Tiana
Vergonha, desgraça, pavor, terror, é isso que eu sinto...
Ando pela rua, vou pelos cantos e a Ayres o tempo todo rindo de mim, eu não aguento mais essa vida. Passo pela rua da feira e pulo uns tomates no chão, escorregando em cima de uma casca podre. Choramingo e a pretinha me ajuda a limpar os pés, minha vida não tem meio termo, ou ela é ótima ou ela é uma desgraça.
Ayres: Ainda são 7 horas da manhã, vai com calma, nega - eu olho feio e ela sorri, ajeitando os cachos - Não tava bom transar na lateral do iate, onde todo mundo pode ver? Agora rebole e banque a Kátia, até porque você nem aparece no vídeo direito, larga de neurose.
Eu: Obrigada, minha querida amiga - junto as mãos, sentindo o sol quente atingindo minha pele bronzeada - Depois desse seu discurso, eu nunca mais sentirei vergonha, obrigada! - ela ri e eu sigo na frente.
Já é outro dia, o Sanches não foi me ver na noite anterior, ele mandou mensagem e disse pra eu me arrumar hoje, porque vem me buscar pra passar o dia com ele. Eu agradeci a Deus, não queria ver a cara dele ontem, a vergonha, ela é irreparável. Por incrível que pareça, eu sou muito agitada, falo tudo na hora que eu quero, mas tenho sérios problemas com vergonha.
Eu: Eu quero comprar um biquíni novo, porque o meu tá todo esbagaçado e eu já usei o outro, tenho traumas daquela porra - dobro na rua de baixo, ouvindo o barulho das motos e eu me escondo no meu cabelo - Hoje vai ser uma coisa mais light, porque eu prometi fazer um 0800 pro tigrinho.
Ayres: De visionária a burra - ela me olha e eu franzo o rosto, ouvindo ela falar - Tá no início ainda, tinha que cobrar tudo e depois tu ia de grátis, eu te acho ardilosa, visionária, mas agora foi burra.
Eu: E o meu priquito é o que? Já me sinto uma piranha por cobrar no sexo, deixa eu me libertar um pouco, vagabunda - pego no braço dela, entrelaçando no meu e a gente segue até a lojinha de roupas - Tigrinho já me deu 50 mil e ainda mandou uns presentes, tenho que agradar também, eu gosto de reciprocidade.
Ayres: Toma vergonha na cara - ela me olha de lado e eu faço careta - Volta pro mar, oferenda.
Eu: Iemanjá não vai me querer, nem ela me aceita - eu falo baixo, passando perto de uns envolvidos e a gente chega na loja - Essa semana vai ter caruru lá em Ivanice, eu já tô lá pra roubar sacolinha das crianças.
Ayres: Sempre sou humilhada pelos erê, já sofri tanto bullying - eu dou risada, empurrando o vidro temperado da loja.
[...]
Comprei tudo, só não levei a loja toda, porque não tinha mais o que comprar. Olho os biquínis em cima da cama, sentindo que eu tô esquecendo alguma coisa, sempre deixo pra última hora e esqueço tudo, aí eu fico ansiosa e não resolvo nada, Tiana é foda mesmo.
Ayres: Vai com o preto, ele é lindo, tem uma amarração pela barriga, olha - ela levanta o biquíni e eu faço bico, passando a mão pelo meu peito - Ou então fica pelada, tu vai trabalhar mesmo, já agiliza as coisas.
Eu: Mas tem que saber jogar, primeiro eu jogo, pra depois mostrar meu dotes - balanço os peitos e ela me empurra na cama, caindo por cima de mim - Eu tô tentando me distrair, porque ainda tô pensando no meu pornô, como seria o título lá no xvideos?
Ayres: Coroa pirocudo come ninfeta no iate - ela fala baixo e eu dou risada, sentindo o peso dela em cima de mim - Seu tigrinho foi um cruzamento de um tigre com um cavalo, porque puta que pariu, viu?
Eu: Até agora ele não mandou mensagem, espero não levar outro bolo - ela cai pro lado e eu fecho meus olhos, pegando meu celular na bancada ao lado - Tô esperando ele falar comigo, mas nem mexer no celular ele sabe.