Capítulo 44

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Miguel

Dia seguinte

Tijuana, México

Estou de volta na casa dos meus pais. Aquela cena que conheço tão bem, em que caminho pelo corredor escuro até o quarto deles volta a se repetir. Assim que chego no cômodo, sei que quando abrir a porta, vou encontrar os corpos do meu pai e minha mãe estendidos no chão.

No entanto, quando abro a porta vejo mamãe sentada na poltrona em frente a janela. Ela está com um livro aberto em seu colo, mas não o lê, em vez disso observa o nascer do sol pela janela. Os raios de luz refletem seus fios loiros, deixando-a com uma aparência etérea.

Estou parado a observando. Tento não me emocionar, mas é difícil, estar perto dela é como despertar as minhas lembranças mais felizes e tristes ao mesmo tempo.

Quando mamãe percebe minha presença, se levanta da poltrona e vem até a mim com um sorriso que transmite paz e tranquilidade. Ela emoldura suas mãos em meu rosto e acaricia suavemente.

- A garota dos olhos violetas precisa de você. - Sua voz sai como um sussurro. - Ela se parece muito comigo, temos muitas coisas em comum. Você precisa encontrá-la, meu amor!

- Mas como, mamãe? Não sei onde ela está. - Falo como um garotinho perdido.

- Violet está em um lugar que foi minha prisão durante muito tempo. Precisa libertá-la antes que seja tarde de mais...

Sem que eu faça mais perguntas, Ella desaparece com a escuridão.

Acordo sentindo meu rosto molhado. Olho envolta tentando me acostumar com a claridade e percebo que dormi no sofá do galpão. Minhas costas estralam a medida que tento me sentar.

- Finalmente a princesa acordou. - Meu tio me encara sério enquanto segura um balde que antes de ter jogado em mim provavelmente estava cheio de água. - Sua mulher foi sequestrada e você fica aqui se enchendo de drogas.

Ele aponta para os cigarros de maconha, a cocaína e as seringas que estão espalhadas pela mesa de centro.

- Achei que tinha parado com isso, León. - Ele só me chama assim quando está muito bravo. Tio Germán se senta na poltrona que fica de frente para o sofá e suspira mudando sua feição. - Até nisso você é idêntico ao seu pai, mi niño. Como está se sentindo?

- Derrotado. - Digo tentando controlar o choro. - Eles levaram minha mulher grávida do meu filho, tio. Eles a levaram de mim.

Conto para Germán tudo o que Gabriela me contou e o que vi pelas câmeras de segurança. O momento exato em que os filhos da puta a levam está gravado em minha mente. Todos que estão envolvidos nessa merda vão pagar muito caro, principalmente Juancho.

Minha prima foi obrigada a me contar da gravidez de Violet, o que me deixou mais furioso ainda. Elas estavam preparando uma surpresa pra mim e pra Pedro.

- Vou matá-los um por um, até não sobrar nenhum. Vou desfigurar seus cadáveres e... - Deixo o ódio me consumir.

- Acalme-se, Miguel. Sei exatamente como se sente, porque passei por isso quando mataram meu irmão, mas não podemos deixar os nossos sentimentos sobressaírem a razão. Temos que agir com cautela. - Meu tio se aproxima e segura meu rosto com força. - Estamos lidando com pessoas perigosas, se fizemos alguma merda, Violet e o bebê podem sofrer as consequências.

- Sabe que detesto me meter no seu trabalho, é apenas um conselho. - Ele se afasta dando tapinhas em meu rosto. - Sei que as drogas dão um alívio para nossa dor, mas é momentâneo. Isso não vai trazer Violet de volta. Você precisa agir.

A porta do galpão é aberta e Pedro passa por ela junto de Gabriela. Meu tio se afasta e vai em direção aos recém chegados.

- Vou deixar vocês a sós. Coloquem juízo na cabeça desse garoto. - Ouço ele falar para a filha e o genro. - Tenho que ir, Tereza não para de me ligar. - Tio Germán e se despede de nós e sai pela porta.

- Você ainda não contou a ele sobre Juancho? - Gabriela pergunta depois de se sentar ao meu lado.

- Não, vou esperar para falar para meus tios quando tudo estiver resolvido.

Quando revelei para minha prima tudo o que Juancho fez, foi um choque. Ela não pôde acreditar que o próprio irmão faria algo assim comigo e com Violet.

- Você está fedendo, priminho. - Ela brinca tentando tirar o clima de merda que está aqui. Dou uma risada fraca.

- Ela tem razão, Miguel. Precisa tomar um banho, porque daqui a pouco o seu conhecido vai chegar. - Me levanto do sofá e pego as chaves da minha moto, que estavam em cima da mesa. - Nós vamos encontrá-la, meu amigo, mas para isso você precisa parar de usar essas porras.

- Eu precisava, Pedro. Sem ela aqui, eu sou um fodido. - Meu amigo abraça meus ombros. - Se Violet não voltar, acabou pra mim...

- Não fala isso, Miguel. - Gabriela diz preocupada.

- É a verdade. Se não a encontrarmos, eu...

- Vamos tentar resolver primeiro antes de tomar qualquer decisão precipitada, tudo bem? - Pedro conclui. Fico calado e aceno com a cabeça.

Assim que abrimos as fronteiras, dezenas de SUV pretos blindados entram no nosso território

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Assim que abrimos as fronteiras, dezenas de SUV pretos blindados entram no nosso território. Sinto a ansiedade me consumir a medida que os carros param e de dentro deles saem diversos soldados armados com artilharia pesada.

Um deles vai em direção ao único veículo que ainda não foi aberto e o abre em seguida.

Um homem gigante sai dele. Eu sou alto, mas esse cara supera, deve ter por volta dos dois metros. É perceptível que ele tem milhares de tatuagens, inclusive no rosto, mas o terno ajuda a cobrir a maioria. Seus cabelos estão presos e sua barba grande está aparada. O homem parece um urso de tão grande e forte.

Ele estende a mão e uma mulher loira sai de dentro do carro, fechando a porta em seguida. Ela é o contrário dele, delicada e baixinha, parece um anjo, sem tatuagens. Deve ser sua mulher. O homem leva um carranca no rosto, mas quando olha para a jovem, seu olhar muda e fica mais leve.

Ele segura sua cintura e os dois caminham até a mim.

- Quanto tempo, Miguel León Herrera. - O homem estende a mão para eu o cumprimentar. Ele fala em um inglês carregado de sotaque, mas consigo compreendê-lo.

- Ivan Kozlov*, é uma honra recebe-los em meu território. - Trocamos um aperto firme.

- Essa é minha mulher, Milena Kozlova. - Apenas aceno com a cabeça, porque já ouvi histórias de que Ivan já arrancou a mão de um homem que a tocou. Prefiro não arriscar. - Vamos aos negócios?

Nota da autora:

* Ivan já apareceu em outras duas histórias, Um Amor em Paris e Nos Braços do Jogador, e ele também terá seu próprio livro que em breve será publicado. Só pra contextualizar, Ivan é o chefe da Bratva, a máfia russa.

A Mulher do ChefeOnde histórias criam vida. Descubra agora