A canção "exagerado" tocava no volume máximo, inundando toda a casa com a voz talentosa do famoso Cazuza. O clima no ambiente deixava a impressão de que todos ali cultivavam uma intimidade a tempos, portanto, o relógio não cronometrou 20 minutos desde o início do churrasco. Chan já não estava mais tão preocupado em incomodar e fez a maior questão de ajudar Changbin com toda a carne, o que pareceu ter sido uma boa ideia, porque estava tudo uma delícia. Pelo visto, não ia demorar nadinha pros dois começarem a dialogar sobre academia e coisas do tipo. Jeongin e Yeji acabaram descobrindo que faziam parte do mesmo grupo virtual de jogos on-line através de uma longa conversa sobre um tal de valorant e agora pareciam os irmãos do tablet de todo churrasco brasileiro. A garota até esqueceu da existência de Hyunjin, mesmo tendo visto ele só no natal do ano passado. Aos poucos, a mesa se abarrotava de comidas saborosas e algumas até desconhecidas, como por exemplo o tal bolinho de bacalhau de Changbin.
— Então, vocês são paulistas? Que interessante, já fiz muitos trabalhos lá. — Comentou Hyunjin. Ele passou a bandeja com pão de alho para o loirinho avoado, recebendo um sorriso tímido como resposta. Até onde Minho entendeu, Hyunjin trabalhava na área da moda, por isso estava sempre transitando entre cidades — até mesmo países — e quase nunca passava muito tempo no Rio. O modelo relatou sentir muita falta de casa em alguns momentos, o que levou Minho a refletir se realmente conseguiria sobreviver sem o conforto de sua família em nome dos próprios sonhos.
— Somos da capital. — Repondeu Seung, se sentando na cadeira ao lado esquerdo de Felix.
— Vocês gostam de lá? — Perguntou Hyunjin.
— Parça, São Paulo é gigantesco. Quando eu era moleque, costumava passar longas semanas em Sorocaba curtindo a casa da minha vó e eu realmente adorava. — começou Minho. Pela primeira vez desde o início do dia, Jisung prestava atenção em como o turista era bonito. Não que ele estivesse encantado, Han não se encantava por paulistas metidos, mas era reconhecível a beleza do cara. Ele não só tinha lindos cabelos loiros, que Jisung pensou ser de família, como também fazia questão de exibir isso passando as mãos neles de cinco em cinco minutos. Extremamente irritante. Tudo nele tirava Jisung do sério, desde a forma como ele gesticula falando até esse formato perfeitamente simétrico do rosto dele. Sinceramente, Han sentia-se intimado a perguntar se a mãe dele casou com algum modelo, mas vai que ela pulou a cerca e o filho não sabe. — Também íamos muito nas cachoeiras pequenas de Ituverava e aproveitávamos a tarde bagunçando. São Paulo em si é lindo, basta conhecer os pontos certos, como em todo lugar. — Completou. Os outros meninos continuaram o debate sobre lugares que eles já tinham conhecido e Hyunjin até comentou algo sobre viajar muito, mas Minho já não dava ouvidos. Ele sentia que Jisung o observava e pareceu o momento perfeito pra irritá-lo também.
— Quer tirar uma foto de recordação, carioca? — Ironizou o Lee. Jisung riu em escárnio e respondeu:
— Prefiro não danificar minha câmera.
— Com minha beleza? Eu sei, deve ser muito até pro seu coraçãozinho gelado. — Na real, Minho não era um babaca charlatão, mas sabia que era dessa forma que Jisung o pintava. Provavelmente deveria pensar que ele tinha fotos de si mesmo no quarto com um mural escrito "eu me amo" do lado. Como imaginado, o carioca inflou as bochechas e se aproximou do outro com um olhar ameaçador.
— Eu lembro de ter dito que te socaria hoje mesmo. — Empinou o nariz. Uma coisa que o Lee não conseguiu deixar passar era que Jisung parecia ter muitas manias, já que se conheciam a poucas horas e ele já tinha mostrado várias. Não que isso fosse ruim, era até engraçadinho esse jeito esnobe dele.
