CAPÍTULO 4

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Pedro parou a sua moto numa área reservada aos empregados e bem longe da visão dos hóspedes daquele hotel de luxo. Havia decidido que se os hóspedes não desejavam vê-lo fazendo o seu trabalho, como informara o empregador, desinteresse maior era o dele em se encontrar com aquelas pessoas que pareciam se julgar melhores do que as outras. 

Ele havia se levantado bem cedo, temendo haver alguma retenção no trânsito no centro da cidade que viesse a atrasá-lo. Ele precisava chegar no horário, ou poderia perder a chance daquele emprego que oferecia um bom salário.

O recepcionista do hotel, um antigo namorado, havia lhe arranjado a vaga, dizendo que convencera o patrão de que eles precisavam de um faz tudo e não de uma equipe inteira de pessoas com seus talentos sendo cobrados separadamente. Garantiu que o antigo namorado sozinho daria conta de tudo por ali.

Seria difícil, o rapaz sabia, ficar o dia todo num local tão diferente da simplicidade da comunidade onde morava. Felizmente, ofereciam um uniforme, ou não saberia que tipo de roupas deveria usar num ambiente como aquele.

O namorado de Brenner não conseguiu disfarçar o deslumbramento que estava tendo diante de tanta riqueza num lugar só. Ele admitia que não entendia muito de decoração, mas podia imaginar  que cada vaso que enfeitava a recepção...cada tapete...cada cinzeiro daquele lugar  deveria valer uma fortuna!

_Querido, feche a boca ou irá engolir uma mosca! _ brincou o recepcionista ao vê-lo.

_Tudo bem que a fachada do hotel é maravilhosa, mas mesmo assim eu nunca poderia imaginar o quão luxuoso é isso aqui dentro, Pablo! _ exclamou Pedro olhando tudo a sua volta. _Que tipo de gente se hospeda num lugar desses, meu Deus? Isso mais parece um palácio!

O recepcionista havia feito um muxoxo e dado de ombros, como se já tivesse se acostumado com o lugar a ponto de  nada daquilo chamar a sua atenção mais:

_Ninguém que está aqui é  melhor do que nós dois, belo, acredite...Eles apenas têm mais dinheiro do que a gente, só isso. 

Pedro aproximou-se do amigo, quando ele lhe fez um gesto para se aproximar.

_ Não fique intimidado com eles, querido... _cochichou o recepcionista. _ É um bando de riquinhos de merda que quando dá na telha, Pedro, saem  quebrando chuveiro, elevador...Outro dia, um deles surtou, quebrou a torneira do banheiro no murro e ameaçou processar o hotel que estava demorando a encontrar alguém para consertar a porcaria que ele havia feito...isso num domingo às onze e trinta da noite! Por isso, fique atento, meu nego...emergências acontecerão, como eu te expliquei.

_É...já fiquei sabendo que posso ter horas extras pra caramba aqui. _ observou Pedro.

_Se te ligarem no meio da noite, pegue a sua moto e venha o mais rápido possível, porque eles não gostam de esperar! Pagam grana alta por estes contratempos, você vai ver!

Pedro sabia que talvez Brenner, seu namorado, não fosse gostar muito de suas saídas no meio da noite para atender aquela gente...mas se o dinheiro era bom, mais rápido poderiam ter o espaço que queriam...terminar de pintar a casa, fazer uma varanda, um jardim...Ele queria dar ao homem que amava tudo  o que ele merecia ter.

_Esta gente precisa é de problema  de verdade, Pedro e não estas frescuras de surtarem por qualquer besteira! Deveriam comer o pão que o diabo amassou como aconteceu comigo... levantar de madrugada todos os dias, levar marmita debaixo do braço, enfrentar ônibus ou metrô cheios e ainda ter que sacrificar o lanche para ter dinheiro pra não precisar voltar pra casa a pé! _  Pablo desabafou. _Já trabalhei com diarreia, dor de dentes, enxaqueca...sempre com um sorriso nos lábios e sem reclamar. Eles estão vivendo como reis e trazem sempre estas caras de quem comeu e não gostou!

CONHECE-TE A TI MESMO- Armando Scoth Lee-romance gayOnde histórias criam vida. Descubra agora