XXVIII

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"Mas tu e eu, amor meu, estamos juntos, juntos desde a roupa às raízes, juntos de outono, de água, de quadris, até ser só tu, só eu juntos." Recitou Soraya ao pé do ouvido da morena, "Você já tinha tudo planejado, não é? Confessa!"

"Esse momento na cachoeira? Sim." Sussurrou de volta, beijando o lóbulo da orelha e vendo a loira arrepiar, "Mas tudo que antecedeu foi improviso."

Ela sorriu, sentindo-se aquecida pelos braços que envolviam sua cintura, ainda que a água estivesse congelando.

"Quer dizer então que aparecer deliciosamente arrebatadora em cima de um cavalo quase fazendo eu ter um infarto antes de frear o carro não fazia parte dos seus planos?" Brincou, impulsionando-se para envolvê-la com as pernas.

"Não. Minha irmã sugeriu que eu te ligasse, mas não achei seguro juntar você, um volante e um celular."

"Seguro mesmo era se jogar na frente do meu carro?" Perguntou ela, revirando os olhos, mas sorrindo, "Você é maluquinha."

"Ah, mai' funcionou, né? Olha só a beldade que eu conquistei!"

"Você me conquistou no primeiro beijo." Disse, toda boba.

Passaram mais um tempo curtindo a presença e os carinhos uma da outra. Simone contou sobre o restante da feira de arte que Soraya havia perdido e ela se derreteu ao ver o orgulho com que falava sobre as crianças e sobre os projetos futuros para a escola. Aproveitou para dizer à ela tudo que havia sucedido até chegar de porre naquela noite. A risadinha doce embriagando seus sentidos muito mais do que o álcool quando explicou detalhe por detalhe de sua sofrência ao lado de Roberto na lanchonete e como o delegado havia a impedido de quebrar o nariz do ex-marido.

"Linda, eu sei que você é um peixinho, aliás, é uma baita sereia! Porém, será que podemos continuar isso em casa embaixo do chuveiro quentinho?" Pediu, arrepiando-se quando sentiu o vento soprar mais forte e a água da cachoeira esfriar ainda mais.

"É claro. Parece mesmo que vai começar a chover, vamos nos apressar." A morena sugeriu, caminhando com ela para a margem, "Eu te amo, sabia?"

"Hum? Não ouvi direito."

"Eu disse que amo você, muito."

"Você o que? Acho que entrou água no meu ouvido, amorzinho." Disse ela com ar de sapeca.

Simone então logo percebeu o que acontecia e após se vestir inflou os pulmões para dizer aos quatro ventos:

"EU TE AMO SORAYA THRONICKE!!"

"Shhh, Simone! Vai atrair todas as cobras pra cá!" Ela repreendeu, tapando a boca da mais velha com uma mão e a sua com a outra para não rir.

"Ué, pensei que fosse o contrário?! O barulho não afasta elas?"

"Deixa de ser boba! Vem, vamos logo que já senti um pingo de chuva nas minhas costas."

"Ah, esqueci que 'cê é uma onça feita de açúcar!"

"Simone..." Advertiu, fingindo-se de séria.

"Soraya..." A morena devolveu, entrelaçando a mão na que ela havia posto o anel de namoradas momentos antes, "'Cê não respondeu o meu eu te amo ainda..."

E então, quando alcançaram o veículo branco novamente, ela parou, a prensou na porta fechada e mergulhando nos olhos escuros, declarou:

"Eu também te amo, Simone Tebet."

Em meio aos pingos de chuva que engrossavam a cada quilômetro percorrido elas fizeram o caminho de volta para casa. As roupas molhadas e sujas de terra e grama não incomodaram a advogada que não via nada além de sua motorista particular favorita.

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