O clima pesado pairava, sem uma pronúncia ou intervenção. Jisung não estava mais interessado em insistir por palavras vindas de Minho, como esteve no começo do dia. Na verdade, quanto menos ele falasse, melhor. Han não conseguia parar de pensar no quão culpado era por toda essa baderna colossal. Ele insistiu que Minho o respondesse, ele se aproximou, ele provocou, mesmo não imaginando as proporções do que havia ocasionado.Há horas, esse carro se inundava com rixas bestas e revirar de olhos. Agora, só o constrangimento inequívoco fazia-se presente. As coisas não precisavam ser tão complicadas, mas eram. Han detestava envolvimentos afetivos com pessoas que encontraria mais de uma vez, sobretudo se for o homem responsável pelo seu ódio mais divertido do mês. Han adorava xingar Minho, descontar suas impaciências e vê-lo devolver tudo na mesma moeda, sem nem mesmo ligar pros pensamentos de Jisung. Infelizmente, até uma inimizade boa ele há de perder com esse ato idiota e impulsivo.
A mente do Lee vez ou outra o condenava. Nesse instante, a única sensação o consumindo era arrependimento. Não devia ter insistido, o que quer que estivesse adquirido pelo outro, precisava ter sido trancado a sete chaves e esquecido no fundo do seu âmago.
- Me desculpa, cara, eu não devia ter feito aquilo. - Minho disse. Sabia que precisava iniciar o assunto, ficar nessa enrolação não era vantajoso pra nenhum dos dois. Uma hora ou outra, teriam que dizer algo a respeito e é bom que fosse imediato.
- Tá de boa. - Han respondeu, indiferente. Os músculos tencionados, cabeça apoiada na janela e olhar preso no trânsito sereno. Jisung também tinha beijado, se entregado, aproveitado, mas ainda assim, só Minho parecia errado.
- Não vai dizer mais nada? - Engoliu seco, sentindo a facada o acertar em cheio. Para Minho, a rejeição definitivamente caberia na lista de piores sensações do ser humano.
- O que tu quer que eu diga? Eu te beijei, parceiro, eu tava lá errando contigo, sacou? Mas, eu não cometo o mesmo erro duas vezes, então acho melhor não insistir. - Erro. Essa sentença contínua preenchia a mente do paulista, o assombrando feito monstro de baixo da cama de uma criança. Não queria que Han tivesse pronunciado dessa forma, mesmo presumindo suas intenções desde o momento em que o viu limpando os lábios.
O silêncio retornou e fez questão de permanecer, consequentemente intensificando o desconforto entre ambos. Por fim, o carro diminuiu a velocidade ao se aproximar de um tipo de restaurante rústico, exalando um cheiro de tempero arrebatador. Han encarou o lugar, chocado por nunca ter ouvido falar desse restaurante. O ambiente parecia simples, mas acolhedor. Bases de madeira envernizada sustentavam o teto inclinado, também de madeira. O lugar era aberto, amostrando toda a visão interior e levando Han a pensar o quão gostoso deveria ser durante a noite - se é que se mantinha aberto até mais tarde. As mesas eram todas de madeira, com cadeiras estofadas e vasos decorativos repletos de margaridas lindas. A iluminação aconchegante, revestida em luzes led meio amareladas, dando um ar de ambiente caseiro.
Minho foi o primeiro a sair do carro, batendo a porta na cara de Jisung, sem demonstrar interesse na existência do outro. Algo nessa atitude afligiu o carioca, como se tivesse cometido um erro drástico ao tratar o paulista com rispidez.
- Vocês chegaram! - Chan disse, animando-se ao perceber a presença de um Minho emburrado caminhando pelo gramado sujo de areia da praia. Pelo que pôde notar, não havia estacionamento no lugar. Talvez os donos não tivessem verba suficiente pra alugar outro terreno, então permitiram que os carros se alojassem abaixo das árvores e no gramado extenso. Jisung corria logo atrás, todo destrambelhado, carregando todas as coisas que precisou tirar do carro, sendo uma delas sua ecobag da Rita Lee. - Vamos, sentem-se. Pedi que ajustassem a quantidade de mesas pra caber todo mundo. - Minho puxou uma cadeira ao lado de Jeongin, rapidamente acomodando sua bolsa onde Jisung planejou sentar. O carioca revirou os olhos, incrédulo com a birra infantil que o Lee estava travando sozinho.
