gramado molhado

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Hyunjin apreciava os chinelos de marca adquiridos em viagens a Paris ou até mesmo Nova Iorque, mas sem dúvida sentia que as havaianas brasileiras eram as mais confiáveis para cumprir sua função de proteger os pés. Ao percorrer o gramado úmido do quintal, possivelmente aparado por algum funcionário do condomínio durante a tarde, notava o aroma fresco da grama impregnando o ambiente. Avistou a silhueta de Felix balançando na rede, os cabelos loiros ao vento, como se ele não se importasse com a ordem dos fios ou com qualquer outra coisa em sua vida. Hyunjin apressou-se para se aproximar do loiro, parando para regular a respiração ao chegar perto da rede. Felix estava de olhos fechados, absorvendo a brisa ou algo assim; honestamente, Hyunjin preferia não entender completamente. Sua única expectativa no momento era esquecer que sabia respirar, permitindo-se voltar a respirar automaticamente como minutos antes.

— Que cheiro estranho é esse? — indagou Hwang, inspirando profundamente para descobrir a origem do odor forte. Procurou por pessoas ao redor, mas só tinham eles, sozinhos em meio à noite. Felix sorriu sem motivo aparente, abrindo finalmente os olhos e fixando suas íris escuras nas de Hyunjin. A aparência do outro era angelical, mais do que o usual. A luz do luar iluminava cada sarda em seu rosto, assim como o vermelho vibrante de seus lábios. Ele não estava muito arrumado, e Hyunjin também não tinha levado horas se arrumando, mas Felix conseguia ficar bonito mesmo assim. Trajava um moletom preto provavelmente roubado do irmão, uma peça que parecia ser de alguém mais musculoso e maior, algo que Minho, ao contrário de Felix, gostava mais de vestir. Também usava uma calça folgada, mas mais leve, um tecido fino, como as usadas por dançarinos em aulas práticas. Mesmo à noite escura, ele se destacava todo de preto. Felix era uma obra que merecia ser emoldurada, mas era ainda mais impressionante sem nada ao redor, destacando-se por conta própria como uma peça única digna de um museu famoso ou de uma parede na casa de um bilionário apreciador de pinturas.

— Se eu compartilhar um segredo, você promete guardar só entre nós? — questionou, hesitante quanto à concordância de Hyunjin. Recostou-se no tecido da rede e deitou, deixando apenas os pés descalços para fora, tocando o gramado. Hwang assentiu, aguardando a revelação de Felix. Lee estava um pouco estranho, talvez um pouco mais animado do que o habitual. Também parecia mais descontraído, com um olhar atípico, seus olhos avermelhados e um tanto caídos. Algo naquele momento fugia do rotineiro.

— É maconha. Gosto de fumar quando preciso de um tempo para pensar, mas não é um vício. Costumo usar a quantidade certa para não ficar muito chapado. — então, o cheiro estranho, o comportamento peculiar do Lee e o fato dele estar isolado no gramado enquanto todo mundo está lá dentro, provavelmente se divertindo e comendo juntos, começaram a fazer sentido. Hyunjin nunca teve interesse em drogas, e nem poderia, já que sua carreira sempre exigia exames de sangue, mas ele já tinha tido algumas experiências com colegas de trabalho que eram viciados, chegando ao ponto de subornar enfermeiros para burlar os exames. Não achava que o Felix fosse viciado a esse ponto, talvez usasse a maconha como uma forma de aliviar o estresse e quem sabe nem precisasse dela, mas mesmo não sendo alguém que curte essas coisas, Hyunjin sabia o quão arriscado era se envolver e como isso podia prejudicar a saúde física e mental do loiro. Mesmo não sendo próximos, o Hwang se preocupava mais do que gostaria de admitir.

— O Minho não sabe. — foi a próxima coisa que o Felix falou, uma vez que o silêncio se instaurou no ambiente logo após a revelação. A verdade sobre o uso de entorpecentes vindo de uma família que nem suporta servir champanhe na mesa do Natal é que você se sente sujo. Parece que, assim que eles descobrem, vão parar de te tratar como você realmente é e começar a te rotular como o garoto que começou a fumar numa família fraca até pra vinho. Era isso que o Felix sentia, mesmo que o Minho tenha sido super compreensivo com ele a vida toda. Também achava que o Minho ficaria pistola ao descobrir que o irmão curtia fumar uma vez por mês desde a adolescência, quando foi a uma festa do colegial com uma mina de cabelo vermelho que o levou para conhecer seu grupo de amigos. Um grupo de amigos mais velhos, claramente. Eles usavam jaquetas de couro, lápis de olho, carregavam baseados na bolsa e falavam umas palavras maneiras. E, num piscar de olhos, o caçula da família toda certinha estava fumando maconha pela primeira vez aos 17 anos, enquanto sua mãe provavelmente assistia a reality shows de culinária com o seu marido, e o irmão estudava para a próxima prova do curso perfeito, todos despreocupados, porque, até onde sabiam, o Felix sempre seria como eles

— Legal, eu não fumo, mas posso ouvir Bob Marley contigo enquanto assistimos o pôr do sol na praia. — disse Hyunjin, deitando-se na rede e jogando os pés no colo do loiro, completamente à vontade. Surpreendentemente, Felix riu diante dessa proposta, algo que jamais imaginou fazer ao revelar para alguém, pela primeira vez, um segredo tão guardado ao longo de sua vida. Hyunjin, por sua vez, também surpreendeu, provavelmente tendo diversas questões sérias em mente sobre o assunto, mas optando por não expressá-las naquele momento. Em meio à toda seriedade do momento, ele desejava ser a parte leve. Queria fazer uma piada, ver Felix sorrir e deixar para trás todo o resto. E foi exatamente o que fez. Essa atitude fez o Lee enxergar o moreno de uma maneira diferente, realmente vê-lo, não apenas compartilhar conversas sobre coisas triviais e seguir em frente.

— Eu prefiro Charlie Brown. — Hyunjin revirou os olhos, comentando de forma sarcástica sobre Felix ser um maconheiro mais desligado que o normal, logo mudando de assunto para algo relacionado à música e deixando o tema anterior de lado. Assim, permaneceram ali, sem se importar com a comida ou os amigos lá dentro, imersos no seu próprio universo, algo que parecia muito mais cativante. Em algum momento, Hyunjin sabia que precisaria abordar o assunto de forma mais séria com Lee, talvez aconselhá-lo a compartilhar isso com o Minho, reconhecendo o quão decepcionado ele ficaria se descobrisse da pior maneira possível. No entanto, naquela noite, preferiram dividir os fones e debater sobre o gosto musical, enquanto a lua testemunhava, iluminando ambos os rostos com seu brilho gracioso.

COPACABANA - minsungOnde histórias criam vida. Descubra agora