Capítulo 23

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 Todos escrevemos belas mensagens na enorme e branca toalha de mesa, era algo simbólico a Rute, pois Augustos, seu falecido marido, escrevia as iniciais do casal nas mesas de todos os restaurantes que eles visitavam, de forma ilegal, claro. Quando me contaram sobre isso, achei a coisa mais romântica já feita por um casal.

   "Desejo á você todas as incontáveis estrelas no céu e todas incontáveis gotas de água do imenso mar, que números incontáveis também sejam seu sorrisos, sonhos e boas lembranças. Um beijo, Gyulia."

Com mais alguns abraços carinhosos me despeço da mais bela aniversariante, me despeço também do educado nadador quase embriagado ao meu lado, tenho uma grande parcela de culpa nisso. 

Estou um pouco zonza mas bem, lamentavelmente bem. Sóbria o suficiente para ter visto Lorenzo conversar com Vivian o tempo inteiro, não tinha conhecimento do quanto um ex casal poderia ter tanto assunto para tratar. Isso me irritou um pouco...mas fiquei imóvel tentando me entreter com Roberto e sua vida profissional e até curtir mais a festa. 

Saio para fora do jardim, adentrando rapidamente a mansão, entro pela porta dos fundos, já sabendo que enfrentaria alguns lances cruéis de escadas, corredores vazios e escuros, mas de nada adianta tentar me desanimar, não mais do que já estou. 

Lorenzo não trocou uma palavra sequer comigo esta noite, não consigo nem imaginar o que deve estar se passando pela cabeça dele neste momento, não sei sobre seus sentimentos e nem se ele realmente sente algum. 

 Meus pequenos pés reclamam de dor por estar usando tanto tempo um salto fino, agora mais essa, já passei um dia inteirinho com um salto muito maior que esse e aguentei corajosa como sempre, deve ser o álcool falando por si. 

Paro minha caminhada abaixo de uma das poucas brechas de luz que emana da lua, apoio uma de minhas mãos na janela aberta ao meu lado, minhas mãos alcançam as tiras do salto alto preto mas uma sombra surge no corredor de forma sorrateira fazendo-me parar com tal atitude. 

—Quem está aí? —Pergunto com a voz trêmula, minha intuição está aflorada, algo não esta certo. 

Um grande homem se aproxima da pouca iluminação a minha frente, com suas mãos para trás, um sorriso cínico em seus lábios secos fazendo junção ao seu par de olhos coléricos. Se trata de Rick. Meu coração bate de modo dolorido em meu peito, posso constatar que minhas mãos começam a suar um pouco, no entanto mantenho minha expressão facial o mais indiferente possível:

—O que você quer? 

—Descobrir o porquê exatamente, você é tão especial, Gyulia...digo, seu pai daria a vida por ti, sua cabeça está valendo mais que ouro por aí e Lorenzo...bom, o que falar daquele meu irmão tão tolo. —Sua risada emana um pouco de melancolia. 

—Eu não preciso ter essa conversa com você, passar bem. —Movo meu corpo para fora mas Rick segura meu braço antes que eu termine minha ação.

—Se você falasse comigo daquela maneira tão imprudente, eu cortaria sua cabeça fora, na verdade Gyulia eu teria o prazer de cortar sua gargantinha e ver seu sangue de víbora jorrar. —Cospe suas palavras em mim. 

Meus pensamentos e agilidade são movidos lentamente em junção ao álcool em meu corpo, não sei o que responder ao menos o que pensar, sua mão gélida ainda segura meu braço com força, eu...eu devo gritar? Alguém me ouviria? Devo bater nele? Tentar me soltar? Afinal de contas ele, realmente, me mataria aqui?

—Me solta, agora. 

—Arthuro foi um grande amigo de meu pai em sua adolescência, quando meu pai se tornou grande, o velho foi o único amigo a continuar a seu lado...após alguns anos seu papai também se tornou grande mas sempre quis mais, sabia que ele já entregou meu pai para salvar você? Olha só a Gyulia ainda era pequena mas já nos causava grandes transtornos...você sempre foi um problema...—Suas grandes mãos agarram meus braços ainda mais forte fazendo-me gemer em dor.

—Solte ela agora, Ricardo. 

Meu corpo todo entra em alívio ao perceber que Lorenzo está aqui. 

—E se eu não quiser?

—Eu meto uma bala na sua cabeça. —Diz frio sem expressão alguma. 

Rick me solta de mal grado e rapidamente movo meu corpo me jogando no peito duro de Lorenzo. 

—Lorenzo, sempre fazendo as coisas do seu jeito...

—Eu sou o dono dessa casa, de tudo e todos que vivem nela, enquanto eu estiver vivo você jamais tocará na Gyulia novamente e se caso isso acontecer farei questão de enterrá-lo em qualquer pedaço de terra por aí. 

Rick mal se move, apenas encara seu irmão mais velho com os olhos mais fúnebres que já vi em minha vida.

—Que se foda, eu só estava conversando com ela, não é Gyulia? 

—Vai pro inferno. —Digo de imediato. 

Rick traça seu caminho de forma raivosa para fora do corredor, quando ele estava longe o suficiente pude respirar de novo. 

—Obrigada, Lorenzo. —Agarro seus olhos de forma gentil. 

—Pelo quê? —Responde-me desviando seu olhar de qualquer coisa que esteja em meu rosto. 

—Por estar aqui, cuidando de mim, achei que você não se importava mais comigo não depois do que acont...

—Eu sempre estou de olho em você, Gyulia. 

Lorenzo começa a caminhar suavemente logo a minha frente, com suas mãos no bolso da calça cinza, as costas um pouco rígidas demais e os ombros bem tensos. 

—Aonde você vai? 

—Te deixar em seu quarto, não é para lá que você estava indo? —Finalmente seus olhos encontram os meus, por mais breve que seja. 

—sim, é sim. 

Caminho em silêncio ao lado deste homem ainda mais silencioso que eu, ele parece estar perdido nos próprios pensamentos. 

—Rick me machucaria de verdade? 

—Ele não teria coragem. 

—Você o machucaria de verdade? 

—Sim.

—Por quê? Por mim?

—Por seu pai. 

ah, nossa. Uma facada de forma literal em meu coração doeria menos. 

Cerro meus lábios como um caixão nada que eu possa falar conseguiria melhorar a situação, chegamos na porta de meu quarto mas logo minha curiosidade toma uma grande proporção:

—Por que pelo meu pai? Ele não foi um bom amigo á seu pai, pelo que parece...

—Gyulia, vá dormir. —Ordena. —Chega de perguntas. 

Meus olhos se entristecem com sua repentina atitude. —eu vou, boa noite. 

Antes que Lorenzo pudesse abrir sua boca novamente eu adentro o cômodo e fecho a porta. 



























































































Em suas mãosOnde histórias criam vida. Descubra agora