O amor não é normal. Nós, singulares seres, vagueamos por um mundo repleto de mistérios, constantemente tentando decifrar o que não devemos. Buscamos falhas nas certezas e alcançamos apenas os equívocos. Jisung anseia repousar no abraço de quem ama, cerrar os olhos sob um afago e sentir a tranquilidade anestesiar cada centímetro de seu corpo. Contudo, como já narrei, insistimos em encontrar erros mesmo nas fontes de nosso bem-estar. Uma vez que a cabeça de Han repousasse no peito de Lee, pensamentos afluiriam, desconforto surgiria, a necessidade de fugir se manifestaria. Talvez considere isso excessivo, afinal, eles são apenas "ficantes", certo? No entanto, seu coração contradiz. Quem é o coração quando quem realmente comanda é a mente? Exatamente, um ninguém, um ninguém apaixonado, cuja voz não deve ser ouvida, pois o amor não conhece normalidade.
Jisung refletia, com a cabeça apoiada na janela e olhos fixos na paisagem familiar. O amor pelo Rio de Janeiro pulsava nele, orgulhoso de sua terra. Sentia gratidão por todas as experiências vividas ali, desde as lembranças de infância, quando escapava da casa dos pais para visitar a tia em sua modesta residência num bairro tranquilo. Corria livre pelas ruas, soltava pipas, fazia amizades, e retornava para casa dela com o corpo suado. Encontrava sua mãe no sofá, segurando um copo de água gelada, mas seu olhar denunciava apreensão não pela possibilidade de ter perdido o filho nas ruas, e sim pelo desagrado em relação à vida que sua irmã levava ali. Aquela casa não lhe agradava, carregava memórias de vivências familiares que não queria recordar, não apreciava a região e, menos ainda, o sorriso afetuoso da irmã, a quem tanto menosprezara.
Ao puxar o filho pelo braço, ela se queixava do suor e do odor, prometendo uma conversa séria em casa sobre essa rebeldia. No entanto, tais conversas nunca ocorriam. Eles nunca conversavam sobre nada. Ao deixar a casa da irmã, sua mãe partia sem sequer dizer adeus, deixando para trás apenas o tal copo e a certeza de que, no dia seguinte, seu filho repetiria as mesmas escapadas. Isso continuaria por anos, até que Jisung se encontrasse chorando no túmulo da mesma tia, em plena adolescência. A mãe permaneceria inabalável, como alguém insensível, deixando apenas uma rosa branca e uma expressão de desgosto.
— Você está bem? — questionou Lee, mãos firmes no volante, seu olhar alternando entre o rosto de Jisung ao seu lado e a estrada agitada. Jisung suspirou, sem encará-lo ou proferir uma palavra sequer. Tava tudo bem; ele saiu de casa feliz, ainda que tenha ficado um tanto estressado ao descobrir que iriam gastar uma fortuna pra subir no tal Pão de Açúcar novamente. Embora já tivesse ido algumas vezes com Changbin e, de fato achado a vista bonita, o valor era um roubo. O tipo de coisa que só turistas gastam felizes. Pra melhorar, ninguém quis fazer trilha, já que esses paulistas são todos marrentos, resultando na opção mais cara: o bondinho. Poderiam optar pela trilha e apenas apreciar o Morro da Urca, mas essa galera adora um boleto no vermelho.
— Quero aumentar essa música. — Pediu, ignorando a pergunta do outro. Para que responder? Jisung nem tinha certeza da resposta. Não fazia diferença para ele. O propósito por trás dessas perguntas escapava de sua compreensão. Por que Minho queria saber, afinal? De repente, viu-se relembrando todas as vezes em que ouviu essa pergunta, todas destinadas a iniciar uma conversa, mas nunca genuinamente interessadas. Será que as pessoas realmente se preocupam com o bem-estar alheio? E Minho, será que se importava? Voltando à questão original, quem está verdadeiramente bem nos dias de hoje?