— Tenta a sorte, nervosinho. — Provocou, causando um frio na barriga no outro. Era tanto ódio, que a vontade de o derrubar daquela cadeira de madeira e quebrá-lo no soco só crescia. Como pode alguém ser tão insuportável? Jisung simplesmente não entendia, nunca havia odiado um desconhecido tanto como agora. Han até pensou em responder, mas foi interrompido por Changbin sentando-se ao seu lado.
— Não se matem, a carne chegou! — Disse ele, colocando um refratário de vidro entupido de contrafilé e picanha no centro da mesa de mármore. Rapidamente todos começaram a colocar porções de carne no prato, a maioria com arroz , farofa e vinagrete. O único que não estava degustando a carne era Felix, pois era vegano desde os 15 anos, mas havia provado quase todo o resto.
Também foi colocado na mesa três garrafas de Coca Cola gelada, o que fez Minho salivar. Coca gelada e churrasco era chave para felicidade. Com o anoitecer se aproximando, a brisa era muito mais refrescante e ficar ao ar livre não soava mais como castigo. Chris optou por servir carne na sala de estar também, já que os dois jogadores viciados não tiravam os olhos da tela nem pra comer um pouco. Claro que Bang conversaria sobre isso com Jeongin depois, mas por enquanto deixaria ele aproveitar sua nova amiga. Yang dificilmente fazia boas amizades, por isso era importante que criasse vínculos com pessoas que não apareciam só pra levá-lo nas farras.
— Bom, já que estamos quase todos aqui, por que não nos contam como se conheceram? — Indagou Chris, ao passo que puxava uma cadeira para sentar-se ao lado de Seungmin. Ele olhava diretamente pra Minho, esperando que respondesse, mas Han fora mais breve.
— Ele roubou meu chocolate.
— Tecnicamente ainda não era seu, você ainda não tinha pagado. — Retrucou, enquanto colocava um pouco de coca no copo idêntico a àqueles típicos de bar.
— Eu já considerava a parada minha, mané! — Disse Jisung, tentando ao máximo não demonstrar todo o seu ódio na mesa com os amigos. Honestamente, Minho não entendia como alguém podia ser mais a cara do Rio do que o próprio Cristo redentor. O menino abria a boca e já saiam mais gírias do que se pode contar, fora o sotaque pra lá de forte.
— Suas considerações não me servem de nada, panaca.
— Já chega vocês dois. — Chris advertiu, com aquela voz de paizão que causava calafrios em Minho. Uma vez, no terceirão, Minho matou duas aulas seguidas de física pra encontrar um ficante na despensa das tias de limpeza. A senhorinha infelizmente acabou flagrando o Lee aos beijos com o garoto e explanou tudo ao diretor, afirmando estar aterrorizada com esses filhos de Deus pervertidos pelo diabo. Foi até engraçado ao ver de Minho, que até deu algumas risadinhas na direção, mas Chan não gostou nada disso. Ele passou o dia advertindo Minho com essa mesma voz e assim acabou o traumatizando com essas broncas. — Resolvam esse perreco de vocês de forma saudável e parem com essa mania chata de ficar discutindo por tudo.
— Falando nisso, nós estávamos querendo aproveitar uma praia amanhã, por que não vamos juntos? Vocês conhecem o Rio melhor, vão ser bons guias. — Felix sugeriu — Jisung e Minho podem ir no mesmo carro, assim aprendem a conviver juntos e nós matamos dois dilemas com uma solução só.
— Combinado, então. Mas precisa ser cedo, as melhores ondas surgem de manhã. — Changbin proferiu. Obviamente Han não se contentou com essa situação. Passar minutos com Minho já era insuportável, imagina quase meia hora no carro com ele. Independente do desconforto, Jisung respeitava Bin o suficiente para acatar quaisquer decisões tomadas por ele, afinal Seo já tinha lhe salvado de diversos perrengues também. No fundo, Han sabia que sequer conhecia Minho ou qualquer um deles ali presente, estava irritando-se por pura birra. Quem sabe essa não seja uma boa oportunidade para mudar de opinião, né?
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COPACABANA - minsung
FanfictionUma simples viagem ao Rio pode reescrever dois destinos opostos 🏅#4 leeknow 🥉#3 minsung