Na cabeça de Minho, ele não estava fazendo nada além de cumprir o desejo de Han. Se o que ele esperva era não errar novamente, faria o possível pra ajudá-lo nisso. Não queria parecer um bobo correndo atrás do príncipe encantado. Já passou da adolescência para ficar se humilhando assim por um rostinho bonito. Jeongin achou aquele ato estranho, mas não quis persistir nisso, retornando o foco ao cardápio recheado de coisas gostosas.
- Meu rei, como você desvendou esse lugar? Moro no Rio faz anos e nunca senti um cheiro tão saboroso vindo de um restaurante. - Changbin perguntou, interessadíssimo no que Chan tinha a dizer. Seu sotaque ainda mais forte, levando Minho à certeza de que ele nasceu fora do Rio. Antes que Bang pudesse dizer algo, uma voz feminina chamou atenção dos mesmos, dizendo:
- Esse trem é da família. - Ao ouvir aquele sotaque mineiro aguçado, Minho correu os olhos até a dona. Sabia que conhecia aquela voz de algum lugar! Era ela. Os fios morenos foram descoloridos e matizados, tornando-se mais iluminados que a luz do sol afora. Ela trajava um típico uniforme de garçonete, revestido em uma camisa social branca extremamente justa e com certeza muito quente, junto a um avental rosa bebê, realçando os detalhes belíssimos de seu rosto. A maquiagem leve, como sempre. Ryujin detestava passar muita coisa no rosto, mas era quase impossível trabalhar com aquelas olheiras de graduanda proletária. Precisava se maquiar ou acabaria assustando a clientela.
- Caralho, quanto tempo, pirralha! - Minho disse, animado. A garota estava ainda ainda mais encantadora do que quando eram jovens. Sua postura sofreu uma transformação drástica, coisa que o Lee jamais esperou dela. Ela já não tinha o corpo totalmente limpo, alguns desenhos cobriam as partes expostas, dando-lhe um ar de maioridade. A voz também sofreu grandes alterações, indicando que realmente era uma adulta agora. Uma mulher forte e totalmente capaz de realizar todos os sonhos de menina.
- A tia Shin resolveu expandir a franquia, trazendo-a até o Rio. Conversamos por telefone antes de eu decidir passar um tempo aqui e é claro que ela nos pediu pra visitar o novo restaurante da família. Inclusive, está uma graça, Ryu. - A garota sorriu, meio boba com o elogio do primo. A maior parte do lugar fora planejado por Ryujin. Seu curso de design de interiores beirava o fim, o que com certeza era um alívio, independente o medo causado pelo futuro incerto. Durante a noite, era substituída por Chaery, que recepcionava os fregueses enquanto a amiga estudava por longas horas. As condições eram exaustivas, mas valia a pena quando percebia estar prestes a trabalhar com o que sempre sonhou. Obviamente, o elogio de alguém tão bem sucedido quanto Chan significava e muito. Ryujin seria eternamente sua criança, mesmo não tendo mais a aparência de uma.
- O lugar é lindo. Vamos vir aqui sempre, certo, Jisung? - Changbin levantou as sobrancelhas, olhando na direção do amigo, que mordiscava a unha sem prestar atenção nas futilidades ao redor. Ele mantivera o foco na direção de Ryujin e Minho desde o momento em que a garota cheia de charmes invadiu o ambiente. Han não piscava, não demonstrava nada, só demorava seus olhos frios na cena dos dois amigos de forma obsessiva. Vez ou outra, cutucava os lábios, expressando algum tipo de nervosismo ou ansiedade.
- Ahm? - Despertou, um tanto envergonhado por ter deixado seu devaneio tão notório. - Sim, claro. - Sorriu falso. Quem o visse agora, teria péssimas impressões sobre sua personalidade. Han pouco se importava com as opiniões, só queria comer e dar um fora, quem sabe deitar na rede e observar o céu estrelado.
- E então... - Ryujin chamou atenção dos clientes, pedindo para Minho sentar em seu lugar novamente. Depois de atende-los devidamente, poderia conversar com seu amigo o tempo preciso. Sua mãe não ficaria brava, até porque o restaurante tinha uma maior demanda no período noturno, devido à quantidade de jovens festejando aos redores.
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COPACABANA - minsung
ФанфикUma simples viagem ao Rio pode reescrever dois destinos opostos 🏅#4 leeknow 🥉#3 minsung