Tiana
Humilhação, amargura, ódio, rancor e um pouquinho mais de ódio é o que eu tô sentindo agora.
Tô pensando na minha vida, minha mente tá revirada agora. Mas eu tô só pensando no meme que isso virou, tava brigando no meio da rua, achando que ia impressionar o dono do morro e no final ele não gostou da minha marra, ele raspou o meu cabelo. Só penso nisso, mas até agora nada dele raspar, só fica me olhando, tentando falar comigo, mas eu tô cheia do papinho furado dele.
Homem besta, fica atormentando os outros com essa calma irritante. Eu acabei de sair no tapa com a Deolane, aí ele vem me segurar, diz que vai raspar meu cabelo e depois quer conversar comigo? Eu que não converso, não suporto homem cheio de gracinha.
Homem besta.
Sanches: Qual foi o motivo da briga? - ele me deixa entre os braços dele e eu fico de braços cruzados, mexendo meus pés que não tocam no chão, por causa da moto alta - Agora não vai falar comigo? - eu volto a olhar na direção dele, encarando os olhos pretos, percebendo a lente, por causa do contorno azul - Fala pro Sanches, qual foi o motivo da briga?
Eu acho ele mais bonito de óculos do que com as lentes, são lentes sem cor, é como se fosse o olho natural mesmo. Mas prefiro os óculos.
Olho pra Deolane lá em cima, tá toda pintada de vermelho, a roupa dela era branca, não tinha cor em nada, agora ela parece aqueles pano vermelho pra atrair boi em vaquejada. Na hora, eu fiquei com pena, porque não foi proposital, mas agora? Agora eu tenho vontade de rir, vagabunda me chamou de tudo quanto era nome e ainda conseguiu me dar um tapa, porque o muro da laje virou e eu caí com a Ayres, fora isso foi só lapada nessa safada. Ainda tenho que ser ameaçada, pode tocar no meu cabelo, amo ele, mas também não morro de amores, só não quero que ele raspe o cabelo da Ayres.
Eu tô bem tranquila, só fico com pena da minha amiga, porque ela tá chorando desde que ele falou que ia raspar o nosso cabelo. Desde que eu conheço a Ayres, ela sempre teve cabelo liso, não gostava do cacheado e hoje ela ama esse cabelo, mas pelo visto vai perder. Se ajuda, eu pago as trancinhas com o dinheiro desse homem besta na minha frente.
Xx: Tiana rainha! Ayres rainha! - eu solto uma risada baixa, vendo um monte de gente gritando no meio da rua e a Deolane chorando lá na porta da minha casa - Liberdade pra Tiana e Ayres! Liberdade pra Tiana e Ayres! - eu levanto o polegar em agradecimento, ouvindo o Sanches soltar uma risada grossa, olhando pra baixo.
O Bacu segura o fuzil maior que a Ayres, soltando a mão dela, quando ele atira três vezes pra cima, fazendo todo mundo correr. Parece um formigueiro quando pisa nele, mas é só o chefe e os seus soldados. A Ayres continua chorando, eu olho com pena, vendo ela abraçar o Bacu, mas franzo meu rosto e seguro o riso, vendo ela piscar pra mim.
Eu: Eu já posso ir embora ou você vai ficar aqui me prendendo a troco de nada? - pergunto na calma, descruzando meus braços - Corta logo ou me deixa ir embora, mas não fica me segurando aqui, sendo que tu não vai fazer nada.
Sanches: Eu tô te perguntando o que aconteceu pra tomar uma decisão, mas tu não fala - ele fala sério, mantendo a mesma distância, ainda com os punhos em cada lado do meu corpo - Ainda tá de pé o corte, vai falar o que aconteceu ou quer continuar nesse joguinho de menina marrenta? Se quiser brincar, tu me avisa, tô com tempo ainda - ele olha pro relógio de ouro e eu franzo meu rosto, ouvindo a conversa desse macho.
Eu: Menina marrenta? - ele passa a língua no lábio inferior, soltando a respiração que traz o cheiro de maconha - Tu chegou na hora e viu o que aconteceu, aí quer me ouvir falar e não tá sabendo pedir, só pode ser isso - o olho dele diminui um pouco, mas ele não ri - Não vou ficar te adulando pra tu não cortar o meu cabelo, quer cortar? Pronto, já disse e repito, corte, porque eu tenho dinheiro pra comprar uma lace, botar um mega, comprar uma cabeça nova - ele confirma, soltando a risada dessa vez - Quer que eu explique como eu ganhei o dinheiro também? Tô com tempo.