O ciúme é uma praga! Uma erva daninha que cresce sem o nosso consentimento e quanto mais a podamos, mais ela se apossa de nosso ser e muitas vezes é capaz de causar danos irreparáveis.
Soraya Thronicke nunca se considerou uma pessoa ciumenta.
Até ela.
Com Henrique as circunstâncias a fizeram sentir raiva e humilhação, mas não sentia ciúmes dele, precisamente.
Obviamente no decorrer de sua vida já havia se deparado com o monstrinho verde em algumas situações. Certa vez, quando ainda estava no jardim de infância e sua colega de classe pediu para brincar com sua boneca favorita, e ela, sendo uma Thronicke de educação impecável, precisou ceder, sentiu ciúmes. Ou quando na universidade algum amigo irresponsável pegava seus livros e os devolvia com as folhas dobradas e amassadas, ela também sentiu ciúmes. E ainda na empresa, quando um cliente quis ser representado por um dos outros vários advogados ao invés dela, novamente sentiu ciúmes. No entanto, todas aquelas situações estavam ligadas à conquistas pessoais, ou bens materiais. Eram sobre coisas.
Mas Simone não era uma coisa. Nem tampouco sua.
A realização ao invés de amenizar a tempestade em que se encontravam seus pensamentos, fez justamente o contrário. Simone era quase sua. Se não fosse aquela talzinha que havia saído Deus sabe lá de onde, ela estaria agora mesmo entregando o presente que comprara com tanto carinho para a morena e lhe dizendo provavelmente as palavras mais cafonas que seu coração pudesse formular, pois estava mais do que disposta a entregar o discurso aos anseios dele. Mas o ciúme chegou primeiro. Arrebatador e vil como um tiro, o sentimento transformou em pó toda a doçura que Simone foi capaz de despertar.
Respirando fundo e com os punhos cerrados ela caminhou pisando firme até a mesa, parando em pé ao lado da morena e limpando a garganta para chamar a atenção das duas mulheres.
"Meu bem! Que bom que voltou!" A professora imediatamente segurou em sua mão, entrelaçando os dedos que se encaixavam tão perfeitamente.
A loira não respondeu, trocando olhares com a outra morena sentada à mesa. No lugar que era seu.
Percebendo o olhar ameaçador lançado em sua direção, a moça prontamente estendeu a mão "Oi! Você deve ser Soraya Thronicke? A Simone estava me falando sobre você."
"Doutora Soraya Thronicke. E espero que ela tenha falado bem." Disse apertando a mão com firmeza, porém sem desfazer a expressão irritada.
"Oh, certo! Me desculpa, doutora. Ela me contou que está trabalhando como defensora pública na nossa cidade. Fiquei feliz pelo fato de Três Lagoas estar se desenvolvendo cada dia mais."
O tom e a familiaridade com que ela falava sobre e com a morena presumia que se tratavam de velhas conhecidas, visto que havia inclusive mencionado a cidade como sendo delas.
"Soraya, essa é a Marina. Ela é médica veterinária e trabalha na fazenda do meu pai. Não só lá, aliás, ela atende toda a nossa região."
A memória de Soraya Thronicke nunca falha. Exceto quando estava encarcerada e precisava se lembrar do número do telefone de seu pai, obviamente. E no momento em que as palavras deixaram a boca de sua morena, uma luz acendeu em sua mente.
"'Cê sabe que se tratando dos animais eu só confio em vocês duas." A frase usada pelo pai de Simone imediatamente surgiu em letras garrafais e a loira travou a mandíbula, esboçando um sorriso contido.
Marina Andrade era um pouco mais nova do que a advogada. Os cabelos em um tom de castanho dourado iluminavam seu rosto e destacavam o par de olhos verdes que ela possuía. Soraya jamais negaria que era, de fato, uma linda mulher. Porém, nenhuma mulher no mundo faria a diferença para ela. Nada nem ninguém tinha a capacidade de enfeitiçá-la da mesma forma que o efeito Tebet. Mas...e se o contrário fosse possível? Qual seria exatamente a natureza do relacionamento de Simone com a veterinária?
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À Sua Vista
FanfictionQuando Soraya Thronicke fica literalmente presa numa cidade no interior do interior do Brasil, como ela irá lidar com Simone Tebet, a professora da cidade que a detesta? As duas terão de trabalhar juntas durante um mês, seguindo ordem judicial e de...