XV

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"DIABAS DOS TEBET! VOLTEM AQUI! O VELHO RAMEZ NÃO VAI SALVAR VOCÊS DESSA VEZ!"

O velho bradava com a cabeça para fora da janela do caminhão que mais fazia soltar fumaça do que propriamente correr estrada afora.

Soraya e as gêmeas corriam entre os porcos o mais rápido que podiam ao mesmo tempo que tentavam não tropeçar e cair por cima dos bichos. A manada grunhia cada vez mais alto, fazendo a poeira levantar sobre os trechos de terra batida.

Simone e Marcelo aprumaram-se ao avistar o veículo ao longe. Sabiam muito bem de quem se tratava. 

José Antônio da Silva, vulgo Zé dos porcos. 

Se afastaram do carro e cerraram os punhos. Prontos para a batalha que se aproximava. 

"'Cê acha que dá tempo de a gente, não sei? Atravessar o rio nadando e fingir que não temos nada a ver com elas?" O delegado perguntou de brincadeira, mas uma pequena parte de si realmente considerou a possibilidade.

"Só se quisermos morrer depois pelas mãos da Eduarda. Ou da própria Soraya. Consegue ver a cara dela? Não me parece das boas." A professora semicerrou os olhos numa tentativa de pré-avaliar a situação através da expressão da loira, mas ela estava tão suja de lama que o esforço foi inútil. 

"Eu só consigo enxergar uma vara de porcos vindo na nossa direção, cunhada. E algumas tem duas pernas." 

Os segundos corriam mais devagar do que o normal na cabeça da advogada naquele instante. Talvez fosse o fato de estar de mãos dadas com duas crianças, ou mesmo suas próprias pernas curtas, mas quanto mais elas aceleravam, mais parecia faltar chão pela frente. Os porcos faziam um barulho terrível, atormentando seu juízo junto do homem escandaloso que vinha logo atrás.

"DEVORVE MEUS PORCO! 'CÊS NÃO VÃO ESCAPAR! ESSES PORCO TEM DONO!"

Em um rompante de adrenalina, Soraya apertou o passo arrastando Luiza e Beatriz junto de si e ao se aproximarem do carro da família elas simplesmente se jogaram nos braços do pai, soltando das mãos da loira que correu para perto de Simone. Suas pernas tremiam e seus pulmões imploravam por misericórdia. Tamanha era sua agonia que nem teve tempo de começar a explicar o que havia acontecido antes do homem parar o caminhão de qualquer jeito e sair batendo a porta e gritando pra cima deles. 

"Ah, mai' eu tinha certeza que a diaba mais véia do Ramez 'tava metida nisso!" Disse encarando a professora dos pés a cabeça. 

"Como vai Seu Zé? Ué, tá sem a espingarda hoje?" A provocação da morena pegou o velho como um tiro de raspão, tornando sua expressão ainda mais fechada e ranzinza.

"Simone..." Marcelo advertiu, tentando apaziguar. Enquanto Luiza agarrava-se à perna do pai, Beatriz tinha o corpo todo encolhido em seu colo, escondendo o rostinho na curva do pescoço do delegado. 

"Óia aqui menina, 'cê não me desafia não! 'Cê pode tá junto da polícia, mai' quem tá errada aqui é você e essa sua corja!" O velho olhou de relance para as três integrantes sujas de lama, que ainda tentavam recuperar o fôlego. 

Simone, dando um passo a frente, passou a advogada para trás de si em um gesto de proteção. Tomando partido dela e das sobrinhas.

Soraya não estava entendendo nada do que se passava ali. O clima era tenso, sugerindo uma rixa antiga. Ela até tentou se explicar com o dono dos porcos quando houve o "acidente" e eles escaparam, mas o homem nem deu ouvidos. Saiu gritando na direção dela e das gêmeas, dizendo que estava armado e que iria acabar com a raça dos Tebet. A menção a uma possível arma de fogo alertou o instinto natural da loira. Estavam em uma situação de perigo: fuja!

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