Mais tarde naquele mesmo dia:
O dia já está acabando, o céu escurecendo, e eu aqui, deitada com o meu marido na nossa cama, os dois apenas olhando o nada, o completo e absoluto nada, apenas isso, nada mais do que isso.
Nós dois estamos com as cabeças distantes, também quem é que não ficaria assim depois de escutar que pode estar grávida, tudo bem, eu e o meu marido adoramos crianças, queremos a nossa casa cheia de sobrinhos, mas não queremos crianças nossas, não estamos preparados e sabemos que nunca estaremos.
TT: você acha que existe alguma chance de vocês estar?- pergunta me olhando e eu nego com a cabeça.
Eu: eu tenho certeza absoluta que não- falo e respiramos fundo.
TT: você não acha melhor fazer um teste para ter certeza?- pergunta e eu dou de ombros.
Eu: se você realmente quer passar por isso, assim que chegarmos na Penha eu faço o teste- falo me sentando na cama- mas agora vou me vestir para descer, tem um churrasco nos esperando lá em baixo- falo e ele confirma com a cabeça apenas.
Me levanto da cama e vou até a minha bolsa, já passo os meus produtos corporais, visto um vestido vermelho soltinho no corpo, de manga longa, decorado, abertura nas costelas e uma pequena fenda na perna, nos meus pés apenas um chinelo havaianas bandeirinha branco.
Passo um pouco de perfume e desodorante, pego o meu celular e apenas desço sem falar nenhum "A" para o meu marido. Não estou brava com ele por ele querer que eu faça um teste, não me incomoda nenhum pouco inclusive, eu também quero fazer o teste.
Mas hoje eu e ele estamos com a cabeça longe o suficiente, com a cabeça longe demais para pensarmos em alguma outra coisa, e sei lá, eu estou tão confusa, a minha cabeça com trezentos milhões de pensamentos, eu não estou nenhum pouco preparada para fazer qualquer outra coisa.
Bia: já estava quase subindo para buscar vocês dois- fala e eu apenas olho para trás vendo o meu marido também descendo.
Eu: estávamos deitados- falo e ela confirma com a cabeça apenas.
Bia: a comida já está servida, e o Lobão já está quase terminando de assar a carne- fala e eu confirmo com a cabeça- fala e eu apenas confirmo com a cabeça.
TT: tem remédio para dor de cabeça aí mãe?- pergunta e eu olho para ele preocupada.
Eu: tem na minha bolsa amor, pega lá- falo e ele já volta a subir as escadas.
[...]
Cintia: eu não queria que o Bruno fosse para São Paulo- fala e eu confirmo com a cabeça.
Eu: vem falar isso logo para mim? O Thiago quer me fazer ficar louca, isso sim, me fazer ter um treco do coração, ter um infarto, sei lá- falo e já termino de secar o meu copo.
Cíntia: sabe uma coisa que eu acho engraçado? Você e o TT quando se conheceram, um nunca foi com a cara do outro, do nada, do dia para a noite, viraram melhores amigos- fala e eu apenas dou risada.
Eu: ele que agia como um escroto- falo e ela da risada.
Cíntia: e você odiava com eles.
Eu: com unhas e dentes, mas é como dizem, o ódio e o amor andam lado a lado- falo olhando para o meu marido que está todo concentrado no jogo de poker.
Cíntia: pena que vocês não querem filhos, iam ser uma família tão linda- fala tombando a cabeça para o lado.
Eu: teve uma época que eu queria até, mas eu tenho medo Cíntia, eu já passei muitas coisas nas mãos do meu pai- falo olhando para ela.
Cíntia: mas você sabe que o TT não é o seu pai, ele está longe de ser como o seu pai- fala e eu confirmo com a cabeça.
Eu: eu sei, nunca passou essa ideia pela minha cabeça, mas eu apanhei muito Cíntia, e tenho medo, e se ele tiver me machucado? E se eu não puder ter filhos? E se eu conseguir engravidar, mas não conseguir segurar a criança?- pergunto e ela só me olha.
Cíntia: já procurou uma ginecologista?- pergunta e eu confirmo com a cabeça.
Eu: ela diz que está tudo bem comigo, mas eu não acredito- falo e ela só se matem calada.
TT: o que as moças conversam?- pergunta vindo na nossa direção com o BR do lado dele.
Eu: sobre a vida- falo e ele me olha atento.
Cíntia: eu estava falando que é engraçado vocês dois, um dia se odiavam e no outro estavam mil amores- fala e o Thiago da de ombros.
TT: eu nunca odiei a minha mulher- fala e eu olho para ele com os olhos estreitos.
Cíntia: mas agia como um escroto- fala e ele da de ombros.
TT: ela era mulher do meu parceiro, você queria o que? Mas aqui foi tesão a primeira vista, vi ela no dia que eu saí da cadeia, toda linda, toda gostosa, na dela, posturada, não sei nem o que foi que ela afetou mais, se foi o meu tesão ou o meu coração- fala e eu dou risada.
Eu: mas eu te odiava, você se achava o maioral, só falava merda- falo e ele da de ombros.
TT: eu sou o maioral meu amor- fala sentando do meu lado- mas a parte de só falar merda, era para tu ficar longe de mim, talarico tem vida curta- fala e eu só dou risada da cara dele.
BR: eu tô só a prova, esse aí encheu os meus ouvidos falando de tu- fala e o meu marido apenas ergue o dedo do meio para ele.
Eu: por isso que eu vivia com a orelha vermelha- falo e demos risada.
O Thiago foi a melhor escolha que eu já fiz em toda a minha vida, eu nunca vou esquecer a forma como ele sempre me tratou, me protegeu, cuidou de mim. Aquele beijo que ele me deu na frente da quadra, naquele bar da Penha, a primeira vez em que transamos, mesmo ele tendo sedido ou desejo de ambos, só por estar puto da vida com o Perigo, o jeito como ele sempre disse que eu seria dele, e ele estava certo, eu sou dele, completamente e exclusivamente dele.
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Liberdade
Teen FictionO meu coração está acelerado, a minha respiração está falha, o medo me corroendo, os meus gritos de ajuda ignorados, será que ninguém está me ouvindo? Eu estou implorando por ajuda, estou implorando por socorro, estou implorando por liberdade... É c...