XII

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Simone acordou um pouco cansada na manhã seguinte e deu graças a Deus por ter remarcado os compromissos dela e de Soraya para o período da tarde, já imaginando que estariam moídas por causa do sol e do trabalho braçal.

Apesar de ser algo corriqueiro para ela, já não era nenhuma menina e foram necessários vários minutinhos extras embaixo dos cobertores e um banho morno para aliviar a tensão muscular até que ela finalmente estivesse disposta a encarar o dia. 

Imaginou encontrar a advogada com uma boa xícara de café em mãos no balcão da cozinha, hábito que ela havia adquirido há uns dias atrás. Mas hoje o cômodo estava vazio. Alimentou Ralf e as galinhas enquanto esperava as torradas ficarem prontas e ainda assim nada da mulher aparecer. De repente um pequeno ataque de pânico tomou conta de seu coração. E se Soraya tivesse ido embora?

A morena percorreu todos os cantos da casa e não viu nenhum rastro dela, então subiu as escadas e parou em frente a seu quarto. Seu coração batia acelerado. Era a primeira vez que voltava ali depois de...bem, depois do ocorrido que fez com que elas cruzassem a linha mais perigosa na relação das duas. 

Deu duas batidinhas na porta, mas nenhum som saiu de dentro do quarto, "Soraya? Está tudo bem?" Perguntou, abrindo uma fresta para que pudesse ser ouvida.

"Não consigo me mexer." A voz manhosa saiu abafada pelos travesseiros e Simone soltou uma risadinha de alívio, a possibilidade dela não estar mais ali fez seu estômago revirar e aquilo não era nada bom, mas ainda assim, deixou o sentimento esquisito de lado e abriu a porta mais um pouquinho.

"Posso entrar?" A resposta foi um gemido positivo e ao adentrar o quarto ela se deparou com a loira deitada de bruços, toda esparramada na cama, tal como uma estrela do mar.

"'Cê tá bem?" Perguntou novamente, sentando-se na beirada da cama bem devagar para não incomodá-la, "Está sentindo alguma coisa?"

"Sim. Sinto tudo, Simone! Cada pedacinho do meu corpo dói, não consigo nem me virar pra te ver. Como pode você estar de pé assim? Está usando muletas?" A loira mal conseguia mover a cabeça que estava afundada no travesseiro.

"Não." Riu com o comentário bobo, "Estou andando normalmente. Imagino que esteja dolorida por causa de ontem, espere aí que já trago algo para melhorar." Ela se levantou e correu para a cozinha voltando logo em seguida com uma cartela de relaxante muscular e um copo d'água. "Certo, te trouxe remédio pra dor, mas 'cê vai precisar se virar primeiro."

Soraya resmungou, tentando se virar para sentar na cama. Todos os músculos de seu corpo doíam e sua cabeça latejava, provavelmente devido à exposição solar. Não imaginava que dirigir um trator e colher umas espigas de milho pudessem destruir seu corpo daquela maneira. Era como se tivesse feito CrossFit no deserto do Saara. Mas o que lhe intrigava ainda mais era o fato de que Simone havia trabalhado muito mais do que ela e mesmo assim estava ali, vestida, lhe oferecendo dois comprimidos de Dorflex e um copo d'água, como se nada tivesse acontecido. Linda!

Se apoiou no colchão e sentou-se encostada à cabeceira da cama, aceitando os comprimidos e a água em seguida. Simone tinha um sorriso carinhoso no rosto e a olhava com atenção. Parecia até feliz em sua presença, mas não criou expectativas. Provavelmente era sua cabeça alucinando.

"Sério, como não está sentindo nada? Você trabalhou muito mais do que eu ontem."

"Estou um pouco dolorida, mas 'cê tá sentindo mais do que eu. Provavelmente pela falta de costume." Retirou o copo das mãos da loira, depositando na mesinha ao lado e sem demora pegou os travesseiros que estavam sobrando na cama, "Vem um pouquinho pra frente pra eu ajeitar eles nas suas costas."

Soraya fez como ela pediu e o perfume floral e levemente adocicado invadiu suas narinas. A morena estava tão próxima que ela conseguia sentir o calor que exalava de seu corpo. Queria tanto poder tomá-la em um abraço forte e ficar agarrada a ela pelo resto do dia, mas se conteve quando sentiu seu corpo sendo delicadamente apoiado aos travesseiros e Simone se levantando.

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