—Margot comentou que você...talvez não esteja bem da cabeça. —Tio Henrique diz enfim. Eu já imaginava que ele seria o primeiro a atender minha ligação após aquela última mas em nenhuma das minhas realidades de existência imaginaria que tio Henrique, seria, pela primeira vez sereno ao proliferar uma palavra. Sua voz está extremamente pacífica, posso sentir também a calmaria da sua respiração.
—Tio, eu posso ter feito a coisa mais estúpida da minha vida...—Sinto-me confortável em lhe dizer o que aconteceu, pela primeira vez em minha vida. —Eu gritei com Lorenzo...e foi na frente de todos da casa, praticamente. Eu não estou apavorada mas todos ao meu redor parecem estar, isso aconteceu faz uns dois dias, não tive coragem de sair do quarto mas quando algum funcionário vem gentilmente me trazer comida...fazem uma cara de desagrado ou receio como se algo estivesse pegando fogo lá fora...
Houve-se um silêncio atrás da linha de chamada, um silêncio fúnebre como em um cemitério vazio. Acho que tio Henrique vai surtar agora, deve estar me preparando suas piores ofensas:
—Como Lorenzo reagiu?
—ele...ele...não gritou de volta ao contrário...acatou o que eu lhe disse.
Tio Henrique dá uma leve risada. —Gyulia, eu queria ter visto isso também.
—Não está bravo comigo?
—Não, Lorenzo deve estar , eu não.
—Como assim? O que está acontecendo?
—Gyulia, seu pai confiou você á ele não acho que exista nada que você possa fazer á ele, que vá realmente arriscar sua vida.
Suspiro. Essa não era a resposta que eu queria, talvez se Henrique tivesse gritado teria sido melhor.
—Acha que ele só não disse nada por isso? Por...dever ao meu pai?
—Você queria que fosse por outra coisa?
sim...eu acho...
—...você não vai vir tomar banho comigo? —Ouve-se a voz de Margot no fundo da ligação.
Meus olhos quase caem do rosto. —COMO ASSIM TOMAR BANHO COM ELA, HENRIQUE?
Tio Henrique desliga o telefone apressado. Caio em uma risada sincera.
Ele estava calmo demais para ser verdade, não acredito que Margot caiu no rostinho bonito de Henrique porque certamente com sua personalidade não foi, o cara bota pra correr qualquer pessoa que seja. Ah, como eu desejaria ver isso acontecendo, nunca em nenhuma hipótese na vida vi meu tio com alguém de forma romântica! E com seus 30 anos isso finalmente aconteceu! Hahaha.
Ouve-se toques suaves na porta. Engulo em seco, nunca sei se é Lorenzo ou alguém me trazendo algo para comer. Levanto-me da cama, arrumo os cabelos com as mãos e ressalto:
—Pode entrar.
Jim e Beto adentram o espaço grande de forma educada, o japonês segura uma bandeja com o almoço de hoje, encaro o objeto prateado e vejo deliciosas peças orientais bem recheadas.
Sorrio um tantinho forçada, eu esperava que fosse outra pessoa, não fazendo descaso deles, jamais, só estou curiosa em saber dele.
—Deram finalmente sinal de vida. —Começo cautelosa sentando-me na cama.
Não os vi desde daquela situação embaraçosa com Lorenzo no celeiro. Jim me serve de forma gentil, já Beto puxa a cadeira da penteadeira de forma brusca e se senta ao meu lado:
—Não tivemos tanto tempo para vir vê-la e ver se você está ficando doida ou algo do tipo.
Reviro os olhos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Em suas mãos
RomanceOs respingos de sangue se chocam em meu vestido vermelho clássico, um tanto curto demais. O barulho de estouros estalam os meus ouvidos fazendo-me incômodo com o agudo que agora, ecoa em minha mente, os homens bem vestidos que me prenderam nesta sal...