— Você gosta de Marina Sena, Jisung? — Perguntou, com um sorriso discreto. Han não tinha a aparência de alguém que curtisse trap; Mc Ig provavelmente não figurava entre seus artistas favoritos. No entanto, de maneira surpreendente, Marina Sena parecia ser exatamente o tipo de música que o faria gritar intensamente. Imaginava-o em um conversível de capota abaixada, com os cabelos ao vento, braços abertos para acolher a brisa com euforia. Essa, sem dúvida, seria a cena pela qual Minho pagaria milhões, a visão que ele capturaria com uma câmera antiga e guardaria eternamente em sua carteira.
— Essa música é boa. — Han disse. Minho passou seu celular para o outro, já desbloqueado. Jisung inicialmente ficou um pouco atônito, mas logo percebeu que era para cuidar da playlist. Nunca havia mexido no celular de nenhum ficante antes. Para ele, o celular parecia algo íntimo, uma espécie de acesso excessivo à vida pessoal da outra pessoa. Mesmo que parecesse trivial, ao deparar-se com a foto de Minho deitado no chão, cercado por três adoráveis gatinhos, Han começou a ponderar sobre como seria compartilhar a vida com Minho em São Paulo. Talvez sua mãe seja acolhedora, ele tenha outros amigos, um bom trabalho e a companhia de animais fofos. Essas são as intimidades que o celular revela, detalhes que talvez não devam ser compartilhados com um ficante. Ao notar a expressão confusa de Minho diante do estático Jisung olhando para sua foto inicial, este saiu do transe. Decidiu então abrir o Spotify, aumentar o volume da música, desligar o celular e colocá-lo em seu colo.
Uma semana se passou desde que Minho chegou ao Rio. Faltavam apenas três dias para o Natal e menos de uma semana para o Ano Novo. Minho partiria no dia seguinte, marcando o primeiro de janeiro como o dia da despedida. Jisung se questionava sobre o que aconteceria a seguir. A incerteza pairava, especialmente em relação a um namoro virtual e a intensificação de uma relação tão recente. O tempo, implacável, nos ilude, fazendo-nos acreditar que sempre o teremos ao nosso lado. No entanto, num piscar de olhos, ele escapa, deixando-nos desamparados e levando consigo não apenas a presença, mas também partes de nós. O tempo, essa droga cruel, interfere, toma o que quer, e somos impotentes diante dessa inevitabilidade. A maldição do tempo, aquela incontrolável, capaz de te tirar tudo e ao mesmo tempo não lhe dar nada.
E, mais uma vez, o tempo se esvaiu. Minho permanecia em silêncio, concentrado na viagem, recebendo mensagens incessantes de Chan sobre trânsito e outros assuntos importantes para ele. Minho não lhe entregava respostas diretas, às vezes gravava áudios, mas na maioria do tempo, a comunicação se desenrolava em chamadas, como pais preocupados com a viagem e seus filhos. Jisung observava em silêncio, evitando se intrometer nas conversas, ao contrário de Hyunjin e Yeji, que discutiam incessantemente no fundo do carro de Chan, ainda que o conhecessem a uma semana.
Finalmente, chegaram ao destino, Minho estacionou, Jisung soltou o cinto e encarou o outro, engolindo em seco, sem palavras. Beijar alguém numa festa é diferente de beijar Lee Minho; sempre há um aviso do além. O coração pede a palpitação, a boca anseia pelos lábios, a mente recorda o beijo excepcional de Minho, e o corpo obedece. Sempre será assim, independentemente do tempo, da distância. Ao olhar para Minho, seja o de hoje, amanhã ou anos à frente, Jisung sentirá a mesma intensidade, faltará ar durante o beijo como agora, arrepiará com o toque que percorre suavemente da nuca à cintura e, por fim, à bunda exatamente como agora. Mesmo que Minho nunca tenha se aventurado tão intensamente, Jisung sabe que o frio na barriga persistirá, pois, não importa quão cruel o tempo seja, apesar de levar constantemente pessoas e coisas de sua vida, jamais conseguirá extinguir o calor interno que apenas Minho é capaz de despertar. É por isso que Jisung interrompe o beijo, revelando um sorriso vibrante, um momento que jamais será roubado de si.
— Acho que deitei no seu sorriso, Ji.
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COPACABANA - minsung
FanfictionUma simples viagem ao Rio pode reescrever dois destinos opostos 🏅#4 leeknow 🥉#3 minsung