Epílogo

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"Todo dia é de viver

Para ser o que for

E ser tudo"

É nos dias comuns que a vida acontece. E a vida não nos oferece prévia, ou roteiro. A vida é o que é e ela sempre encontrará uma forma de perpetuar através do tempo.

O dia vinte e dois de fevereiro poderia ser tido como mais um entre tantos outros, um número no calendário, mais vinte e quatro horas, mais um dia de verão.  

Naquela manhã tão quente quanto qualquer outra em Três Lagoas, a aniversariante do dia aproveitava o frescor ainda presente no ar para fazer uma das coisas que mais gostava, um hábito que havia adquirido logo nas primeiras semanas em que se conheceram.

Observar Soraya Thronicke dormindo.

Há quem diga que tal costume possa ser estranho, ou até mesmo um traço leve de psicopatia, entretanto, como resistir aos desejos da alma? Como não reparar nos traços delicados do rosto que repousava sobre o travesseiro, ou na mecha loira recém-retocada que caía sobre a ponta do nariz?

O movimento em si fez a advogada franzi-lo e respirar fundo em seguida, acalmando-se ao sentir a mão da morena afastar o cabelo para trás da orelha e acarinhar sua bochecha.

Simone sorriu, dane-se o que poderiam pensar em vê-la tão boba admirando a outra criatura em seu momento mais vulnerável. Era mais do que admirar, estava velando o sono tranquilo de sua mulher, sua esposa.

Lembrou-se então do dia do pedido em questão. Um dia comum, onde a vida acontecia bem diante de seus olhos. 

SS

Era um sábado de tardezinha e elas estavam em mais um entre tantos piqueniques na praça, acompanhando o crescimento dos ipês e contemplando as gêmeas brincando mais ao longe no parquinho.

Nada planejado, assim como as melhores coisas que haviam acontecido em sua vida.

A advogada nutria dentro de si a vontade de viver com ela para sempre, universo afora. Não que necessitassem de amarras, ou caixinhas para guardar aquele amor. Ele era livre em si mesmo e corria estradas, transbordava os rios e desaguava no mar. Pensava até se não era puro capricho de sua parte ter o prazer de colocar uma aliança dourada na mão da morena e chamá-la de minha esposa.

Talvez fosse, mas elas se pertenciam afinal, e o pensamento enfim acabou por escapulir de sua boca sem a menor permissão:

"Quero casar com você."

Simone sorriu, pensando se tratar de mais um devaneio dela, o que de fato era, mas que são os devaneios senão a mais genuína forma de expressar nossas vontades através do inconsciente?

"Ó, vê lá, hein?! Casamento, de papel passado é para sempre." Disse ela, segura de estar sendo vítima de alguma pegadinha.

"Eu sei, não tem volta."

Foi então que a mais velha tornou-se completamente séria. Sem reação.

Soraya manteve os olhos nos dela, observando a mulher que possuía a pele já tão clara ficar ainda mais pálida.

"E-eu...Estou brincando," Disse mordendo os lábios e abaixando os olhos, fixando-os no anel de namoradas, "Você voltou uma vez."

"E quem disse que eu vou desgrudar de você tão cedo?" Indagou, segurando delicadamente o queixo da morena para levantar seu rosto e refazer o encontro de olhares, "Nós estamos juntas e assim permaneceremos. Nem que eu tenha que quebrar todas as suas barreiras de insegurança na base da marretada e você precise amansar a minha onça interior vez ou outra para entrarmos nos eixos. É a teoria, Simone. E a propósito, foi você mesma quem disse: nós vamos durar."

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