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       Me levanto da cama com cuidado para não acordar o Thiago, o dia já está amanhecendo, mas eu passei a noite em claro, com mil e um pensamentos, será mesmo que eu estou grávida?

        Pego o meu celular na mesinha de cabeceira, desligado, eu esqueci de colocar ele para carregar durante a noite, pego o do meu marido sem que ele perceba, ligo a tela vendo uma foto do nosso casamento na tela, estávamos tão lindos, e esse dia foi tão perfeito.

       Desbloqueio a tela vendo uma foto minha dormindo, filho de uma puta, quando que essa porra tirou essa foto? Enfim, entro no aplicativo de pesquisa, titio Google e já procuro os sintomas de gravidez.

     Crescimento dos seios e dor, corrimento cor-de-rosa, atraso de 5 dias ou mais, inchaço abdominal, enjôos matinais, repulsa à cheiros mais fortes, desejo de comidas incomuns, cólicas e vômito, aumento da frequencia de urinar, tonturas e dor de cabeça, variação anormal de humor, cansaço e sono excessivo, pele oleosa e acnes, prisão de ventre, aréola dos seios escuras, náuseas e dor nas costas.

        Puta merda, largo o celular no mesmo lugar que eu peguei e já vou para o banheiro do quarto, nem me importo em fechar a porta, já entro no cômodo abaixando as alças da minha camisola e observo os meus seios, maiores e doloridos eles estão, mas achei que fosse por causa da TPM, da minha menstruação, eu sei lá.

         Mas agora observando na fre te do espelho, os meus seios estão mais escuros que o comum, e todos os sintomas que estou sentindo esses últimos dias batem com os do artigo, puta que me pariu meu Pai, puta que me pariu.

        Procuro desesperada na minha necessarie por um teste de gravidez, quando o acho já vou lendo as instruções e o faço da maneira certa, o deixo na pia enquanto espero sair o resultado, meu Deus do céu, que seja apenas um belo e incisivo negativo.

          Os dez minutos de espera para o ver o resultado, foram os mais longos e mais dolorosos da minha vida, o meu coração a cada segundo se acelera mais, as minhas mãos tremem, o meu corpo inteiro se encontra suado, as minhas pernas estão fracas, se me mantenho em pé nesse exato momento, é porquê estou apoiada na pia, olhando fixamente para o meu reflexo no espelho.

        Me encontro com o cabelo meio desgrenhado, o rosto coberto de lágrimas, lágrimas essas que escorrem pelo me rosto sem nenhuma permissão, e que carregam todo o meu desespero com ela, eu estou coberta de medo de ver um positivo, ou pior, um falso negativo.

        Respiro fundo e conto até três, olho uma última vez para o meu reflexo no espelho, e logo desço os meus olhos para o teste na pia, por um momento vejo tudo a minha volta parar, paro de respirar no mesmo momento que vejo o resultado na caneta, sinto as minhas pernas vacilando e me agarro ainda mais forte na pia, para não despencar direto no chão.

TT: boneca? O escuto ao longe me chamando, com voz sonolenta, mas bem ao fundo mesmo- boneca?- novamente- amor? Carolina, está banheiro?- escuto os seus passos se aproximando, ergo o meu olhar para o espelho e vejo o seu reflexo me observando- o que aconteceu boneca? Que cara é essa?- pergunta se aproximando e pega a caixinha do teste- você fez?- pergunta e eu apenas confirmo com a cabeça- cadê?- pergunta e eu olho para a caneta de tampa azul na minha mão.

        Entrego o teste para ele, e vejo a cor do seu rosto sumindo, assim que ele vê o resultado no teste, ele me olha ficando estático, volto a me apoiar na pia observando somente os nossos reflexos no espelho.

TT: isso é sério?- pergunta e eu confirmo com a cabeça- não pode ser um resultado falso não?- pergunta e eu nego com a cabeça.

Eu: é muito fácil dar um falso negativo, mas falso positivo é impossível- falo e ele larga o teste na pia esfregando o rosto.

     Olho novamente para a caneta do teste de gravidez, observo bem a telinha com o resultado e respiro fundo ao constatar que aquele resultado não é uma miragem, uma invenção da minha cabeça e nem nada desse tipo.

"Grávida
3+ semanas"

       É, pelo o que parece a minha sogra estava certa, eu estou grávida, agora eu carrego uma criança dentro de mim, não sei por quanto tempo, não sei até quando isso vai durar, mas sei que no final dessa história ainda vai ter um choro presente em meu rosto, porquê eu sei que essa criança não vai vingar.

TT: eu não consigo acreditar nisso- fala esfregando o rosto e se senta na tampa do vaso.

Eu: não vamos ter essa criança- falo e ele me olha confuso.

TT: não Carolina, a gente não queria ter essa criança, não significa que vamos abortar, eu não vou deixar você abortar- fala me olhando sério e eu nego com a cabeça.

Eu: quando eu era mais nova e vivia com o meu pai, eu sonhava com o dia em que eu seria livre e teria a minha própria família, mas aí eu consegui a liberdade que eu tanto sonhei, e com ela veio o medo de não conseguir ter filhos- falo e olho para ele- eu não sei se eu vou conseguir carregar essa criança até o final da gestação Thiago, eu não sei se esse bebê vai vingar- falo e ele apenas me olha atento- eu já apa apanhei muito do meu pai, a minha decisão de nunca ter filhos é porquê eu não sei se aquele velho do caralho machucou alguma coisa aqui dentro, ao ponto de eu não conseguir gerar os meus próprios filhos- falo e saio do banheiro indo me deitar na nossa cama.

[...]

TT: a gente vai ter um bebê que nem sabemos se vai sobreviver a gravidez?- pergunta e eu confirmo com a cabeça.

Eu: por isso que eu não queria engravidar- falo e olho para ele.

TT: e eu não queria ter filhos porquê eu vi a minha mãe perdendo o meu irmão e um bebê- fala e eu olho para ele confusa.

Eu: eu não sabia que tinha um irmão- falo e ele desvia o olhar para o teto.

TT: ninguém sabe- fala e eu confirmo com a cabeça.

LiberdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora