Não há um mínimo e pequeno batom rosado ou vermelho neste quarto, para eu apresentar uma boa imagem a quem quer que more aqui, meu rosto está pálido como fantasma e exausto como a de um universitário.
Pelo menos o vestido preto e pequeno que Amanda colocou na pilha de roupas emprestadas, marca bastante minha cintura e quadril deixando-me de certa forma...bonita.
Olho-me no espelho novamente tentando fazer um coque sem o uso de grampos ou xuxinhas mas nada adianta, decido deixá-lo solto mesmo, não que eu tenha outra opção.Sento na cama em uma eterna frustração.
Não posso ir à faculdade, ver meus amigos e nem ao menos me maquiar ou usar roupas coloridas, pois Amanda parece ter um limite de cores em sua paleta.
Mas para quem mesmo eu quero chamar atenção? Os guardas que estão do outro lado da porta?
Arg. Que saco.
Levanto-me à procura dos sapatos ou melhor rasteirinhas tamanho 35 , pego o par branco e visto nos pés, arrumo as mangas do vestido mais uma vez e com um suspiro eu atravesso a porta.
—Bom dia! —Saudo os garotos grandes da porta que começam a escoltar até minha sombra. Ando alguns corredores na intenção de encontrar algo parecido com uma blibioteca mas sem sucesso. —Vocês poderiam me levar até a blibioteca?
—Blibioteca? —Diz o japonês com seu terno bem passado. —Amanda não deixa ninguém entrar lá!
—O lugar é meio que...dela. —O louro adiciona sua fala.
—...Lorenzo me falou que poderia ir até lá...—Respondo confusa.
Os dois se entreolham em curiosidade. Antes que o cara de olhos puxados pudesse dizer alguma coisa Lúcia aparece de surpresa.
—Bom dia, senhorita Gyulia! Que ótimo vê-la perambulando por aí!
Sorrio á senhora que exala felicidade. —Lorenzo disse que poderia ir a blibioteca...
—Ah mas é claro! Eu a levo até lá, mas antes vamos dar uma passadinha na cozinha, o pessoal quer conhecê-la!
Antes que eu pudesse perguntar quem o "pessoal" seria, Lúcia enlaça seu braço no meu e me leva a um cômodo enorme. Ao adentra-lo vejo várias pessoas com o mesmo uniforme que o de minha nova amiga, todos correndo para lá e para cá. Uma cozinha é enorme e muito bonita, grandes fogões, prateleiras e pia de mármore...e o cheiro delicioso que a panela de pressão exala faz minhas narinas e estômago dançarem em uma só canção.
—Pessoal essa é a Gyulia!
Todos param o que estavam fazendo para posicionar os olhos curiosos em mim.
—É bonita.
—Um tanto comportada demais.
—haha Lorenzo deve ter gostado.
—é muito diferente do que ele está acostumado...se é que me entende.
Meus olhos piscam freneticamente após ouvir tantos cochichos aleatórios.
—Achei que nunca fosse sair do quarto, querida... está se sentindo melhor? —Uma mulher ruiva, vestida como chef de cozinha, se aproxima de mim de forma carinhosa.
—Eu...estava...bom, não estava me sentindo bem para sair de lá... é tudo muito novo para mim.
Com um sorriso singelo ela me dá um grande abraço apertado. Sinceramente, estava precisando de um bom abraço assim, sinto-me acolhida e algo dentro de mim se acalma por completo.
—Eu sou Renata, é um prazer!Sorrio sem graça.
—Agora todos voltem a trabalhar! Precisamos terminar nossas obrigações até o almoço!! —Renata grita aos companheiros que voltam a correria de segundos atrás.
—Todos nós trabalhamos para a família Belmonte, com muita dedicação! A família cresceu muito nesses últimos dias...—Lúcia se sobressai acariciando seu avental branco.
—O que é a "Família"? —Pergunto curiosa.
Lúcia me olha com um pouco de receio. —São os meninos que trabalham com Lorenzo, menina...podem até assustar mas eles são mais carentes que crianças longe da mãe. —A mulher encara os homens atrás de mim com os olhos cheios de amor.
Bom, não era o que eu esperava.
Minha mente me apresentou cenas aonde os empregados eram maltratados e ameaçados com armas ou outros tipos de torturas...
Não me julgue! Eles são mafiosos! Não imaginei que veria uma relação "Amigável" entre os funcionários e os moradores da mansão.
—Estão tratando a garota bem? —Lúcia dirige sua fala aos homens tentando manter uma postura firme.
Cruzo os braços. —Eu nem ao menos sei o nome deles.
—Não. Não podemos falar com você, senhorita Gyulia. —O loiro exalta irritado.
—Por quê?
—Lorenzo brigou com os dois semana passada por serem um tanto..."invasivos" na vida alheia. —A senhora de avental branco parece se divertir com a situação. —E desde de então os dois amigos estão tentando provar que merecem respeito como os outros.
Então é como se tivessem colocado o Debi e o Loide para cuidarem de mim.
—Isso não é verdade...e a propósito senhorita, me chamo Jim e esse é o Beto.
Sorrio ao japonês que se apresenta com educação.
A confusão e o barulho na cozinha se aumenta, Lúcia nos tira de lá, iniciando nosso percurso até a biblioteca.
Faço com que meu cérebro grave cada pedacinho do caminho, me perderia fácil por aqui.—Lúcia...por que as roupas do Lorenzo estavam no meu quarto? O quarto era dele? —Pergunto astuta.
Lúcia parece se envergonhar com minha pergunta, com seu balançar de cabeça sinto que a mulher está em uma incansável procura de como vai responder á essa questão.
—De certa forma era sim.
—De certa forma? Como assim?
Os dois homens atrás de mim parecem meio envergonhados também.
—Ele usava aquele quarto para passar algumas...noites... é...—A senhora coça seus cabelos castanhos esbranquiçados um tanto nervosa.
—Eu não estou entendendo.
—Ele usava seu quarto com outras mulheres, Lorenzo nunca deixou uma mulher entrar em seu quarto privado, por isso fazia desse... seu lugar —Jim solta de vez, Beto parece o fulminar pelos olhos.
—Mas o quê??! Que nojento! O meu quarto era um cômodo especial para Lorenzo transar ???! —Aumento a voz em indignação.
Lúcia fica vermelha. —Mas senhorita, por favor, não fique enojada. Arrumamos todo o quarto para sua estádia, está tudo limpo e bem cuidado....
—Isso é o cúmulo mesmo, que cara estúpido!
—Olha, só não conte a ele que você sabe disso. —Beto corrompe os 3 metros de distância que havia entre nós e se aproxima de mim em receio.
Respiro fundo. —Eu não vou dizer nada.
Reviro os olhos imaginando quais cantos do quarto Lorenzo gosta mais.
Isso é irritante.
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Em suas mãos
RomanceOs respingos de sangue se chocam em meu vestido vermelho clássico, um tanto curto demais. O barulho de estouros estalam os meus ouvidos fazendo-me incômodo com o agudo que agora, ecoa em minha mente, os homens bem vestidos que me prenderam nesta sal...