Capítulo 04

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  Meu Deus, só há apenas um mísero e coitado mamão nesta geladeira.

Não fiz mercado essa semana, na verdade eu mal me lembrei disto já que sou acostumada a pedir refeições por aplicativo.

Mando uma mensagem à Margot para após a aula passar no "Sushi Han" trazer aquele combinado generoso! Deu água na boca só de imaginar.

Pego a fruta um pouco madura demais, pico seus pedaços em um prato e a recheio com o resto de leite condensado que ali havia.

Me jogo no sofá dando play no primeiro filme que aparece.

Hoje não fui para a faculdade, fiz um "trash day" onde só ficaria de pijama em casa comendo porcarias na frente da TV.
  Assumo que passei metade do dia á espera de alguma notícia do meu pai mas sem sucesso. Não acho que ele tenha o direito de ficar chateado comigo, já eu, tenho todos os motivos do mundo.

Rafael me ligou hoje de manhã, pediu desculpas sobre aquela conversa que tivemos, mas logo se animou quando disse a ele que comentei sobre nosso relacionamento ao meu pai, que ficou muito feliz.

Não me senti confortável para dizer à ele sobre as coisas ruins que aconteceram ontem, até porque eu nem ao menos contei a ele toda a história com minha mãe.

Não gosto de falar sobre isso com ninguém, odeio me sentir vulnerável e frustrada, mostrar de certa forma minhas "fraquezas" faz eu me sentir feia e fracassada.

Na metade do filme a campainha toca, de forma preguiçosa abro a porta e me deparo com um Henrique cheio de sacolas nas mãos.

—Aaah, olha quem temos aqui...—Apoio meu corpo no batente da porta o olhando em presunção.

Henrique desmancha um sorriso debochado. —Não sabia que a minha vó tinha te emprestado um dos pijamas dela.

Exerço me ofendida, este pijama do Pernalonga é um clássico! Henrique invade minha casa, apoiando suas sacolas na bancada.

Fecho a porta ainda irritada com sua ofensa.

—O que faz aqui?!

—Sua redação ficou tão ruim que tive que vir à sua casa pessoalmente te dar uma bronca!

Bufo. —Mentiroso.

—Margot me contou o que aconteceu, bom, eu já esperava isso do seu pai não sei porque você ficou tão surpresa, mas como um bom homem caridoso que sou, vim ver se você estava bem.

—Eu não estou bem, perdi um par de botas caríssimas ontem ...

Sento-me de mal grado na bancada analisando suas compras, será que há um doce por aqui?

— Margot comentou sobre o ocorrido, e você não sabe o que eu daria para ver esta cena pessoalmente! —Cai em uma risada maligna. —Mas hoje vim fazer uma janta para nós, sabia que sua geladeira estaria bem pior que da última vez...—Reviro os olhos. —Não adianta procurar por doces aqui, eu não como esse tipo de comida.—Coloca suas mãos sob as sacolas para as defenderem de mim.

—Por isso você é desalmado. —Henrique me olha feio.

Meu tio começa a preparar sua refeição no fogão embutido, vi o colocar cuidadosamente o macarrão para cozinhar.

 —Cadê a Margot?

—Está lá embaixo na portaria conversando com o Jair. —Jair o porteiro, será que aconteceu alguma coisa? —Espero que ela suba logo, está com a sacola com o extrato de tomate.

—Calma aí vocês foram ao mercado juntos?

—Sim, por quê? —Cruza os braços.

—Deve ter sido como uma "prova do líder" de resistência para a Margot! Te suportar por mais de 5 minutos em um ambiente diferente da faculdade... quer que eu seja sincera? Acho que Margot vai deixar as sacolas lá embaixo e não vai voltar aqui nunca mais!

Assim que Henrique abre a boca para proliferar palavras de provável, baixo calão, Margot adentra a residência um tanto afobada com suas sacolas.

—Jair está indignado com a Tina do 17° andar!

—Calma... você atrasou meu molho fazendo estadia com as sacolas lá embaixo para saber da vida alheia?

—Sim! E se o machão de 30 anos tivesse força o suficiente para levar todas as sacolas, talvez já estivéssemos jantando!

Margot parece se arrepender prontamente assim que suas palavras saem da boca. Parece que ela se deu conta de que ali estava presente o nosso professor.

—Justo.

A única coisa que o homem diz.

Margot separa os ingredientes com cautela, prende os cabelos e começa o preparo de uma sobremesa de morangos.

Eu permaneço assistindo os dois se movimentarem de forma organizada na cozinha.

Logo entediada, pego meu celular dando uma olhada em alguns status  da equipe da boate, várias fotos e o cardápio de bebidas.

Estou decidindo por onde vou começar amanhã...

—Vodka ou tequila?

—Os dois. —Respondem em coral.

—Quer saber? Vou beber de tudo, tudo liberado! Eu quero beber até cair! —Digo animada.

—Só não vale cair no chão que nem ontem. —Margot balbucia, dando início a risadas altas acompanhadas de Henrique.

Faço uma cara constrangida abandonando os dois na cozinha, subo as escadas do ambiente e adentro o quarto iniciando-se uma ligação.

—Oi meu amor, tudo bem? —Rafael diz quase em um cochicho.

—siim! por quê estamos cochichando?

—...estou em uma reunião do trabalho...

—poxa, mil desculpas! Eu não sabia! Não precisava ter aceitado a ligação...—Jogo-me na cama grande e confortável.

—eu jamais recusaria uma chamada sua...—Sussurra de maneira sexy.

—Hmm....que tal você vir aqui depois dessa reunião chata, ein? Pra gente dar uma esquentada pra amanhã...—Provoco.

—hahaha, eu adoraria mas ao sair daqui vou comprar o seu presente pois eu sou um péssimo namorado e deixei para última hora...

—Ah, eu sei muito bem que presente você poderia me dar...

—Ual! Como você está ousada, senhorita Gyulia! Mas eu ainda vou me esforçar para te dar o melhor presente do mundo!

—Então é melhor você correr pois já passam das dez da noite!

—Nada é impossível para mim, gata!

—Tchal, Rafa, beijos e até amanhã!

—Tchal, Gygy... eu te amo. —Meu coração acelera um pouco. É a primeira vez que Rafael diz isso e antes que eu respondesse alguma coisa, Rafael desliga.

—Puta merda! —Exclamo assustada.



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