CAPÍTULO 6

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Pedro estava ficando irritado ao escutar o som de coisas sendo derrubadas no quarto ao lado. 

O funcionário do hotel tinha notado que todos da equipe haviam saído e que, pelo jeito, o tal Cácio Torres,  que havia sido humilhado pelo pai, tinha ficado pra trás junto com a sua revolta. 

Incômodo acreditar que assim como o pai, também o filho não dava a mínima para o fato de  se expor na frente de um estranho. 

Cácio continuava a se depreciar esbravejando pelo apartamento...a blasfemar contra Deus e o mundo, reclamando da sorte que tivera em ter uma vida tão horrível...tão desagradável e por ser um ser tão desprezível e miserável. 

Pedro realmente detestava aquele tipo de pessoa que tendo tudo pra ser feliz, julgava-se ainda merecedora de mais...talvez desejando que o céu fosse o limite.

Era evidente que o cantor estava se embebedando, o funcionário do hotel percebeu e que assim como o pai dele, perdia o controle sob o efeito do álcool. 

Obviamente, Pedro achou melhor se apressar para terminar o seu serviço a fim de sair logo dali, antes que o restante da equipe voltasse, ou mesmo temendo que a bebedeira do outro pudesse vir a lhe causar problemas. 

Pedro  já tivera a oportunidade de conhecer a equipe de limpeza do hotel e sentia pena por saber que logo ela  seria convocada para arrumar a bagunça que o cantor  estava fazendo. Como alguém assim não valorizava o serviço do outro?

Minutos depois, Pedro percebeu que infelizmente as peças que levara não seriam suficientes para terminar o serviço e  que precisaria de mais uma peça para consertar o defeito na banheira. 

Cácio tinha ido para o quarto, quando o funcionário saiu para ir buscar a peça que faltava, aliviado por não precisar cruzar com o cantor e torcendo para que ele não viesse lhe encher a paciência.

Meia hora depois, quando Pedro novamente entrou no apartamento de Cácio, já encontrou o cantor  largado no sofá e com o olhar perdido.

Com os olhos vermelhos, parecendo ter chorado, o cantor falou com a voz enrolada apontando para o rosto de Pedro:

_Ei! Você aí! Chame a polícia pra mim, porque eu vou matar o meu pai!

Pedro olhou aquela cena deprimente e não disse nada, pois era visível que o outro não estava em seu juízo perfeito. Ignorando o que havia acabado de ouvir, dirigiu-se novamente ao banheiro, lamentando o azar de ter tido aquele contratempo da peça que havia faltado. 

_Ei! Não me ouviu? Chame a polícia pra mim porque eu vou matar o meu pai, aquele desgraçado filho da mãe! _ Cácio berrou. _Aquele miserável escroto acha que tem o direito de mandar em mim, só porque me botou no mundo...

Pedro não comentou nada...quem sabe se ficasse em silêncio, o outro o esqueceria, voltaria para o quarto e ele poderia ir embora  sem ser visto?

Cácio cuspiu enojado no chão:

_Uma vez o meu pai falou que eu era uma porra muito mal gasta...deveria ter convencido a minha mãe a me abortar, isso sim teria sido melhor!

Artistas...pensou Pedro...sempre se julgando as vítimas do mundo, sempre cheios de excentricidades, de caprichos...como eles mesmos diziam, envoltos em uma sofrência que não tinha fim.

Cácio bateu forte com os nós dos dedos na porta do banheiro, assustando o funcionário:

_Fala alguma coisa, cara! Você é surdo ou mudo?

Pedro decidiu ser profissional e falou educadamente:

_O serviço já está quase pronto, senhor! Menos de cinco minutos e...

CONHECE-TE A TI MESMO- Armando Scoth Lee-romance gayOnde histórias criam vida. Descubra agora