Capítulo 2

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Miguel

Tijuana, México

- Achou que poderia entrar no meu território tranquilamente e nada aconteceria com você? - O homem em minha frente parece estar quase inconsciente. - Despiértate, hijo de puta.

Aceno para Juancho e ele joga um balde de água com sal nele. Como seus ferimentos estão abertos, sei que vai doer bastante e essa é a intenção.

O americano solta um grito alto quando a água cai exatamente nos machucados. Solto uma gargalhada enquanto acendo meu cigarro. Guardo meu isqueiro no bolso e dou uma tragada.

- Quem te mandou pra cá, cabrón? - Pergunto mais uma vez. Esse policial de San Diego estava vagando pela fronteira e tentou entrar em Tijuana. Provavelmente a mando de algum inimigo ou de alguém que quer minha cabeça. - Ninguém te falou que quem entra em Tijuana, nunca mais sai?

- Por favor, eu não fiz nada. Não sei de nada. Eu tenho família. - Sua voz sai desesperada. - Meus superiores me mandaram para a fronteira para verificar se estava tudo certo.

- Então por que entrou em Tijuana? - Dessa vez Pedro é quem questiona com uma arma apontada para sua cabeça. - A ordem não foi vigiar a fronteira na parte de San Diego? O lado do México pertence a nós e ninguém entra sem a nossa ordem.

- Eu não queria entrar, mas quis vigiar tudo, porque é meu primeiro dia trabalhando em campo. Quis fazer um bom serviço. Por favor, podem verificar meu distintivo e documentos.

Juancho se afasta e me chama com um aceno para acompanhá-lo. Vamos até a saída do galpão.

- Eu acho que ele está falando a verdade, Miguel. - Sua voz sai baixa.

- Eu também acredito, mas temos que matá-lo. Ele viu coisas demais. - Jogo a bituca de cigarro no chão e acendo mais um.

- Não acho que precisamos matá-lo, primo. Ele não é uma ameaça, nem o torturamos direito e o maricón quase fez xixi na calça. - Nego com a cabeça e permaneço irredutível, mas Juancho ainda quer me convencer. - Somos assassinos, mas não matamos inocentes, Miguel. Matamos aqueles que são uma ameaça ao nosso território e ao nosso povo.

Pedro se aproxima de nós com o fuzil pendurado em seu corpo.

- E aí, chefe, vamos matá-lo ou não? - Dou um último olhar a Juancho e reviro os olhos. O bastardo consegue ser persuasivo.

- Leve o americano de volta para a fronteira e diga que dessa vez ele deu sorte, da próxima eu posso não estar em um bom dia.

Ele acena com a cabeça, acatando minha ordem, e vai até o policial. Volto meu olhar para Juancho, que me encara com um sorriso orgulhoso no rosto. Odeio quando ele age como se fosse meu irmão mais velho.

- Pare de me olhar assim, caralho. - Ele dá risada.

- Você é muito mal humorado, Miguel. Tá precisando transar mais. - Tento dar um soco, mas ele consegue desviar. - Vamos no bar da Tereza? Tô afim de tomar tequila.

- Vamos logo, idiota.

Pego a chave da minha moto e me dirijo para fora do nosso galpão. Guardo a arma na cintura, enquanto espero Juancho se aproximar de mim com sua moto.

A Mulher do ChefeOnde histórias criam vida. Descubra agora