Capítulo 54

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Violet

Estava em um sono profundo quando sou despertada pelo temporal. A chuva é tão forte que abre minha janela e as gotas de água caem no meu quarto. Me levanto rapidamente e fecho-a com um pouco de dificuldade, por conta ventania.

Volto a deitar na cama e percebo que Miguel não está mais no quarto. Ele havia me digo que ficaria comigo até eu pegar no sono e depois iria para o galpão, então nem o vi saindo. Me viro para o lado me cobrindo com o edredom e tentando voltar a dormir, mas não consigo, me sinto agitada.

Me levanto da cama novamente desistindo de dormir e desço até a cozinha na intenção de fazer um chá. Quem sabe não me ajuda a me acalmar e relaxar. Coloco a água para esquentar na chaleira e vou até o armário escolher o tipo do chá. Estou distraída olhando as opções quando sinto um vento gelado entrar na casa.

Estranho a situação, porque todas as portas e janelas estão fechadas. Miguel as deixou assim quando chegamos do hospital.

Vou verificando uma por uma, até achar a que está destrancada. Me surpreendo ao ver a porta que dá para a área externa aberta e balançando por conta do vento e chuva forte. Fecho-a rapidamente para não molhar mais a casa e volto para a cozinha onde a chaleira está fervendo.

Enquanto estou colocando a água quente na xícara com o sachê de chá, ouço um barulho de passos. Meu coração dispara, porque ninguém passa pela entrada sem a minha permissão ou a de Miguel. Os meninos que vigiam a casa sempre nos avisam, então acho a situação suspeita.

Procuro qualquer objeto para me defender de um possível ataque, mas nada aparece a minha frente. Tento me tranquilizar, no entanto é muito difícil. Estou pronta pra gritar e tentar me proteger quando o tio de Miguel entra pela porta da cozinha.

Ele está todo molhado e com um semblante estranho, mas não escondo o alívio que sinto. Relaxo meu corpo contra a bancada e sorrio aliviada para ele.

- Que susto, seu Germán. - Coloco minha mão contra meu peito. - Achei que alguém tinha invadido a casa, os meninos não me avisaram.

- Eles não avisaram, porque já me conhecem. - Ele diz sério e estranho seu comportamento.

Um silêncio desconfortável toma conta do ambiente. Tento quebrar o clima.

- O senhor aceita alguma coisa? Uma bebida? - Ofereço.

- Não. - Diz grosso.

- Posso ajudar em alguma coisa então? - Não me deixo abalar e continuo tentando ser cordial. - Miguel foi para o galpão, deve voltar só mais tarde.

- Eu sei... - Fala de forma vaga. - Não vim em busca dele, vim por você.

Olho-o surpresa.

- Por mim?

- Sim. - Encaro-o um pouco receosa ao mesmo tempo que ele se aproxima de mim. Grudo na bancada amedrontada. - Você se parece com ela...

Observo seu Germán calada. De quem ele está falando?

- Ela me assombrava nos sonhos e depois que você veio para cá, me assombra em todos os lugares, basta olhar no seu olhar. - Ele fala como um lunático. - Vocês compartilham do mesmo espírito e pela segunda vez, escolheram o homem errado.

Esse homem está alucinando. Juancho com certeza puxou sua loucura.

- Juan Pablo vai pagar caro por tudo que fez... ele não vai se safar.

- O pai de Miguel já está morto, Germán... - Sussurro.

- Mas o filho ainda está vivo e vai pagar pelos feitos do pai. - Tento não parecer assustada com as atrocidades que saem de sua boca. - E você vai pagar por tudo que Ella fez comigo...

Ella? Ella Rose? Ela é a mãe de Miguel?

Não tenho tempo de raciocinar, porque ele tira uma arma da cintura e aponta a arma para mim. Germán engatilha a pistola fazendo meu desespero aumentar. Olho envolta em busca de algo que me ajude, quando meus olhos param na xícara com o chá fervendo.

