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Simone literalmente permaneceu imóvel e em silêncio por exatos cinco minutos.

Finalmente, conseguiu sentar-se em sua cama sem se preocupar com os olhos felinos lhe perseguindo. Que perturbação de mulher! Haviam acabado de entrar em acordo sobre manter um relacionamento profissional e ela quase deu pra trás caindo no golpe da bandida outra vez. Se não fosse por Janja, certamente estaria se agarrando loucamente com a loira no sofá de seu quarto e sabe-se lá para onde mais seguiriam. 

Mesmo com aquele quase beijo, ela continuava decidida a manter o acordo. O problema era sempre a troca de olhares, que mesmo na ausência de palavras culminava no entendimento mútuo de que ambas se queriam.

Não ousaria negar para si mesma que desejava Soraya, afinal, ela era linda e já havia provado ser excelente na cama. Como poderia não desejá-la? Mas então, sua razão sempre falava mais alto lhe perguntando de volta: o que ela pode querer com você? Não sabia se estava disposta a arriscar seu coração em um jogo de caça e caçadora no qual tinha quase todas as chances de perder. Se recusava a ser só mais um nome na listinha de conquistas de Soraya Thronicke. Ela que fizesse sua caçada em outro território!

Despertando de seu monólogo interno e notando que já não precisava mais da bendita toalha, foi se aprontar para encarar o dia. Com a ajuda dos céus e seus alunos lhe dando bastante trabalho, talvez nem tivesse tempo para cruzar com a advogada pelos cômodos da casa. 

No andar debaixo, Soraya encontrou uma mulher um pouco mais alta do que ela, com os cabelos num tom de mel. Estava sentada no sofá folheando um livro infantil, mas levantou-se para cumprimentá-la assim que notou sua presença. A loira ergueu o queixo e fechou a cara no mesmo instante. Então era essa a empata foda. 

"Oi, bom dia! Você deve ser a Soraya?" A voz animada quase a fez revirar os olhos.

"Doutora Thronicke, bom dia." Respondeu se esquivando de um abraço e oferecendo a mão direita para um aperto no lugar. 

"Ah...claro, doutora Thronicke." Estranhou a formalidade, mas logo se lembrou das fofocas que rolavam sobre a arrogância da advogada na cidade. "Eu sou a Janja. Ajudo a Simone aqui na escola, mas se precisar de alguma coisa estou às ordens. Fico feliz que nosso município pode contar com seus serviços." 

Soraya a analisou de cima a baixo com um sorriso discreto antes de devolver "Hum, sabe de uma coisa? Eu acho que vou precisar sim." Imediatamente viu a oportunidade de se vingar por ter sido interrompida pela mulher. Se não fosse por ela, na certa estaria desbravando as superfícies do quarto de Simone sem desgrudar da boca da morena nem por um segundo. E claro, também viu nela o potencial para estagiária. Parecia ser bem boazinha, bem galera

"Certo. Como posso ajudá-la?"

"Quero que separe os casos para mim. Vamos distribuir uma ficha para as pessoas preencherem assim que chegarem, aí você analisa o que serve e o que não serve e me entrega o que servir."

"Como assim? Quais são os critérios para decidir o que serve e o que não serve?" Janja estava realmente intrigada com a loira.

"Basicamente usaremos a pilha do sim e a do não. Tudo que for possível resolver renovando documentos ou com um chacoalhar no ombro da pessoa para que ela caia na real, faz parte do não. E o que realmente precisar da assessoria de uma advogada, faz parte do sim."

"E o que eu faço quando as pessoas do "não" quiserem cortar meu pescoço, doutora?" Janja pergunta, fazendo aspas com as mãos para dar ênfase. 

"Encaminha para o Poupatempo ou para o Casos de Família. Considere como uso legítimo do princípio da eficiência."

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