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    Já passam das dezoitos horas quando chego em casa. Arrastada, tiro os sapatos no hall de entrada e corro para o banheiro. Preciso de um banho quentinho para recarregar as energias.

    Passar o dia estudando etnologia ameríndia e de quebra trabalhar com um arqueólogo recém-formado chato e metido no museu, sugou toda minha disposição.

    Enquanto movo o secador para lá para cá em cima dos cabelos molhados de frente para o espelho, observo os machucados no meu rosto. Começo a xingar Eun-Woo em pensamento, rogando maldições sobre ele.

    E como consequência, lembro que tenho uma hóspede no apartamento. Largo o secador na pia do banheiro e saio do quarto com o cabelo meio molhado, procurando pela cachorra.

    Garota? — digo ao mesmo tempo em que faço um barulho ridículo com a boca. — Garota, vem aqui — continuo chamando, mas nada da danada.

    Reviro todo o apartamento e vou encontrá-la debaixo do sofá, cabisbaixa. Arrasto o móvel e noto que ela vomitou. Enrugo o nariz ao me abaixar para pegá-la e sinto-a queimando em febre.

    Você tá bem? — pergunto e ela me encara com os olhos meigos, amolecendo meu coração. — O que será que você tem? — faço outra pergunta, mas é claro que não tenho respostas.

    Sem pensar muito, coloco a cachorra em cima do sofá e pego um casaco no quarto ao mesmo tempo em que tento chamar um Uber pelo aplicativo do celular. Pego a bolsa no cabideiro perto do hall de entrada e calço os tênis, depois chamo a cachorrinha, que embora pareça sem forças, vem ao meu encontro.

    Do lado de fora do prédio, o Uber me espera e ao entrar no carro, ele faz cara feia para a Lulu da Pomerânia nos meus braços, mas o ignoro e peço que ande rápido até a clínica veterinária que passei o endereço.

    Vinte minutos mais tarde, estamos em frente à clínica do pai da primeira amiga que fiz ao me mudar para Seul. O lugar tem dois andares e fica entre uma cafeteria e uma clínica de depilação a laser. Está tudo movimentado por aqui, porque existe um hotel cassino na rua de trás.

    Empurro as portas de vidro e entro. A recepcionista fica me encarando de um jeito estranho e eu não entendo o motivo. Depois de sair do êxtase, pergunta qual o problema ao ver a cachorrinha cabisbaixa em meus braços. Digo como a encontrei e comento sobre o vômito. Enquanto ela faz anotações, passos os dedos de leve na cabecinha peluda de cor caramelo.

    Qual o nome dela? — a recepcionista quer saber.

    Prenso os lábios por um segundo e digo a primeira coisa que vem à minha cabeça.

    Garota.

    A moça detrás do balcão ergue uma sobrancelha, mas assente, quando percebe que estou falando sério.

    “Garota” é um nome sem emoção e não tem criatividade nenhuma, mas eu ainda não tive tempo de buscar no Google nomes para se colocar em um bichinho de estimação.

    Droga. Eu ainda nem tive tempo de me acostumar com a cachorra.

    Ela pega o telefone e disca o número do médico veterinário, que surge na recepção três minutos depois. Quando o senhor Kim coloca os olhos em mim, parece assustado e até mesmo, confuso.

    Seo-Yun? Aconteceu algo? Você está bem? — pergunta com a testa franzida e eu fico sem entender.

    — Eu? Ah, sim, sim. O problema é com a Garota — falo ao erguer com cuidado a cachorrinha dos meus braços.

O homem da máfia - Jeon Jungkook e Chong Seo-YunOnde histórias criam vida. Descubra agora