XXII

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Os raios solares atravessavam a cortina clara com pequenas flores estampadas quando Soraya acordou. Ela franziu o nariz com o carinho suave feito por mãozinhas geladas em seu rosto.

Ao abrir os olhos deparou-se com dois pares de castanhos gigantes mirando os seus. Estava agora sendo o recheio de um sanduíche de mini Tebets. Luiza havia se movido em algum momento durante o sono e estava sentada ao seu lado direito, pouco acima de seus ombros, enquanto Bibi permanecia no mesmo lugar, porém de frente para ela, e sua chupeta havia se perdido debaixo das costas de Simone.

A morena ainda dormia serena, na pontinha da cama, certamente empurrada pelas três espaçosas. Com um braço embaixo do travesseiro ela mantinha o outro sobre a cintura da sobrinha mais nova em uma tentativa de mantê-la segura, ou de não cair ela mesma no chão.

"A tia Sisi tem colar de bichinho!" Luiza sussurrou, abaixando-se próxima ao ouvido da loira.

"Ela tem. Não é a coisa mais fofa?" Soraya respondeu no mesmo tom de confidência.

"A tia Si não é fofa. Ela faz muita bagunça." Beatriz disse, com a mão na boca para que a mais velha não ouvisse.

No entanto, as tentativas de preservar o sono de Simone foram em vão. A verdade era que ela havia acordado há alguns minutos com o revirar das pequenas sobre o colchão, mas permaneceu imóvel e com os olhos fechados na esperança de que elas fizessem o mesmo ao perceberem que as maiores continuavam adormecidas.

Com um falso beliscão na barriga da menor, fazendo com que ela desse um pulinho e chegasse mais perto de Soraya, a morena se fez presente no momento de descontração.

"Ah, é? Eu não sou fofa Bibi?" Quis saber, se aconchegando às outras três.

A garotinha olhou para ela desconfiada, sem saber de que lado ficar. Pensou por alguns segundos analisando a expressão da tia e ao notar seu ar de riso, sorriu, negando com a cabeça.

"'Cê tá vendo isso, Soraya? É um complô contra mim!" Disse, fingindo uma indignação exagerada. "Mas pelo menos você me acha fofa, não acha, meu bem?"

"Com toda a certeza." A loira assegurou, sorrindo toda boba ao vê-la pela manhã, o que já havia presenciado várias vezes, mas não naquele contexto. Existia um brilho a mais nos olhos escuros, provavelmente por estar na presença das sobrinhas e talvez também pelos acontecimentos da noite anterior.

"Pois então, já que é assim...acho que deveríamos formar um time, Dra Thronicke. Um time para derrotar essa dupla de diabinhas."

A frase foi dita em conjunto com uma troca de olhares entre elas e uma piscadinha que Soraya logo compreendeu.

Guerra de travesseiros!

"Nãaaao, tia Sisi!"

"Solaya! A gente vamos cair!"

Disseram uma atrás da outra quando Simone pegou o próprio travesseiro e partiu pra cima delas.

Sem demora a advogada se levantou, ajudando ambas a ficarem em pé sobre o colchão, mas pegando um travesseiro e se juntando à professora em seguida. Seriam um time.

As pequenas corriam e gargalhavam, evitando os golpes lançados de um lado e do outro da cama.

Na cozinha Fairte e Ramez se dividiam para pôr a mesa do café, ouvindo as risadas e gritos que vinham do quarto da primogênita.

"Parece que arrumamos outra filha." A mulher disse, organizando os talheres na mesa.

"Eu sempre quis ter mais uma, você sabe querida."

"Acha que ela vai aceitar a sua proposta?"

"Acredito que sim. Mas de qualquer forma, foi bom você ter dito à Simone que ela pode ir e voltar quando quiser e que estaremos sempre aqui para ampará-la. Deveríamos ter feito isso há muito tempo, aliás, só espero que não seja tarde." Ramez expressou ao servir-se do café preto.

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