Capítulo 3

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Sanches

Bato as mãos no bolso, sentindo o cheiro do óleo impregnado, no ar fresco, da noite desse sábado. Sinto o baseado no bolso direito e puxo entre meus dedos, molhando minha boca pra fazer a seda grudar nos lábios. Encaro a frente do morro, vendo a indigente descendo a ladeira, foco na bunda grande dela e na lateral do vestido que tá rasgada, eu achei que ela ia embora, mas ela tá fazendo como se fosse detalhe do vestido e vai pro baile mermo assim.

Eu só tenho o número da chave pix que ela me deu, o nome eu não sei, só sei que fala pra caralho e a marra é do tamanho do mundo. Mas eu ainda tenho 7 dias pra descobrir qual é o nome dela, na verdade são 6 dias.

Fontes: Teu Jetta tá todo fudido na frente - eu olho pra camisa dele, vendo o tecido azul cobrindo todo o corpo dele e a cara de vagabundo estampada pra todo mundo ver - Tá fácil não, patrão! Hoje tu só se fudeu, graças a Deus teve saidinha e tu é a maior paz com a vida - ele passa a mão na camisa e sorri, mostrando o aparelho nos dentes.

Eu: Bota na oficina e depois vocês faz leilão com ele - vejo o sorriso dele de lado e eu acendo meu baseado, dando a primeira tragada - Sorteia entre vocês da contenção, só não deixa na mão do Torres, tá bancando demais com o que é meu.

Eu me desencosto da McLaren, passo a flanela no vidro escuro, quando eu vejo as marcas de mãos da Sophia, então eu limpo na cautela, enquanto fumo na minha calmaria. O Fontes se junta com o Papig, o Leproso, o W7 e o Eziel pra formar minha contenção e eu dou um tempo aqui em baixo, vendo as ruas vazias, porque o baile já começou.

Vou subindo o morro de novo, ouvindo o barulho do baile cá em baixo, ainda tô no pique pra curtir o meu baile, mas tô cansado também, ainda não tenho em mente que eu tenho 37 anos, fui preso com 31, envelheci dentro do presídio, aí é foda pro Sanches. Mas ele tá em busca do equilíbrio entre a paz e o agito, isso eu só consigo vivendo dentro do meu comando, que é onde eu faço a minha lei.

Eu: Algum de vocês sabe quem são aquelas duas que tavam aí na rua? - os cinco me olham e eu aponto pra trás - As duas maluquinha que o Torres atropelou, elas acabaram de subir pro baile, sabe quem é?

Leproso: Saber, eu sei, uma é a Ayres, maluca que só o caralho - ele passa a mão no nariz pontudo e eu ajeito a glock na cintura, girando o coldre - A outra tem um nome diferente, a de cabelo liso, tá ligado? - confirmo, virando na rua seguinte - Ela é namorada de um vaporzinho, Tatilon o nome da coisa.

Eu: Casada mermo? - ele confirma e eu passo a mão pela boca, voltando a puxar a fumaça pra dentro - Ele tá por aqui? - eles negam e eu arranho a garganta - Tem que ter porte pra ter uma mulher daquela, ele tem?

Papig: Porte de quê? Maior fudido o Tatilon, eu só não dei fim nele, porque não tenho permissão pra isso - olho pro chão, ouvindo nossos passos em conjunto e vou ouvindo eles falar - Folgado, é daqueles que a gente olha e vê o fim bem próximo, banca marra sem ser nada, tipo uma pessoa que eu conheço por aí - ele joga no ar, mas eu pego já sabendo que é pro meu irmão.

Pego na AK que o Eziel passa pra mim, passo a bandoleira pelo pescoço e vou me aproximando do baile, ouvindo o barulho do som entrando em contato com a minha audição, o ritmo entra em consonância com as batidas das minhas correntes, que batem uma na outra a cada passo meu.

Eu: Tava na cadeia, mas vocês tão ligado que eu sei de tudo que rola aqui fora - os cinco me olham e eu passo a mão pelo nariz, tomando cuidado pra não me queimar com o baseado - Quem foi que tirou foto com a cara na buceta e virou assunto na mídia? Chegou pra mim que foi o Eziel.

Eziel: Eu, patrão? - confirmo e ele continua com as mãos apontadas pro peito - Eu tiro minhas fotos, mas não posto nada não, quem vazou foto foi o W7, não fui eu não.

Por uma BucetaOnde histórias criam vida. Descubra agora