— Você foi esperta...colocar o celular dentro daquela van...foi algo muito inteligente, Gyulia, se não fosse por isso, nós levaríamos mais tempo para localizá-la. —Consigo encarar os olhos cautelosos de Vivian no retrovisor de seu carro.
Estou enrolada em um cobertor, ainda sem minhas roupas pois saímos ás pressas daquele galpão, sem preocupação de saber aonde elas estariam. Papai esta á meu lado no banco de trás, ele me abraça com força como se a qualquer momento eu fosse ser sequestrada de novo.
—Lorenzo me mandou sua localização pois eu moro por aqui, era a mais próxima de você, ele está a caminho com os demais, iremos para minha casa. —Ela ressalta confiante.
Estou calada, mal consigo raciocinar meus próprios pensamentos, sinto-me em uma lastimável amargura, parece que tudo foi minha culpa, por escolhas tão banais como sair do quarto aquele momento, pedir a garrafa de Bourbon para dar ao papai...e se eu tivesse ido ajudar Lúcia com os cachorros?...e se eu tivesse ido ao quarto de Rute? Teria percebido sua porta trancada, a soltado e com sorte teria tempo de fugir. Talvez se eu não tivesse ficado confusa com a ligação de Lorenzo e acatado suas ordem de forma imediata...Jim ainda poderia estar vivo e eu não teria tido essas feridas feias que tanto ardem em minha pele, sem contar os olhos inchados e roxeados.
Não queria ter acordado de meu desmaio lá no galpão, queria ter ficado inconsciente e acordar medicada em uma cama de hospital mas meu corpo ainda está em alerta fazendo-me ter que lidar com o choro enraivecido de papai e a preocupação de Vivian sob mim, mas ao invés de tentar lhes dar qualquer reação de vida encontro-me apática, com os olhos frívolos, secos e cabisbaixos, imóvel, mergulhada em um profundo silêncio.
Roberto está desacordado no porta malas mas parece que está aqui comigo, pronto para ligar seu bastão elétrico em mim, me bater ou pior...tocar em mim. É ainda mais difícil compreender que um deles colocaram suas mãos sujas em mim para remover minhas roupas, sinto-me uma completa imunda. A bebida fez com que eu dormisse por um tempo, tempo do qual não tenho nenhuma noção, não sei o que fizeram comigo enquanto estava inconsciente.
O carro de Vivian estaciona numa casa grande acomodada em uma rua fria e completamente deserta, papai me pega no colo ainda enrolada na coberta cheirando a velho, entramos na casa vazia e Vivian gentilmente nos leva a um quarto grande, Arthuro coloca-me na cama macia e se senta a meu lado, Vivian acende a luz branca do quarto o que faz com que toda minha pele se arrepiasse e meu sistema nervoso colidisse com o trauma:
—não...não...apaga, apaga. —Imploro escondendo também meu rosto na coberta, assustada Vivian clica novamente no interruptor deixando o quarto iluminado apenas pela luz fraca do corredor.
—Filha...—Papai se aproxima tocando minha perna mas em um reflexo considerável eu me afasto dele.
—Melhor deixar ela respirar um pouco. —Vivian ressalta delicada.
Em instantes eles abandonam o quarto fechando a porta e me deixando em um completo escuro, deito-me na cama cobrindo até os longos cabelos, mesmo ainda sem acesso há minúsculos pontos de luz que seja, meus olhos parecem ainda vivenciar a luz forte que Roberto chocava contra minha pele, as feridas ardem ao se encostarem no tecido grosso do cobertor mas mesmo assim não consigo tira-lo de mim não quero me obrigar a ver como meu corpo e rosto estão e também não quero que ninguém veja.
Descubro meu rosto para tomar um pouco de ar, respiro e inspiro mais algumas vezes, posso escutar sua voz e seus passos apressados se aproximando:
—Aonde ela está?! —Lorenzo grita entre as paredes da casa.
—Melhor deixa-la sozinha, Lorenzo, ela está em choque! —Vivian exclama.
Lorenzo abre a porta do quarto, seus olhos cheios de agonia encaram-me, ele se aproxima de mim:
—Eu sinto muito, não devia ter a deixado sozinha, eu jamais vou fazer isso de novo, Gyulia me perdoa. —Lorenzo se ajoelha ao chão em lágrimas excessivas.
Não é culpa dele, jamais trataria Lorenzo como culpado, tudo foi culpa de Rick. Como eles imaginariam que ele trairia sua família e seus aliados? por mais que eu tivesse medo de sua pessoa...me sequestrar e me entregar para a tortura não estava em minhas suposições sobre sua personalidade.
Minhas emoções até então aprisionadas resolvem explorar seu exterior fazendo com que eu me renda a um choro árduo, sinto como se minhas cordas vocais vibrassem o cômodo inteiro, meu peito sobe e desce várias vezes, sento-me na cama despindo metade de meu corpo machucado, os olhos de Lorenzo analisam cada centímetro se entregando a sentimentos odiosos, assim como papai está no canto do quarto.
—O que fizeram com você?....o que... —Lorenzo tenta me tocar mas eu o afasto de mim de forma espontânea.
—...Lorenzo, eu preciso de um médico...preciso saber o que fizeram comigo quando eu estava ...desacordada. —Suplico chorosa.
O homem tatuado transbordando um ódio quase visível se levanta:
—Claro que sim, Vivian deveria ter a levado diretamente ao hospital! —Sua voz sobe uns oitavos.
—Com Roberto no porta malas? —Ela responde de braços cruzados.
Lorenzo parece surpreso por saber de se paradeiro e imensamente satisfeito ao saber que Roberto pagará por seus atos.
—Vou levar Gyulia ao hospital, ele é todo seu Arthuro, sei que você vai fazê-lo sofrer bastante.
Ele diz firme ao meu pai que suspira determinado ao fazê-lo sofrer.
—Eu ajudo Gyulia a se trocar, esperem lá embaixo.
Eles saem do quarto atordoados, papai pigarreia algumas palavras curiosas, parece que ele está surpreso por nossa aproximação.
Tantos preparos, imaginações e suposições para no fim, ele descobrir nosso relacionamento deste jeito.
Vivian abre o guarda roupas a nossa frente apoiando peças de roupas pretas perto de mim, as visto sem demora, nem penso em trocar as lingeries que uso pois sei que elas também podem ser provas contra um abuso...e pensar nessa possibilidade faz com que me dê diversos tipos de ânsia, meus olhos não economizam nas lágrimas que incomodam os machucados nas bochechas.
Eu só quero ir para o hospital e saber o que aconteceu comigo.
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Em suas mãos
RomanceOs respingos de sangue se chocam em meu vestido vermelho clássico, um tanto curto demais. O barulho de estouros estalam os meus ouvidos fazendo-me incômodo com o agudo que agora, ecoa em minha mente, os homens bem vestidos que me prenderam nesta sal...