inoportunos. 

_Você merece alguém direito, um homem de bem...que tenha um trabalho digno e não te ponha em perigo a cada instante do dia. 

_E além do mais ele sabe disso e vai te ignorar até você se cansar. 

Faço uma cara raivosa e encaro os homens insistentes:

_Ele não vai conseguir me ignorar. 

—Vai por mim Gyulia, Beto está certo, Lorenzo jamais permitiria se envolver com alguém tão diferente dele, ele sabe que te machucaria de alguma forma.

—Tão diferente? —Cruzo os braços ofendida. 

—Gyulia, você sabes quantas coisas ruins Lorenzo já fez? 

—E você mal sabe olhar feio para alguém, você não ameaça nem uma mosca. 

Bufo irritada. —Vocês são ridículos e eu vou deixar Lorenzo na palma da minha mão, como todo homem que eu já quis. 

Beto e Jim se entreolham segurando a risada. 

Idiotas, esperem só para ver.