VIII

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Soraya Thronicke acordou com um salto. Um barulho estridente invadiu seu sono e a fez sentar na cama com o coração palpitando e os olhos lacrimejando. Ao respirar fundo pela terceira vez na tentativa de acalmar seu coração e retomar os sentidos, ela se lembrou de onde estava e logo deduziu quem era o responsável por tamanho alvoroço. Maldito galo!

"Inferno! Inferno! Inferno!" esbravejou ao deitar-se novamente com a cara enfiada no travesseiro, dando socos no colchão. Minutos atrás estava sonhando com campos floridos, pavês de sonho de valsa e coelhos. Coelhos?

Recordou-se da noite anterior, mais precisamente do momento esquisito que teve com Simone antes de dormir. A caipira idiota tinha sido doce com ela, bota esquisito nisso. Mas àquela altura já estava começando a se acostumar com as sandices do lugar, ou pelo menos pensava que sim.

A loira resolveu descer e dar uma espiada na cozinha, talvez pudesse preparar um café bem forte para enfrentar o dia. Queria mesmo injetar cafeína pura em suas veias. De qualquer forma, voltar a dormir não era mais uma possibilidade.

Na cozinha ela se deparou com uma cena um tanto quanto peculiar. Simone estava sentada no chão fazendo carinho na barriga de Ralf que tinha metade do corpo embaixo da pia e o restante para fora. A advogada cogitou voltar para o quarto, não imaginou que a professora pudesse estar de pé, afinal não passava das seis da manhã de um domingo, mas quando estava prestes a dar meia volta se enganchou na maçaneta da porta assustando o cachorro que se escondeu completamente embaixo do móvel ficando só com a carinha de fora a encarando assustado.

"Bom dia!" a morena cumprimentou divertindo-se com a trapalhada da loira. "Desculpe se te acordamos, estava tentando fazer esse danadinho sair para comer."

Sorrindo. Simone Tebet estava sorrindo às seis horas da manhã de um domingo. Inacreditável.

"Ah, não. Foi aquela outra criatura que você mantém, lá fora." disse meio irritada reparando no animal que escondia o focinho na perna da dona. "O que há com o sarnento?"

"É... eu acho que ele tem medo você. Mai' nós já estamos trabalhando nisso, né amigão?" Ralf demora alguns segundos inclinando a cabeça para um lado e para o outro analisando Soraya, depois solta um grunhido tímido olhando para Simone, era a confirmação de que iria tentar. "Viu só? Ele disse que sim."

Soraya revira os olhos "Impressionante." responde tapando a boca para repreender um bocejo.

A professora se levanta para lavar as mãos e pôr a mesa "Fiz um café reforçado pra nós. Na verdade, o café é para você, eu prefiro chá. E acho que vai precisar porque já tem um pessoal lá fora." Disse tudo de uma vez sem perceber o impacto de suas palavras no humor da loira, que piscava sem parar a vendo organizar a mesa do café com uma velocidade inumana para aquela hora da manhã.

"Está tudo bem, Soraya?" perguntou quando levantou os olhos e a advogada permanecia no mesmo lugar sem emitir uma palavra, o que era inédito se tratando dela.

"Você disse que já tem gente lá fora? Me esperando? De madrugada?"

"Bom, sim. Eu disse que isso aconteceria, mai' olha, nós vamos dar um jeito. Eu estava pensando em organizar os casos de forma que você possa dar prioridade aos mais urgentes. E também não é madrugada, são seis e vinte e cin-"

"Shhhhiu! Espera minha alma terminar de fazer o download, professora Tebet." a loira pede com uma mão tapando os olhos e a outra na cintura "Jesus! Qual o problema de vocês aqui? Ontem mesmo isso aqui era quase uma cidade fantasma, todo mundo querendo sumir do mapa por causa do tal feriado, agora já tem gente na sua porta atrás de mim DE MADRUGADA sem nem saber se vou conseguir resolver o problema deles?"

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