Capítulo 47

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Miguel

Tijuana, México

Guadalupe entra na boate assustada e provavelmente não deve entender o que está acontecendo. Ela segura sua bolsa com força contra o corpo a medida que entra no local. Acho que nunca esteve aqui antes, porque seus olhos vasculham cada canto da casa noturna.

Quando seu olhar encontra o meu, Lupe parece ficar mais tranquila. No entanto, ao olhar na direção do meu convidado, volta a ficar assustada e não a julgo por isso. Qualquer um que o vê pela primeira vez tem essa impressão.

- Mi niño, está tudo bem? - Sua voz sai tremida. - Por que me chamou aqui? Alguma coisa aconteceu? Encontraram Violet?

Me aproximo dela e a abraço pelo ombro, tentando tranquiliza-la.

- Calma, Lupe, precisamos apenas da sua ajuda.

- Mas no que posso ajudar, Miguel?

- Sabemos que você trabalhou na casa que Terence Chase cresceu. - Seus olhos se arregalam e sua respiração fica descompassada. - Não estou te acusando de nada, Lupe, fique tranquila. Nunca desconfiaria de você.

Ela suspira aliviada, mas mantém a postura tensa. Guadalupe se solta de mim e vai até o sofá, se sentando em seguida.

- Eu era um pouco mais velha que sua mãe quando comecei a trabalhar lá. Juan Pablo, que era um grande amigo do meu irmão, já estava se relacionando com ela havia um tempo. Ele era extremamente protetor e precisava de alguém para vigia-la, então me mandou para San Diego para ficar de olho. Seu pai sabia que os pais dela eram muito rígidos e ainda tinha o irmão obcecado, por isso precisava ter a certeza de que não fariam nada com Ella. - Seus olhos enchem de lágrimas. - Fui contratada pra trabalhar junto com a cozinheira da casa, apenas a auxiliava em algumas coisas, porque eu era muito nova e inexperiente. Ao mesmo tempo tentava colher o máximo de informações possíveis e as repassava para Juan.

- Eu via o quanto Ella era infeliz e quanto estava sofrendo nas mãos dos pais e de Terence. Deus me perdoe, mas esse homem é o diabo em forma de gente. - Ela diz fazendo o sinal da cruz. - Desde sempre foi ardiloso. Era nítido que não se importava com ninguém, apenas com o dinheiro e o poder. Eu também via que ele manipulava o pai e a mãe para que eles castigassem Ella Rose e não a deixassem sair de casa. Antes da menina fugir, ele estava quase os convencendo de aprovarem o casamento entre os dois.

Lupe seca as lágrimas dos olhos. Tento controlar minhas emoções, mas ouvir isso é como jogar sal nas minhas feridas.

- Sua mãe era uma preciosidade, Miguel. Mesmo sofrendo todos os dias, ela ainda amava sua família e impediu que Juan Pablo invadisse a casa e matasse a todos inúmeras vezes. Ela o acalmava dizendo que eles iriam mudar em algum momento, mas isso nunca aconteceu. Até que um dia, Ella decidiu escapar e eu a ajudei.

Pensar que isso tudo aconteceu com minha mãe é loucura. Quando me lembro dos meus pais, sempre me lembro de nós três juntos, como uma família que apesar de não ser perfeita, era feliz. E imaginar que tudo isso foi tirado de mim por conta de um filho da puta me deixa com mais sede de vingança ainda.

- Onde fica esta casa, Lupe? - Pergunto de uma vez. - Desconfiamos que Terence levou Violet pra lá.

- Fica em um antigo bairro industrial de San Diego, mais afastado da centro da cidade.

Lupe passa a localização exata da casa e aquele sentimento de ansiedade só cresce. Sinto que estou cada vez mais próximo da minha mulher.

- Alfonso, chama o Pedro e peça pra ele preparar os homens. Vamos para San Diego! - Desvio os olhos para Ivan. - Posso contar com sua ajuda?

- É claro, Miguel. - Ele responde firmemente para meu alívio.

 - Ele responde firmemente para meu alívio

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Violet

San Diego, Califórnia - EUA

Corto um pedaço do frango e me forço a mastigar e engolir, mas a ansiedade não me permite, faço apenas pelo meu bebê. Ele não tem culpa de nada do que está acontecendo, e não quero que saia prejudicado por alguma imprudência minha.

Não estou sozinha na sala de jantar, K2 vigia cada movimento que faço, sinto um desconforto muito grande e não consigo fica a vontade. Além disso, não pude observar se de fato ainda há a passagem secreta atrás da cristaleira como Ella relatou no diário.

Um som de toque de celular toma conta do ambiente, K2 sai de sua pose indiferente e atende a ligação. Ele começa falando de forma tranquila, mas a pessoa que esta na chamada deve ter dito algo muito sério, porque sua expressão muda quase que instantaneamente.

- Que merda, caralho. Já estou indo. - Ele grita. - Você, fique aí e não se atreva a sair do lugar.

K2 aponta os dedos na minha cara me alertando. Eu apenas aceno com a cabeça e ele sai apressado em seguida. O que será que aconteceu?

Fico sozinha na sala de jantar, é possível ouvir apenas o som do rádio tocando uma música antiga e a minha respiração. Tudo o que li no diário de Ella repassa na minha mente. Estou com a faca e o queijo na mão, posso de fato fazer algo para fugir daqui.

Olho para a cristaleira pensativa. É um móvel de madeira, nem grande nem pequeno, então acredito que não precise de muita força para empurrá-lo.

Sem pensar duas vezes me levanto da mesa e vou em direção ao móvel. Tento dá um empurrão para ver se tenho força o suficiente mover a cristaleira, me sinto eufórica ao perceber que não é tão pesada. Faço um esforço e consigo tirá-la completamente do lugar. A pequena porta de madeira pintada de branco é revelada.

Me agacho e abro a portinha. Está um pouco empoeirada e com teias de aranha, porque não deve ser usada há muito tempo. O túnel que leva ao porão é escuro e sombrio, mas sei que para eu sair daqui tenho que passar por isso.

Passei minha vida inteira presa e agora que senti o gosto da liberdade, não vou abrir mão.

Respiro fundo e decido atravessar o túnel.

A Mulher do ChefeOnde histórias criam vida. Descubra agora