Capítulo 11

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Sanches

Romana: A gente mora na Vila também, pode deixar na esquina do casarão, sabe onde é? - eu olho pra moreninha e confirmo, batendo o dedo no volante, girando pro lado em seguida - As três na mesma casa, tu tem outro destino?

Eu reduzo a velocidade e me aproximo do compartimento no meio do carro, me apoio no volante e procuro um chiclete, demora uns segundos e eu acho dois. Abro a embalagem, coloco na boca e olho pra ela, ficando calado até o melzinho de uva se espalhar pela minha boca.

As três no mesmo banco, uma em cima da outra e eu aqui. Se fosse em outros tempos, eu não recusaria, mas eu já tô velho demais pra essa putaria toda, sem contar o meu cansaço, tô morto mermo. Elas olham pra mim e eu nego com a cabeça, passando a mão pela pulseirinha de ouro no meu pulso, ouvindo o ronco do motor a cada acelerada que eu dou, fazendo o cabelo delas voar e a risada alta entrar na minha audição.

Natasha: Tá cansado mesmo, Sanches? - ela pergunta baixo e eu olho pro lado, fazendo jogo de luz pra contenção passar na frente - Nós três e você, tu não aguenta três?

Eu: Não aguento - falo baixo, mascando meu chiclete, vendo ela fazer bico e as outras duas ficam caladas - Sou devagar, pô, tô com nada mermo - ela nega com a cabeça e eu passo a mão no rosto, sentindo o vento forte - Sanches tá devagar tem tempo já.

Joguinho de desafio só funciona quando eu quero, não adianta querer me desafiar, se eu não tô na onda, comigo é pouco papo e eu só confirmo mermo. Sou ruim? Sou mermo, não transo direito, não faço porra nenhuma. Se todo mundo fosse assim, a vida seria mais leve, só confirmar e pronto, é paz.

Paro na casa azul claro, esperando elas saírem do carro, antes de sair, elas trocam beijo no rosto comigo, só a Natasha que me dá um selinho. Ela estreita os olhos e eu aponto com a cabeça, vendo os olhos claros me encarando desconfiado, mas eu não rendo assunto. Ela desce, ajeitando o biquíni no corpo e se vira de frente pra mim, falando comigo.

Natasha: Fiz alguma coisa contigo? - eu nego, abrindo a outra embalagem de chiclete - Então tá tudo certo, tenho medo de perder minha boquinha - ela faz gestos com o indicador e o polegar, aludindo a dinheiro - Meu patrocínio é todo teu, não me larga pelo amor de Deus - ela dá risada e eu estalo a língua no céu da boca, soltando uma risada fraca.

Eu: Já te deixei na mão alguma vez? - ela nega e eu dou ombros - Então, pô, vai lá, eu tô tranquilo.

Natasha: Tá mesmo, né? - eu confirmo e ela se inclina, me puxando pela corrente - Dá um beijo então - eu dou um beijo no cantinho da boca com gloss e me afasto, ouvindo a risada dela - Tchau, gostoso!

Ela sai e eu foco na parede de tinta velha. As rachaduras fazem trilha por todo o concreto, as linhas finas se alastram até o teto, se perdendo na cobertura do telhado um pouco envergado pra baixo. Passa um vento forte e a tinta se esfarela, fazendo o pozinho voar e uma crosta azul de tinta cair no chão, virando pó após o impacto com o chão de cimento. Eu olho pro chão, vendo a tinta toda esfarelada e o silêncio no meu ouvido, mas volto pra realidade ouvindo a buzina atrás de mim.

Eziel: Patrão, eu tô com fome - eu me viro por cima do ombro, vendo ele em cima da moto vermelha - Vai ficar aqui na Vila ou vai pra cobertura?

Eu: Vou pra minha casa aqui mermo, o Jacaré tá ocupado, né? - ele confirma, rodando o retrovisor da moto até tirar - Então, eu vou ficar por aqui, a cobertura só acessa com jatinho.

Leproso passa na frente, junto com o W7 e o Fontes, só tá comigo Papig e Eziel. Ligo meu carro de novo, vendo uma barata voando na direção de um buraco no meio da parede azul. As asas dela vibram no ar e se chocam com a parede velha, eu franzo meu rosto olhando e depois desvio, ouvindo o ronco do carro que eu acelerei sem perceber.

Por uma BucetaOnde histórias criam vida. Descubra agora