Thiago T. Macedo
Terça-feira.
Eu já estou em São Paulo com o BR e com boa parte dos nossos homens, ainda não estou em Paraisópolis, mas já estamos todos nos arrumando para irmos para lá, ajudar os nossos aliados na guerra que estão enfrentando.
Todos os dias eu falo com a Carolina, para saber como ela está, se ela está bem, se está sentindo alguma coisa. Cheguei pela madrugada de hoje, sai do Rio de janeiro ontem pela noite, descobrimos a gravidez domingo de manhã, e agora eu sigo com o meu coração na mão.
Todos temos os nossos pontos fracos, e um homem só pode ser derrotado por ele, mas eu, quando mais jovem e até agora mais velho mesmo, antes de conhecer a Carolina, dizia ser um homem sem nenhum ponto fraco, afinal, sempre fui um homem sozinho, não tinha com o que me preocupar.
Os meus pais sempre souberam se defender, mesmo sendo meio que meu ponto fraco, nunca foram nada que eu devesse me preocupar, mas eu sim sempre fui o ponto fraco deles, o pequeno e indefeso Thiago, o filho caçula e único a sobreviver.
Eu tinha um irmão, Pedro Henrique Tavares Macedo, ele tinha quinze anos quando morreu, e eu apenas sete, era uma noite de invasão, os meus pais estavam na guerra, eu e ele no cofre de casa, mas ele tinha uma namorada na época, Cecília, ele me deixou no cofre e saiu dizendo que já voltava, que só ia ter certeza de que ela estava bem.
No dia seguinte acionaram os meus pais assim que a guerra acabou, enquanto olhavam os corpos largados na rua, um era ber conhecido, o meu irmão, ele morreu com cinco tiros no peito. Anos depois os meus pais quiseram outro filho e conseguiram engravidar, mas a gravidez não durou mais do que cinco meses, ela perdeu o bebê.
O meu motivo para não ter filhos, não queria passar pelo o que eu vi os meus pais passando, a minha mãe chegou perto de tirar a própria vida, já o meu pai, eu vi o meu pai chegar na ruína, chegar ao fundo do poço. Não que o meu irmão ou o bebê tenham sido mais amados do que eu, mas creio que tudo isso que aconteceu, seja parte significativa de anos da minha má relação com meu pai.
Mas depois da Carolina, nunca mais ousei abrir a boca para dizer que sou um homem sem pontos fracos, agora então, estou aqui, sentado no meu escritório com o celular na mão, vendo atentamente cada detalhe de uma foto que a Carolina me mandou, arrumada para ir para a principal, com a barriga de fora, agora mais do que só um ponto fraco, eu tenho dois.
Mas também me encontro aqui, prestes a viver parte da dor que eu vi os meus pais passando, e prometi a mim mesma que nunca passaria por aquela mesma dor, pois nunca teria nenhuma criança com o meu sangue, que eu nunca teria um filho do meu sangue ou não.
BR: tudo isso me lembra a anos atrás, nós três juntos e sem medo de nada, o trio destemido, que entrava de cara na guerra, sem medo de nada- fala e eu dou uma risada fraca.
Eu: não tínhamos nada que nos impedisse de fazer isso naquela época- falo e ele confirma com a cabeça.
BR: mas agora temos para quem voltar- fala e eu dou um sorriso fraco.
Eu: você vai ser pai, tem sua mulher, eu tenho a Carolina- falo e ele me olha preocupado.
BR: o que é que está te incomodando tanto?- pergunta e eu dou de ombros.
Eu: eu acho que quebrei a minha palavra, mesmo que sem querer- falo e ele me olha confuso.
BR: tem haver com a Carolina?- pergunta e eu confirmo com a cabeça.
Eu: tem- falo e dou de ombros- tudo que tem haver comigo, também tem haver com a Carolina, afinal de contas, eu e ela agora somos um só- falo e ele confirma com a cabeça.
BR: só não vai fazer besteira irmão, se você morrer nessa guerra, você vai estar matando a sua família também, a Carolina morra se acontecer alguma coisa com você, e eu acho que eu os seus pais já perderam filhos demais nessa vida- fala e eu confirmo com a cabeça.
Eu: eu sei- falo e respiro fundo.
- Chefe, tudo pronto para a gente partir de noite, de madrugada já estaremos na guerra deles- fala e eu confirmo com a cabeça.
Eu: ok, as dezenove horas já quero todos prontos para partir- falo e ele confirma com a cabeça.
BR: vou lá ver se está tudo certo, e você, trate de tomar um rumo na sua vida, não se mate naquela guerra e nem vacile com a Carolzinha- fala e eu confirmo com a cabeça.
Ele sai do meu escritório e eu ja trato de ligar de vídeo para a minha mulher, quero saber como ela está, ela e o nosso bebê, e principalmente, quero que ela deixar claro para ela que eu vou estar ao seu lado, independente do que acontecer com o bebê.
Apóio o celular e algumas pastas empilhadas que tem na minha mesa, olho bem para a tela enquanto espero a minha mulher atender, o que demora um pouco, mas logo eu vejo o rosto da Carolina na tela.
Carol: como estão as coisas aí meu amor?- pergunta me olhando atenta.
Eu: estamos nós preparando para ir para Paraisópolis, e aí? Como vocês estão?- pergunto e ela da risada.
Carol: eu não sei se me preocupo mais com você ou com o que vai acontecer com o feto- fala e eu confirmo com a cabeça.
Eu: conseguiu marcar uma consulta?- pergunto e ela apenas confirma com a cabeça.
Carol: depois do almoço eu já vou lá, normalmente eu esperaria o pai da criança para ir comigo, mas eu não sei se você vai voltar, e eu não sei se essa criança durar até você voltar, e eu quero que essa gravidez dure, porquê mesmo que eu esteja tentando não me apegar a esse feto, é uma parte minha e sua que eu estou carregando dentro de mim, eu quero mais do que tudo ter essa criança Thiago- fala já chorando e eu apenas confirmo com a cabeça.
Eu: eu também quero mais do que tudo ter essa criança com você boneca, e eu vou voltar para você, isso é uma promessa Carolina- falo e ela me olha toda chorosa.
Como eu odeio ver a minha mulher assim, triste, com o rosto coberto de choro, eu amo ver o sorriso dela, porquê o sorriso dela é a única coisa que me faz querer sorrir também.

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Liberdade
Teen FictionO meu coração está acelerado, a minha respiração está falha, o medo me corroendo, os meus gritos de ajuda ignorados, será que ninguém está me ouvindo? Eu estou implorando por ajuda, estou implorando por socorro, estou implorando por liberdade... É c...