À Sua Vista

XVI

As duas mulheres estavam sob a luz do pôr do sol na varanda da frente, se despedindo de cada criança que havia ido para aula naquela tarde e voltava para casa banhada em tinta guache e com um enorme sorriso no rosto. Simone tinha o coração desenhado pela loira em uma bochecha e a borboleta na outra, enquanto Soraya possuía um arco-íris feito pela mesma garotinha que havia pintado o rosto da morena de um lado e um sol feito por ela no lado oposto.

"Tchau, tia Simone! Tchau, tia Soraya!" A pequena se despediu, dando um abraço e um beijinho no rosto de cada uma, mas com muito cuidado para não estragar as pinturas.

"Tchau anjinho!"

"Tchau, Melissa! Até amanhã."

As crianças que moravam próximas costumavam ir e voltar sozinhas, visto que se tratava de um bairro calmo em uma cidade pequena, o que proporcionava esse tipo de liberdade e segurança. As duas sorriram observando a menina caminhar calmamente pela calçada, passando as mãozinhas pelas folhas dos galhos mais baixos das árvores que encontrava pelos canteiros. Era uma sensação de paz que apenas o interior poderia proporcionar.

"Ela é um amorzinho, não é?" Simone comentou, se aproximando da advogada.

"É sim. E sabe de uma coisa? Eu poderei dar uma notícia maravilhosa para a avó dessa garotinha amanhã. Saiu a sentença sobre a aposentadoria dela e a decisão foi favorável! Acredita que a senhorinha cuida da Melissa e de mais quatro netos sozinha?" Disse comovida.

"Que maravilha, Soraya! Eu sabia, sim. Ela está fazendo um excelente trabalho, aliás. Conheço todos eles e são igualmente educados e carinhosos."

É claro que a professora sabia. Estava ciente de tudo que envolvia seus alunos e sempre fazia o possível para acolhê-los, com Melissa não seria diferente.

"Conseguimos o benefício integral, acho que as coisas vão começar a melhorar para eles." Estava verdadeiramente contente por aquela família. Com o passar dos dias ali ela percebia que por trás de cada caso existia uma história que envolvia uma, ou várias pessoas, e que essas pessoas muitas vezes não tinham ninguém com quem contar além da esperança de uma vida melhor. E ela estava cada vez mais disposta a transformar a vida deles para melhor, da mesma forma que a dela estava sendo transformada.

Encostando-se ao corpo da morena, Soraya entrelaçou os dedos aos dela, chamando-a para dentro de casa. "Agora vem que eu estou doida para te dizer o que tenho em mente."

Simone deixou-se ser arrastada, trancando a porta atrás de si assim que entraram. "Só espero que não envolva mais nenhum tipo de tintas. Mais um pouquinho e vamos ter que chamar um caminhão pipa para lavar essa casa."

A loira apenas negou com a cabeça, revirando os olhos com as ideias malucas que saíam de dentro dela.

"Sabe, eu estava pensando...o que acha de preparar nosso jantar, enquanto eu limpo aqui e depois nós podemos subir e passar um tempo relaxando na banheira? Só eu e você, na água quentinha, enquanto eu te recompenso pelos seus excelentes dotes culinários..." Ao mesmo tempo em que falava ela passeava as mãos pelos braços de Simone em uma carícia delicada, mas provocante, deixando um gostinho do que viria mais tarde.

"Acho que estou adorando essa sua tal proposta...bem que eu disse que era algo completamente indecente." A última parte foi dita ao pé do ouvido da loira, seguida por uma mordidinha leve no lóbulo da orelha que a fez suspirar.

"Bem, ainda não é a oficial, mas posso te contar mais tarde. Se você for boazinha e concordar com essa, é claro."

"Eu concordo, doutora."

"Ótimo! Então vai logo lavar esse rostinho lindo e fazer nossa comida enquanto eu arrumo aqui embaixo e preparo a banheira." Ordenou, dando um tapinha no braço que enlaçava sua cintura.