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Simone Tebet saiu de casa para levar seu cachorro Ralf, um vira-lata caramelo que havia aparecido em sua porta alguns anos atrás para seu passeio matinal. O sol já estava brilhando forte mesmo não passando das sete da manhã.

Ela observou o céu e sentiu o cheiro de terra molhada proporcionado pela chuva que havia caído durante a noite, mesmo assim não se iludiu, o dia seria quente e abafado, assim como a maioria dos dias naquela cidade.

Ralf parecia desinteressado demais no passeio e quando Simone abaixou-se para lhe dar um afago atrás das orelhas e encorajá-lo a caminhar ela ouviu um barulho estranho. Não era um barulho familiar naquelas ruas, como tratores ou até o barulho do trem atravessando a cidade...era um barulho de carro? Um carro acelerando e ainda por cima cantando pneu, o que seria um absurdo vindo de algum morador daquela pequena cidade, visto que todos ali conheciam o rigoroso policial que rondava a cidade procurando pelo menor dos infratores, também conhecido como Seu Vicente. Se ele presenciasse a menor das ameaças às leis de trânsito quem quer que fosse o responsável estaria sujeito a um belo de um sermão do senhorzinho acompanhado de uma visita até a delegacia.

Simone olhou do outro lado da rua e avistou Frajola, o gato fujão de sua vizinha Elize, se escondendo atrás de um pingo de ouro. "Frajola! Vem aqui lindinho!" ela tentou chamá-lo, era alérgica a gatos e não sabia muito bem como lidar com eles, sempre preferiu cachorros, mas não iria deixá-lo sozinho na rua com algum maluco se achando o Lewis Hamilton por ali. "Vem Ralf, vamos até o Frajola, quem sabe você consegue convencê-lo a voltar para casa." Ela disse atravessando a rua, quando o barulho de repente se tornou mais alto. Ela levantou seu olhar e viu uma Range Rover branca rasgando a rua vindo direto em sua direção. "Ralf!" Simone gritou e agarrou o cachorro em seus braços. Aparentemente quem estava no volante a viu, mas já era tarde demais, o carro desviou, freou bruscamente, mas acertou em cheio a placa em frente sua casa "Escola Tebet, educação infantil"

Logo atrás da Range Rover, com a sirene estourando, estava Seu Vicente. Ele estacionou a viatura perfeitamente ao lado da calçada e pisando firme foi direto ao encontro da porta de motorista abrindo-a com uma fúria capaz de fazer o carro inteiro balançar.

"Mai' quem você pensa que é? O Ayrton Senna?" ele gritou ao se deparar com uma mulher loira de provavelmente um metro e meio de altura saltando daquele carro enorme com uma roupa que certamente valia mais do que vinte salários mínimos tentando se equilibrar na grama com um salto agulha que a deixava extremamente elegante, mas destoava completamente do ambiente em que ela se encontrava.

"EU? Eu não acho nada, eu SOU Dra Soraya Thronicke, e essa mulher maluca aí se enfiou na frente do MEU carro com esse cachorro sarnento e eu precisei desviar para não acertá-la! Você é louca?" Ela gritou para Simone, que continuava estática no meio da rua abraçando seu cachorro que também parecia estar em choque.

"Você atropelou a minha placa!!! Eu a comprei semana passada! Você me deve uma placa!" Simone gritou para a estranha. Aquilo só fez inflamar a raiva da mulher que endireitou a postura, ergueu o queixo com arrogância e olhou para seu carro observando a frente toda amassada e a placa em cima do capô também destruído que soltava fumaça. Definitivamente havia vários danos ali, e não eram na placa.

"Sua placa? Você tá brincando né? Olha o prejuízo que você me deu! Eu quero ver como é que você vai pagar o conserto do meu bebê." A mulher gritou apontando o dedo em sua direção e Simone olhou para ela com um meio sorriso debochado.

"Primeiro de tudo princesa, é só um carro de patricinha que não aguenta o tranco! Segundo, se você não estivesse correndo como uma louca e ultrapassando o limite de velocidade dentro da cidade nada disso teria acontecido. E por último, mas não menos importante, não aponte esse dedo de riquinha mimada na minha cara!"

À Sua VistaOnde histórias criam vida. Descubra agora