uma constelação ate que cairia bem

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Pouco é debatido sobre a dificuldade de proferir tudo aquilo que sua mente vem digerindo durante anos. Quando se tem pessoas apoiadas no seu barco frágil, parece que a qualquer momento você vai parar de remar e jogar todos em direção ao oceano devastador. Se torna ainda pior quando você já esteve nesse oceano, no extenso vazio, sentindo-se engolido pelo grande nada à sua volta.

Jisung sempre fora uma criança muito reprimida, cheia de recursos materiais, mas carente do verdadeiro amor. Em momentos familiares, tudo discutido na mesa era o futuro do pequeno Han e as ações empresariais de seu pai. Amor. Como senti-lo sem sequer tê-lo recebido no momento que mais precisou? Como expressá-lo se lhe foi negado pelas pessoas que o trouxeram ao mundo para amar?

Isso justifica um pouco o porquê de o carioca simplesmente não conseguir sacudir Minho nesse exato momento e dizer-lhe para não embarcar nesse barco capenga, ele acabará no oceano silencioso, vazio e fulminante. Ainda que navegassem juntos, não encontrariam terra firme e acabariam colidindo com algum iceberg ou morrendo afogados. Mesmo assim, Jisung sentia-se extremamente egocêntrico por desejar tanto beijar Minho novamente. E novamente. Novamente. Novamente.

As coisas ficavam ainda mais complicadas com Minho assim, tão radiante e lindo, conversando com essa garota extremamente extrovertida e pegajosa. Sério, para que ficar tocando nas pessoas a cada projeto de frase? Coisa mais irritante.

- Uai, por que você não trouxe os gatin junto? - Ryujin cessou as risadas, geradas por uma história de Chan sobre o dia em que Minho caiu da árvore ou algo assim. Honestamente, não importa o quão empolgado Han ficaria em saber todos os detalhes sobre como o Minho espatifou no chão para pegar uma bola idiota, nada o tirava dessa guerra mental sobre sua próxima atitude relacionada ao Lee. Na real, ele já tinha tomado uma atitude impulsiva, causada pelo medo e confusão, mas e se quisesse desfrutar mais um pouco daqueles belos lábios? O mundo é gigantesco, você não sai encontrando homens com um beijo tão bom por aí. Han conseguiria fazer isso sem se apaixonar ou mudar sua forma de tratar Minho, certo? Claro. Ainda sim, aquele maldito "e se" acorrentava todos os neurônios do carioca e fazia deles reféns de suas façanhas.

- Por que você tá com essa fuça de quem encontrou uva passa no arroz? - Yeji disse, tentando ao seu máximo não falar alto. Não queria que ninguém os escutasse, muito menos aqueles dois barulhentos sentados do outro lado, sem parar de rir feito hienas por um segundo. Para sorte da garota, até Changbin e Hyunjin estavam entretidos naquela pataquada, pouco dando importância para o comportamento atípico do amigo. Não os culpava, Han é adulto e sempre que precisa de ajuda, ele pede. Jisung não é do tipo que curte aproximações em momentos vulneráveis, mas Yeji sabia bem como lidar com ele. Ela podia.

- Beijei Minho. - Sussurrou, ainda com a mesma expressão irritada. A comida já havia chegado há tempos e, independente do quão irritante a garota fosse, a família dela com certeza tinha dons culinários. Surpreendentemente, toda a refeição se foi em pouco mais de trinta minutos, julgando o fato de que a maioria ali comia muito devagar. Agora, nem haviam pratos sujos na mesa mais. Ryujin foi bastante específica quando disse a Minho que só iria sentar-se assim que completasse todos os pedidos que lhe foram encarregados. A tela do celular de Felix agora iluminava a mesa, alegando ser quase quatro horas da tarde. De fato, passaram mais tempo conversando do que comendo. Da parte de todos os outros, óbvio. Jisung não havia dito quase nada até agora. Seu máximo foi: "me passa o sal" "obrigada".

- E daí? - Existiam muitas coisas admiráveis em Yeji, mas o que Jisung mais gostava na garota era a forma como ela enxergava o mundo, como ele realmente é, e não pelos olhos exagerados do ser humano sentimental. Tudo sempre pareceu muito básico para ela, como se a gente vivesse fazendo tempestade no copo d'água a custo de nada.

- Eu obviamente surtei e fui um babaca, como sempre faço com qualquer probabilidade de transformar algo em minha vida monótono. - Han engoliu seco, sentindo o amargor de suas palavras francas. Uma coisa é pensar em um defeito seu e saber que o tem; outra é contá-lo para alguém como se estivesse dizendo que dia é hoje.

- É, você consegue ser um babaca quando quer, e parece que está sempre querendo, né? - A garota sorriu ao ver seu amigo revirar os olhos com a sinceridade descarada. Han suspirou, sentindo-se um pouco aliviado por ter alguém que não o define por alguns de seus defeitos. Todo mundo tem um ponto fraco em sua personalidade. No fim, somos todos como relógios quebrados, que ainda lhe informam a hora, mas você sabe que a qualquer momento podem parar. Cabe a nós escolher se vamos consertar isso ou pagar pra ver até onde vai. - Converse com ele.

- Não tô muito no clima não.

- Han, você pode até agir como um escroto, mas não precisa ser um. Todo mundo sabe que no fundo desse seu coração congelado, existe uma vontade enorme de viver um pouco do que nunca lhe proporcionaram. Para de achar que, se você seguir suas próprias vontades, o mundo acaba. No final do dia, você ainda é o Jisung, mais um homem insignificante nesse mundo cheio deles. - Yeji apoiou o cotovelo na madeira meio áspera da mesa e encostou a cabeça em sua mão, perdendo-se nas íris escuras como uma noite morta, sem estrelas ou vestígio de luas. Apenas o escuro fascinante.

- Cara, foi só um beijo.

- Aham, ainda vou ver esse tal de Minho pintar estrela por estrela nesse seu olhar, até que se forme uma constelação. - A garota ignorou a chatice do outro, pensando alto sobre como o Lee podia finalmente dar a Jisung o final merecido. Um onde ele se apaixona, descobre a graciosidades de entregar amor e recebê-lo em troca, sem nem mesmo pedir. Talvez Yeji fosse um pouco emocionada e falasse baboseiras feito uma maluca, mas quem liga? Ela mesmo não dava a mínima, gostava de ser assim.

COPACABANA - minsungOnde histórias criam vida. Descubra agora