Germán está pronto para puxar o gatilho, mas num movimento rápido e impensado agarro a caneca e derramo todo o líquido no rosto do tio de Miguel. Ele grita desesperado e coloca as mãos no rosto, enquanto aproveito esse momento para fugir.

- Sua piranha do caralho!

Corro para a sala ofegante até chegar na porta de entrada, mas antes que eu consiga tropeço no degrau e caio no chão. Devo ter torcido o pé, porque sinto uma dor muito forte e não consigo me levantar.

- Você não vai escapar... - Germán se aproxima em passos lentos com o rosto todo vermelho da queimadura pela água quente que joguei nele. - Até o inferno, vadia!

Ele dispara o gatilho. O barulho da arma ecoa pelos meus ouvidos, foi mais alto do que imaginei. Tão alto que parecia que duas armas foram atiradas ao meus tempo. Procuro o ferimento pelo meu corpo, mas não tem nada aparente. Ele errou a mira!

Meus olhos se viram para o tio de Miguel novamente. Ele está ajoelhado no chão, com as mãos no abdômen cheias de sangue. Seu olhar está opaco, sem vida. Em seguida, Germán cai no chão. Morto.

O que mais surpreende é ver Gabriela em pé com uma arma em mãos, que antes apontava para o pai. Suas mãos tremem e seus olhos estão fixos no cadáver de Germán. Como ela chegou aqui?

- Já vai tarde, cabrón. - Ela sussurra entredentes.

Volto a respirar calmamente ao mesmo tempo que encaro minha amiga com os olhos arregalados. Não consigo acreditar no que acabou de acontecer.

- Violet. - Ela sai do transe e corre em minha direção, se ajoelhando ao meu lado. - Como você está? Ele te machucou?

- Estou bem, mas acho que torci o pé com a queda.

- Sinto muito por tudo. - Sua voz sai trêmula e chorosa.

- Não é sua culpa, Gabriela, não é sua culpa. - Eu a abraço, confortando-a de alguma forma.

- Sempre soube que meu pai era um ser humano horrível. Minha mãe relevava seus comportamentos tóxicos e abusivos, porque o amava, mas eu via como ele era podre. A forma como olhava para o tio Juan e tia Ella me enojava, era um olhar cheio de inveja e rancor. - Inúmeras lágrimas caem de seus olhos. - Apesar de sempre desconfiar de Juancho e papai, não pensava que eles pudessem ir tão longe e isso é uma culpa que sempre vou carregar comigo. Deveria ter colocado um fim nisso e ter contado a Miguel de uma vez...

- Você não tem culpa de ter o pai e o irmão que tem, assim como eu não tenho de ser filha de Salma e Terence. Nossos pais não nos definem, amiga. Somos muito mais que isso. - Acaricio seus ombros.

- Eu vi o quanto ele ficou transtornado ao ver que Miguel descobriu sobre meu irmão. Tentou disfarçar na frente da minha mãe, mas eu vi. Sabia que ia aprontar algo, então peguei a arma que Pedro me entregou antes de ir ao galpão e o segui até aqui. Não podia deixar que ele te matasse ou te machucasse de alguma forma, fiz o que tinha que fazer. Não me arrependo.

- Obrigada por ter me salvado!

Ficamos abraçados em silêncio, apenas confortando uma a outra. Não sabemos quanto tempo se passa até que somos interrompidas pela porta se abrindo bruscamente. Vários homens entram na casa junto de Miguel e Pedro verificando todo o local para ver se tem mais ameaças. Ambs olham o corpo de Germán no chão, mas não se deixam abalar e se sentam ao nosso lado.

Miguel me puxa para seus braços e cheira meu cabelo me abraçando apertado. Enquanto Pedro faz o mesmo com Gabriela. Tudo que precisamos agora é o conforto dos nossos homens.

- Acabou, amor. Agora finalmente acabou. - Ele diz e beija minha testa, acariciando a minha barriga ao mesmo tempo.

- Podemos viver em paz. - Digo sentindo um alívio tremendo.

A Mulher do ChefeOnde histórias criam vida. Descubra agora